A Rebelião das Massas, livro de Ortega y Gasset examina o tipo de indivíduo social chamado homem-massa, que é o homem moderno. Este independente da sua origem, condição social e formação, caracteriza-se por ser um indivíduo que, sem ideias originais, se lança no senso comum.  Assim define Ortega y Gasset o homem-massa.
“É a qualidade comum, é o monstrengo social, é o homem na medida em que não se diferencia de outros homens, mas que repeti em si um tipo genérico. Massa é todo aquele que não valoriza a si mesmo – como bem ou como mal – por razões especiais, mas que se sente à vontade ao sentir-se idêntico aos outros.”
José Ortega y Gasset nasceu em Madrid em 1883, foi filósofo, ativista político e jornalista. Filho da aristocracia espanhola, foi autor de diversas obras de profunda reflexão sobre a sociedade europeia no início do século XX. Vivera épocas agitadas, marcada pelas transformações na Europa às véspera de uma grande e que a aristocracia ameaçava ruir. Este declínio tinha como causa o homem comum. O homem-massa estava em todos os lugares e poucos homens restavam na Europa capazes de mudar  cenários tão nebulosos.
“Por toda a parte surgiu o homem-massa de que este volume se ocupa, um tipo de homem feito à pressa, montado apenas sobre umas e quantas pobres abstrações e que, por isso mesmo, é idêntico de uma ponta à outra da Europa. A ele se deve o triste aspecto da monotonia asfixiante que a vida vai tomando em todo o continente. Este homem massa é o homem previamente esvaziado da sua própria história, sem entranhas de passado e, por isso mesmo, dócil a todas as disciplinas chamadas internacionais. “

“Não se entenda, pois, por massas só, nem principalmente, as massas operárias. Massas é o homem médio. Deste modo se converte o que era meramente quantidade – a multidão – numa determinação social, é o homem na medida em que não se diferencia dos outros homens, mas que repete em si um tipo genérico.”

Há diferença do homem de hoje para o homem de Gasset? Como não reconhecer e lamentar nos dias atuais o homem-massa europeu, americano, africano, asiático, árabe e muitos outros com as características abaixo descritas por Gasset? Vivemos assim hoje. Sentimo-nos seguros porque temos carro, casa, emprego, filhos estudando, poupamos para as férias e para o novo iphone. No final de semana tem o futebol, praia e a cervejinha gelada. Entendemos de política tão bem como entendemos de futebol e carnaval. Mais homem-massa que isso impossível.

E é indubitável que a divisão mais radical que cabe fazer da humanidade é esta de dividi-la em duas classes de criaturas: as que exigem de si e acumulam sobre si mesmos dificuldades e deveres, e as que não exigem de si nada de especial, pois para elas viver é ser em cada instante o que já são, sem esforço de perfeição em si mesmas, boias que andam à deriva.”

Enfim, ler Ortega y Gasset leva-nos a olhar de fora da nossa ignorância mirando fundo nossas entranhas carcomidas por um sistema que como um câncer nos mata lentamente. Mas por sorte os pensamentos geniais se eternizam em obras como esta que tem um papel importante de nos fazer pensar, e pensar bem.