O livro O Fim da História e o Último Homem de Fukuyama destaca a ideia de que com a queda do socialismo no final do anos 1990 encerra-se o último passo do homem na história e consequentemente o fim desta. Francis Fukuyama mostra neste livro que a utopia do novo mundo e a crença no homem perfeito a imagem e semelhança das sombras desenhadas nas mentes dos intelectuais de esquerda foram aniquiladas pelo despertar da consciência capitalista nos fins do século XX.
No início do século XXI o mundo via ressurgir das cinzas da utopia socialista, uma China pintada com as cores do capitalismo, um rugir poderoso dos tigres asiáticos como os de Cingapura, Coréia do Sul, Hong Kong e Japão que emergiam do estado medieval. Isto ocorria enquanto URRS desaparecia deixando para trás uma história de sangue e destruição e um legado que ainda causaria muitas desgracas.
Para a esquerda, Fukuyama nada disse de novo em seu livro além de fazer discurso em defesa do capitalismo. Mas para a economia e a política globalizadas Fukuyama é uma espécie de profeta. Algumas das suas reflexões abaixo são reveladoras:
“O pessimismo dos nossos dias, no que se refere à possibilidade de progresso na história, nasceu de duas crises separadas, mas paralelas: a crise da política do século XX e a crise intelectual do racionalismo ocidental; A primeira matou dezenas de milhões de pessoas e obrigou centenas de milhões a viverem sob formas novas e mais brutais de escravidão; a segunda privou a democracia liberal dos recursos intelectuais para a própria defesa.”
“Os eventos traumáticos do século XX formaram a cena de ‘fundo de uma profunda crise intelectual. Só podemos falar de progresso histórico quando sabemos para onde se encaminha a humanidade. A maioria dos europeus do século XIX pensava que progresso significava progresso na direção da democracia. Mas durante a maior parte deste século não se chegou a um consenso sobre o assunto.”
“As mentes mais moderadas e sérias deste século não vêem razão para pensar que o mundo caminha para o que nós no Ocidente consideramos instituições políticas e humanitárias – ou seja, a democracia liberal.”
” A crise atual do autoritarismo não começou com a perestroika de Gorbachev ou com a queda do Muro de Berlim. Começou há mais de uma década e meia com a queda de uma série de governos autoritários de direita no Sul da Europa.”
“Numa democracia liberal o Estado é, por definição, fraco: a preservação de uma esfera de direitos individuais significa uma delimitação nítida do poder do Estado.”
“A fraqueza crucial que ocasionou a queda desses Estados fortes foi, em última análise, a falta de legitimidade -ou seja, uma crise no nível das idéias.”
“Quando falamos em crise de legitimidade no sistema autoritário, então, estamos falando de uma crise dentro dessas elites cuja coesão é essencial para que o regime possa agir efetivamente.”
“Podemos dizer que o fascismo sofria de uma contradição interna: sua ênfase no militarismo e na guerra levou inevitavelmente a um conflito autodestrutivo com o sistema internacional. Como resultado, não chegou a ser um sério competidor ideológico da democracia liberal desde o fim da Segunda Guerra Mundial.”
“Depois da derrota de Hitler, o que restou à Direita como alternativa à democracia liberal foi um grupo de persistentes, mas afinal não sistemáticas, ditaduras militares.”
“O General Francisco Franco foi, sob muitos aspectos, o último expoente do conservadorismo europeu do século XIX, que tinha como base o trono e o altar, o mesmo conservadorismo derrotado pela Revolução Francesa.”
“Desse modo, a perda de legitimidade do sistema do apartheid entre os brancos teve como causa principal sua ineficiência, e levou à aceitação por parte de uma maioria de africânderes de um novo sistema de poder partilhado com os negros.”
“No Brasil, os militares governaram durante um periodo de notável crescimento econômico, de 1968 a 1973, porém, com a crise mundial do petróleo e a queda da produção industrial, os governantes militares descobriram que não tinham talento especial para a administração econômica. Quando o último presidente militar, João Figueiredo, deixou 0 poder em favor de um presidente civil eleito, muitos militares respiraram aliviados e se sentiram até mesmo envergonhados dos erros cometidos.”
“O apartheid foi um esforço para permitir o desenvolvimento industrial da África do Sul baseado no uso da mão-de-obra negra enquanto ao mesmo tempo procurava reverter e impedir a urbanização dos negros sul-africanos, que é o fator concomitante natural de qualquer processo de industrialização. “
“Desse modo, a perda de legitimidade do sistema do apartheid entre os brancos teve como causa principal sua ineficiência, e levou à aceitação por parte de uma maioria de africânderes de um novo sistema de poder partilhado com os negros.”
“O Estado totalitário pretendia refazer o próprio homem soviético, mudando a estrutura das suas crenças e valores por meio do controle da imprensa, da educação e da propaganda.”
“Como então foram desmentidas as expectativas anteriores, e o que explica as fraquezas extraordinárias desse Estado forte, reveladas para nós desde a perestmika? A fraqueza mais básica, cuja gravidade escapou à atenção dos observadores ocidentais, foi econômica.”
“Para compreender as verdadeiras fraquezas do Estado soviético, então, o problema econômico deve ser situado no contexto de uma crise muito maior, a crise da legitimidade do sistema como um todo. O fracasso econômico foi apenas um entre os muitos fracassos do sistema soviético, que teve o efeito de catalisar a rejeição do sistema de crenças e expor a fraqueza da estrutura subjacente. O fracasso fundamental do totalitarismo foi sua incapacidade de controlar o pensamento. Os cidadãos soviéticos demonstraram que durante todo o tempo haviam conservado a capacidade de pensar por eles mesmos.”
“Tem-se argumentado que, embora o comunismo esteja morto, está sendo rapidamente substituído por um nacionalismo intolerante e agressivo. Seria prematuro comemorar a morte do governo forte -diz o argumento –, pois onde o comunismo totalitário não conseguir sobreviver será simplesmente substituído pelo nacionalismo autoritário, ou talvez até mesmo por um fascismo de extração russa ou sérvia.”
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