No passado me fascinava a ideia de um mundo igual para todos. Um mundo onde não houvesse diferenças sociais, sobretudo raciais e que a tolerância e a diversidade fossem a bandeira de todos numa sociedade igualitária.

As observações e reflexões da vida fazem com que hajam mudanças de opinião em pensamentos outrora enraizados em nós.

É difícil continuar com utopias depois de olhar no que se tornou a humanidade nos últimos 100 anos e para onde ela indica estar indo.

Quando adolescente ouvia os mais velhos falarem sobre “ser de esquerda” com tanta paixão que as promessas do paraíso pareciam  fazer sentido. O tempo passou e os meus heróis foram caindo e eu sem uma “ideologia para viver” de preferência que pudesse salvar a humanidade.

Mas nada melhor para o despertar do espírito que buscar no passado uma sustentação para continuar lutando por aquilo que acreditamos, ou tomar outro rumo, se assim permitirem o orgulho e a vaidade.

Marx, Rousseau, Engel outrora meus heróis por influência dos adultos e não por leituras sobre suas histórias e ideologias, tiveram suas faces reveladas por aqueles que os apresentaram-me. Descobri, que o mundo não era o de Alice. A vantagem de ser jovem é que quando um sonho se desfaz, passados os soluços, rapidamente se constrói outro.

Ao ler Por que Virei a Direita que contém as reflexões de João Coutinho, Felipe Pondé e Denis Rosenfield, pensadores da direita cujas ideias conservadoras mantenho simpatia, foi que me vieram estas reflexões. Sendo assim, creio que sempre fui um direitista, que se encantou com a esquerda: um amor de verão.

Já foi o tempo em que no Brasil se discutia esquerda e direita com idealismo, paixão e inteligência. Hoje parece que todo mundo anda de lado, como se carregasse um terrível fardo do lado esquerdo.

O livro em questão é um bom caminho para se pensar sobre esta dicotomia. O prefácio por Marcelo Consentino traduz bem o meu sentimento de direita:

“A crítica radical aos movimentos revolucionários de esquerda é que, em sua revolta contra Deus e o mundo – literalmente -, quisera fazer as vezes de Deus e transformar o mundo num paraíso, acabando por precipitá-lo no inferno.” – Marcelo Consentino

“”Conservadorismo” e “progressismos” emergem patentemente dos impulsos biológicos primários de preservação e procriação, de adaptação ao meio e transformação do meio. Se o primeiro carrega em si toda a conotação de enraizamento, aprofundamento, continuidade e, no limite extremo, endurecimento, isolamento e estagnação, o segundo sugere movimentação, expansão, aceleração e, no limite, ruptura, errância, dissipação…”– Marcelo Consentino

“Enfim, posicionar-se à direita no Brasil de hoje é, tecnicamente, um ato de subversão e contracultura”. – Marcelo Consentino

“Quimeras a parte, os ideais mais nobres e universais do imaginário de esquerda são bastante evidentes: a crítica ao individualismo aliada à valorização do bem comum; o desejo de inclusão social e erradicação imediata de toda miséria; a luta pela igualdade de direitos e condições; a defesa e a solidariedade às minorias e aos desfavorecidos. É igualmente inegável que, na prática, uma grande quantidade dos movimentos de esquerda foi e é responsável pela ascensão dos baixos estratos sociais que até então permaneciam mais passivos do que ativos na vida pública… Há algo como uma esquerda perversa e uma direita podre – ou vice-versa… Há enfim, um ponto que é preciso dizer Não.” – Marcelo Consentino

João Coutinho

” Há direitas e direitas. Um esquerdista moderado é preferível a um direitista reacionário que procura recriar no presente um estado de perfeição que ele acredita ter existido no passado.”

“Reformar é estudar; estudar é distinguir o que merece ser preservado do que merece ser alterado.”

“Por isso proponho: direita e esquerda é conversa posterior. Primeiro, é preciso acertar os ponteiros do relógio ideológico.”

“A política da fé entende que a atividade do governo visa à busca da perfeição da humanidade – uma perfeição terrena, que dependerá exclusivamente do esforço e da razão humanos. A política do ceticismo, ao contrário, entende o governo não como uma entidade benigna, ou perfectibilista, mas necessária.”

“É a utopia política que repugna, e não o impulso criativo, estético, literário de imaginar e sonhar com um mundo melhor.”

“O problema do pensamento utópico não está apenas na arrogância do racionalismo; está na crença infantil, e obviamente falaciosa, de que as pessoas são uniformes.” Filipe Ponde

“É o que diz Russel Kirk sobre o fim da universidade: a partir de certo momento, a universidade se tornou foco de gente sem posses que quer ascender socialmente por meio de uma carreira acadêmica e, por isso, já não se importa com o que pensa, contanto que ganhe um bom salário e tenha a garantia de emprego. A universidade hoje é um dos lugares de maior miséria intelectual que conheço.”

“Burker, assim como Pascal e os jansenistas, percebeu que a modernidade faria uma opção por negar as misérias humanas em favor de nossa vaidade. A esquerda é o nome dessa opção. “

“Para mim a consistência dos homens conservadores está no pessimismo dele com relação ao homem e à estrutura da vida e do mundo.”

“Entendo a bíblia como um livro que descreve a condição humana e suas agonias. De cara, mito da queda aponta o lugar dessa agonia: a inveja de Deus e o orgulho como negação neurótica dessa inveja.”

” Orgulho é a mentira essencial que estrutura nosso caráter, os seja, a tentativa de negar o vazio ontológico que nos constitui.”

“A afirmação de que os seres humanos são iguais é uma farsa, por isso serei redundante para fazer disso uma máxima: alguns poucos são melhores e carregam o mundo nas costas, enquanto os outros apenas se aproveitam, como diria Ayn Rand, que nada tinha de cristã e era ateia convicta.”

“Toda atividade do homem está empenhada em diatraí-lo, ou seja, está a serviço dessa fuga monótona e interminável de si mesmo. A idéia de uma transformação política do homem, no a molde da herança rosseauniana, sempre esbarrara nesse muro de Infelicidade escondida.”

” A relação entre fanatismo da razão – com suas engenharias sociais, políticas e morais – e fanatismo religioso foi para mim uma intuição central e está no coração do conservadorismo cético do humeano Oakeshott, já no seculo XX.”

” O homem da democracia lê pouco, é generalista, pergunta para a pessoa ao lado e adota como verdade o que a maioria diz, trocando conhecimento pela opinião pública. Em Tocqueville, há claramente a suspeita de que essa maioria tende à estupidez justificada politicamente (a soberania é popular).”

“A democracia estimula em todos a crença nas próprias opiniões (versão medíocre de “penso logo existo”; de Descartes), porque faz todo mundo capaz de igualmente emitir opinião sobre tudo. Mas sabemos que não construímos nossas opiniões a partir de nos mesmos, e sim de uma longa teia ancestral de ideias, práticas morais e afetos.”

“Se acentuado a liberdade, ampliamos a criatividade humana, mas também as diferenças entre as pessoas. Se acentuado a igualdade, elevamos a taxa da mediocridade na sociedade – dai o amor da igualdade pela mediocridade.”

“Quem governa deve suspeitar das próprias ideias sobre o mundo é ser um intermediário entre os fluxos da vida da sociedade, e não se tornar um formador moral desta.”

“Amar a humanidade é muito difícil; o mau-caráter acha uma saída a esse impasse amando a humanidade abstrata, fingindo-se de bom.”

“A esquerda é abstrata e mau-caráter porque nega a realidade histórica humana a fim de construir o seu domínio sobre o mundo. Vende elogios ao homem para assim tê-lo como um retardado mental a seu serviço. A esquerda é puro marketing. No fundo, não passa de autoajuda. Denis Rosenfield

“Outra mostra bastante eloquente das ideias dessa esquerda está na qualificação que fazem do socialismo do século XXI como democrático. O jogo com as palavras não conhece aqui mas nenhum limite, pois tal socialismo não passa de uma repetição, em novos moldes, do comunismo do século XXI. Só não vê quem não quer.”

“O que esses grupos políticos pretendem, sob a bandeira da proclamada democratização dos meios de comunicação, é pô em prática um projeto de subversão da democracia por meios democráticos.”