O poder vem mudando de mãos rapidamente nos dois últimos séculos. É esta a conclusão de Moisés Naím em seu livro “O Fim do Poder”. Grandes corporações veem seus poderes reduzidos frente à atitude de pequenas empresas leves e rápidas. Eleições presidenciais sendo decididas nas redes sociais, assim como o destino de muitas nações. Grandes governos e gigantes empresariais, já não possuem os mesmos domínios globais e influências que tinham antes. O poder que até o final do século XX detivera o controle mundial dos destinos das nações, na época concentrado nas mãos de poucos, cede espaço para um novo tipo de poder que o autor chama de micro-poderes.

O micro-poder se apoia em fenômenos sociais que Moisés Naim identificou como três revoluções: a revolução do mais, a revolução da mobilidade e a revolução da mentalidade, que graças às tecnologias que conectam tudo a todos, sobretudo a Internet, causou um grande choque no mundo que levou a queda de várias forma de governo, mudanças de regimes políticos, mudanças na mentalidades das grandes organizações e mais transparência dos governos entre tantas outras mudanças.

Hoje um cidadão com um celular e acesso a Internet pode derrubar governantes, empresas, fazer surgir líderes carismáticos e muito mais. Este movimento mundial dos mais fracos, na linguagem de Naím é o micro-poder. O autor esclarece que “os mais fracos” não se refere somente ao povo, mas todo aquilo que se encontra sob o domínio de grupos poderoso, nesta caso países, empresas, governos, artistas entre outros grupos.

O Fim do Poder é uma leitura interessante para aqueles que desejam compreender o poder de forma geral nos séculos XIX, XX e XI. É também um sinalizador que indica um futuro sem a concentração de poderes absolutos sob o domínios de poucos, e o surgimento de um governo mundial baseados nas rede sociais.

São muitas reflexões a respeito, como mostram os textos abaixo extraídos do livro de Naím.

“Um dilema similar é o que enfrentam os empresários, anunciantes e qualquer outra pessoa que tente conseguir apoio ou vender os seus produtos em comunidades onde os interesses e preferências estejam mudando, fragmentando-se e ficando mais diversificado. Quanto mais diminui a vantagem do tamanho e da escala, mais o marketing de nicho e a campanha política focada numa única questão, por exemplo, se mostram mais vantajoso. Como resultado, cada vez mais as grandes corporações estão sendo obrigadas pelas forças do mercado e pelas ações de outros rivais menores a se comportar como empresas de nicho – algo que não é natural para organizações há muito tempo acostumadas a confiar no poder esmagador da sua grande escala.”

“A imagem de Gulliver, amarrado ao chão por milhares de minúsculos liliputianos, capta bem a imagem dos governos destes tempos: gigantes paralisados por uma multiplicidades micro-poderes. “

Naím mostra que pequenos atores surgem o tempo todo e ameaçam o poder maior e suas bases teóricas esculpidas no passado. Elas não resistem.

“[…] política, na sóbria visão de Max Weber, era uma vocação – uma habilidade que os políticos aspiravam dominar e que exigia disciplina, um conjunto de traços de caráter e considerável esforço. Mas conforme a classe política padrão na maioria dos países perde credibilidade popular, intrusos como tiranos obtém cada vez mais sucesso.”

Para Moisés, o mundo nunca foi tão democrático como hoje. Segundo o próprio, a revolução do mais, é uma das causas desta crescente onda de governos democráticos. Moisés afirma que está é a terceira onda e que ela foi causada por fatores que não existia antes em que tinha grandes poderes. Veio de fora para dentro.

“O que causou está revolução global? Obviamente havia fatores locais em ação, mas Samuel Huntington assinalou também algumas potentes forças atuantes. Este aponta a má administração pública, a ascensão da classe média, apoio aos governos reformistas por parte de governos e ativistas ocidentais, incentivos para países entrar para a democracia como incorporação a Otan ou a União Europeia, e ainda, a participação da igreja católica como ativista política.”

“Acima de tudo, experiências bem sucedidas puxavam outras experiências, num processo que foi acelerado pelo novo alcance e velocidade dos meios de comunicação de massa”. Conclui Naím.

Tudo isso também teve o impulso de uma outra revolução chamada por ele de revolução da mentalidade. Esta traduz – se pela mudança de atitudes das pessoas e instituições diante a de políticas autoritárias, corrupção. O povo não mais se cala.

O poder antes em mãos de uma minoria que mantinha o controle de todos os meios de comunicação, hoje divide este poder com qualquer um que tenha carisma e saiba usar as mídias sociais para manifestar suas indignações e ganhar milhões de seguidores. É o que nos mostra o Moisés ao citar exemplos de pessoas em diversos países que ganharam notoriedade e poder saindo do anonimato em pouco tempo.

“Esses são apenas alguns dos exemplos pioneiros de uma tendência que hoje é muita conhecida e faz parte inevitável da dinâmica num número crescente de países: o uso de rede sociais para mobilizar e coordenar grandes grupos de ativista em torno de uma causa, sem necessidade de depender ou até mesmo de envolver os agrupamento político de sempre.” Observa Naím.