Felipe Pondé em “A Era do Ressentimento” nos alerta sobre o ressentimento e o narcisismo que tomaram conta da humanidade e transformaram nossas vidas em meros espelhos de sentimentalismo barato. Isto resulta numa geração de “mimimis”, gente que adora transformar sua dor numa apoteose e que faz da dor alheia um espetáculo. Afinal, exibir nossas entranhas publicamente às pessoas que estão mais interessadas nas desgraças alheias por curiosidade e por compensação dos seus próprios sofrimentos, do que real preocupação com os problemas alheios, tornou-se um coisa normal. Aqueles que assim se expõem em busca de um flash, deveriam fazer reflexões sobre os problemas pessoais e resolve-los sem publicidade, afinal os problemas são seus e não dos outros.
“A apropriação do sofrimento alheio para ampliar a escala e a importância do sofrimento próprios é hoje um lugar comum.”
Dalrymple
As pessoas se ofendem com qualquer coisa e por qualquer coisa fazem “biquinhos”, mas não se importam em terem suas vidas escancaradas por programas de tv que devoram as entranhas de suas vítimas e as vomitam para um público não menos faminto.
É sobre esta realidade, e tomando os britânicos como exemplo,e com o olhar afiado como bisturi que Theodore Dalrymple analisa em seu livro Podres de Mimados – As consequências do sentimentalismo tóxico, aquilo que ele chama de sentimentalismo que envenena à sociedade britânica, mas que reflete uma realidade em todo o mundo.
O autor identifica às escolas como o meio preparatório para o sentimentalismo tóxico. Explica que as escolas no século XX foram impregnadas de romantismo e sentimentalismo que tiveram origem no pensamento iluminista que deu origem às idéias de pensadores como: Pestalozzi, Maria Montessori, John Dewey, Rousseau e Friedrich Froebel e tantos outros responsáveis por um sistema de ensino que prega que brincadeiras e auto-descobertas eram essenciais para a evolução da criança quanto indivíduo, em detrimento a hierarquia e autoridade do professor e ao ensino do conhecimento por si.
Neste contexto, Dalrymple alerta que esta doutrinação, tende a longo prazo a construir uma geração de mimados:
“Anos depois, é comum que se pense que ter uma opinião sobre um assunto, algo que é ativo, é mais importante do que ter qualquer informação sobre aquele assunto, algo que é passivo, que a veemência (sentimento) com que se sustenta uma opinião é mais importante do que os fatos (conhecimento) em que ela se baseia.”
e completa:
“O sentimentalismo é o aliado da megalomania e da corrupção. O calor confortante e gratuito do sentimento é um fim em si mesmo, uma mera muleta para a autoestrada.”
Dalrymple se refere a corrupção dos sentidos, da pureza e da verdade em função de uma sociedade de politicamente corretos que no fundo leva ao individualismo do “eu” pelo “eu” e que cobre com verniz social as nossas fraquezas e expõe virtudes que não são nossas, que não acreditamos de fato.
“Insinuar a mentes jovens que a história humana tem sido e não é nada mais que isto, um conflito entre vítima e perpetradores, entre oprimidos e opressores, entre o bem e o mal, é fazer com que seja improvável que eles desenvolvam aquele senso de proporções sem o qual a informação não passa de uma forma superior de ignorância.”
Como sempre, sem meias palavras e sempre indo direto ao ponto, Dalrymple analisa a sociedade moderna e revela os caminhos tortuosos e lamacentos que estamos trilhando.
Podres de Mimados foi lançado em 2011, e no Brasil, publicado pela É Realizações Editora e traduzido por Pedro Sette-Câmara e prefácio de Luiz Felipe Pondé.
O britânico Thedore Darlrymple (pseudônimo para Anthony Daniels) é psiquiatra e autor de outros livros sobre o cotidiano da sociedade britânica.
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