Nas últimas duas décadas, estamos presenciando uma das piores crises na política brasileira. Nunca se viu tantos casos de corrupção em tão pouco tempo. O que está havendo com a honestidade do brasileiro? É verdade que nunca a corrupção foi tão combatida pelos órgãos competentes e pelos cidadãos. Da mesma maneira, pela primeira vez na nossa história, gracas a internet, temos acesso a informações que se fosse a 30 ou 50 anos não seria possível.
Nos indignamos com o noticiário, ficamos revoltados com a impunidade, direcionamos toda a nossa fúria para os criminosos de colarinho branco. Mas, há um detalhe importante que não pode passar em brancas nuvens: é fácil demonizar os políticos, mas eles cometeram os mesmos erros que cometemos em pequenas atitudes do cotidianos que nos revelam tão corruptos quanto. Não há medidas para a honestidade.
Há no Brasil uma ideia perniciosa que se propaga por todas as classes sociais: a do “jeitinho brasileiro”. Em nome desse jeitinho cometemos os maiores desatinos que nos colocam no altar da desonestidade.
Furamos filas, ocupamos as vaga dos idosos nos estacionamentos ou ônibus, damos desculpas esfarrapadas por termos invadidos o sinal de trânsito, estacionamos em lugares proibidos, subornamos e somos subornados e assim vai horizonte a fora. Pequenos delitos perfeitamente justificados e legitimados pelas nossas urgências. Os exemplos são assustadoramente numerosos, evidenciando que há um mal crônico no comportamento do brasileiro desde a época do Brasil Império.
Em seu livro A Cabeça do Brasileiro, Alberto Carlos Almeida reflete sobre esta patologia e se vale de pesquisas minuciosas para representar em números, gráficos e tabelas o maior mal do brasileiro.
No livro, Almeida alerta para a existência de dois brasis separados pela formação educacional da população e defende que o nível de escolaridade é fator preponderante para acabar com o “jeitinho brasileiro” na nossa cultura.
“O Brasil, na verdade, são dois países muito distintos em mentalidade. Dois países separados, num verdadeiro apartheid cultural. […] O que esta em jogo são valores em conflito, e por conseguinte, uma sociedade em conflito. Enquanto a classe baixa defende valores que tendem lentamente a morrer ou a se enfraquecer, a classe alta mantém-se alinhada a muitos dos princípios sociais dominantes nos países já desenvolvidos.”
“Não há um lado certo e outro errado. Há, sim, um lado dominante em lenta erosão, o das classes baixas -, e outro ainda pouco presente, mas que tende a se fortalecer à medida que a escolaridade média da população aumentar.”
E conclui:
“No entanto, como a maior parte da população brasileira tem escolaridade baixa, pode-se afirmar que o Brasil é arcaico. Assim, a mentalidade de grande parte de sua população obedecerá às seguintes características:
apóia o “jeitinho brasileiro”;
é hierárquico;
é patrimonialista;
é fatalista;
não confia nos amigos;
não tem espírito público;
defende a “lei de Talião”;
é contra o liberalismo sexual;
é a favor de mais intervenção do Estado na economia;
é a favor da censura;
Obvio, não?”
Almeida abre um capítulo para cada características e as explica em quadros estatísticos comprovando os fatos.
A conclusão que se chega é que o Brasil terá grandes dificuldades em crescer eticamente se não acabar com o jeito do “bom malandro”.
Alberto Carlos Almeida é escritor e professor. O livro A Cabeça do Brasileiro foi lançado em 2015 pela editora Record.
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