Desde a primeira vez que o homem, por não encontrar respostas para os sons que vinham das profundezas da terras e da imensidão dos céus, atribui esses fenômenos naturais a causas sobrenaturais, que a humanidade vem se digladiando por causa de crença em entidades superiores a nossa imagem e semelhança.
Pois bem , atualmente existem duas correntes que disputam o pedestal da razão para provar suas certezas. Ateus e Religiosos nunca na história do mundo se confrontaram tanto como agora. De um lados os ateus com suas “crenças” na finitude legitimada pelas idéias racionais em que não se deve acreditar em nada que não tenha uma explicação científica, e do outro lado os religiosos que baseiam a sua razão de ser na existência de um Deus pessoal que é todo amor.
Enquanto ateus convictos como Richard Dawkins e Michiel Onfray são os baluartes da razão em detrimento da fé; e John Lennox e William Lane Craig defendem com espírito espartano suas crenças religiosas, existem ateus que não vê mal nenhum nas religiões. Alain de Botton, escritor e filósofo suíço, em seu livro “Religião para Ateus” esclarece muitos fatos sobre a necessidade dos ateus utilizarem a religião como uma doutrina humanista.
As reflexões de Botton são reveladoras e mexem com a cabeça do leitor, pois que o livro foi escrito por um ateu e que demonstra em todas as páginas que “é ateus graças a Deus”, ao contrário das obras de Richard Dawkins e de Michel Ofray, não busca provar que Deus não existe e que a “religião é o ópio do povo” como dissera Carl Max. Entrementes, revela que a religião quando vista pelo ensinamentos humanistas é um alicerce das virtudes do homem. Alain de Botton esclarece: “[…] este livro não tenta fazer justiça a religiões particulares; elas contam com seus próprios defensores. Em vez disso, ele tenta examinar aspectos da vida religiosa com conceitos que poderiam proveitosamente ser aplicados aos problemas da sociedade secular.”
Fica claro que o autor não é um ateu arrependido, mas que procura, diante das fragilidades humana como ele mesmo expressa “as religiões são sábias ao não esperar que lidemos sozinhos com todas as nossas emoções. Sabem como podem ser confuso e humilhante admitir desespero, luxúria, inveja ou egomania. Compreende a dificuldade que temos para encontrar a maneira de dizer a mãe, sem ajuda, que estamos furioso com ela, ao filo que o invejamos ou ao futuro” cônjuge que a ideia de casamento assusta tanto quanto alegra”, o conforto que somente a religião, independente do deus que a representa, pode dar.
O autor reforça a idéia da necessidade da religião em nossas vidas, e alerta quanto o objetivo do livro quando expressa “[…] a real questão não é se Deus existe ou não, mas para onde levar a discussão ao se concluir que ele evidentemente não existe. A premissa deste livro é que deve ser possível manter-se como um ateu resoluto e, não obstante, esporadicamente considerar as religiões úteis, interessantes, reconfortantes – e ter uma curiosidade quanto às possibilidades de trazer algumas de suas ideias e práticas para o campo secular” e até explica porque criamos as religiões “[…]inventamos as religiões para servirem a duas necessidades centrais[…] que a sociedade secular não foi capaz de resolver por meio de nenhuma habilidade especial: primeiro, a necessidade de viver juntos em comunidades e em harmonia apesar dos nossos impulsos egoístas, e violentos profundamente enraizados. E, segundo, a necessidade de lidar com aterrorizante graus de dor, que surgem da nossa vulnerabilidade ao fracasso profissional, a relacionamentos problemáticos, à morte de entes querido e a nossa decadência e morte[…]”
O livro é dividido em capítulos que versam sobre temas do cotidiano e um, em particular, me chamou a atenção: Educação. Neste capítulo Botton faz uma interessante abordagem sobre a educação e os ensinos religiosos onde ele tenta explicar que as universidades tem um grande problema para transmitir os saberes da vida. Pelo contrário, apenas se preocupam em transmitir informações, formar profissionais. Ele cita John Stuart Mill “o propósito das universidades não é produzir advogados, médicos ou engenheiros competentes. É criar seres humanos, capaz e cultos” para ratificar a importância dos métodos utilizados pelos pregadores religiosos que fazem com que os seguidores absorvam o máximo dos ensinamentos não só com o cérebro, mas também e principalmente com o coração.
Eu acredito, assim como Botton, no tocante a educação, que a forma das universidades construírem pessoas capazes e culta, como dissera Mill, está equivocada e precisa urgente preparar os docentes para transmitir sabedoria para seus alunos e não transformá-los em enciclopédias para engordar currículo. Mas isto é uma outra história… uma outra resenha.
Algumas reflexões do livro:
“Como vítima do sofrimento, frequentemente não trazemos À tona aquilo que nos aflige, porque muitas feridas parecem absurdas à luz do dia.” – Alain de Botton
“As religiões são sábias ao não esperar que lidemos sozinhos com todas as nossas emoções.” -Alain de Botton
“Estamos fartos de ser deixados à vontade para fazer o que quisermos sem dispor de sabedoria suficiente para explorar a nossa liberdade.” – Alain de Botton
“A universidade moderna parece ter muito pouco interesse em ensinar aos alunos quaisquer aptidões emocionais ou éticas, para não falar em como não amar os vizinhos e deixar o mundo mais feliz do que quando o encontrou.” – Alain de Botton
“A educação secular fornece aulas, o cristianismo, sermões.” – Alain de Botton
“As religiões compreendem o valor de exercitar a mente com um rigor que estamos acostumados a aplicar apenas ao treinamento do corpo.” Alain de Botton
“[…] porque o momento em que alguém explode (chora) não costuma ser quando as coisas estão duras, mas quando afinal encontram ternura e uma chance de admitir tristezas nutridas em silêncio por muito tempo.” – Alain de Botton
“As religiões são intermitentemente úteis, eficazes e inteligentes demais para ser deixadas somente para religiosos.” Alain de Botton
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