Para aqueles que criticam o pensamento conservador sem conhecer os seus princípios, existem excelentes livros que podem conduzi-los a uma crítica embasada em leituras de obras, cujos autores, foram responsáveis por defender e aprimorar o pensamento conservador desde Edmund Burke (1729-1797), considerado o fundador do conservadorismo clássico. Um bom caminho para quem deseja conhecer como é formado o pensamento conservador é ler o livro “10 Livros que todo Conservador deve ler” de Benjamin Wiker, que sugere quatorze livros que contém as mais importantes trajetórias do conservadorismo.
No Brasil existem muitos equívocos sobre o conservadorismo, principalmente entre as pessoas que não fazem parte do mundo acadêmico, que por falta de acesso a uma literatura fiel aos princípios da doutrina conservadora, são enganadas por quem defende o pensamento de esquerda, que através da veiculação de ideias, associam o conservadorismo às elites e à ditadura militar e, atualmente, ao fascismo.
Segundo o pensamento progressista, o conservador é aquele indivíduo retrógrado, sisudo, preconceituoso, inimigo do progresso, reacionário e muitos outros adjetivos sinônimos de atraso social e intelectual. Este julgamento, ele próprio preconceituoso, demonstra apenas que a maioria dos brasileiros não sabe o que é conservadorismo. Para desconstruir esta crença, é necessário conhecer os princípios do pensamento conservador. Sendo assim, não há caminhos melhores a leitura de obras que representam a essência do conservadorismo.
Nesse contexto, Wiker discorre sobre cinco livros que ele define, entre outros, como a base do conservadorismo: “A Política” de Aristóteles, “Ortodoxia” de Chesterton, “A Nova Ciência da Política” de Eric Voegelin e “A Abolição do Homem” de C. S. Lewis. Estes livros contém as idéias que defendem o indivíduo, a família, a propriedade e a religião como os alicerces que sustentam o pensamento conservador. Wiker argumenta que estes livros são repletos de significados e que apesar das mudanças pela qual vem passando a contemporaneidade, a sua base histórica e filosófica se mantém preservada. Por isto Wiker assevera que “o conservadorismo é uma filosofia política perene e, seu texto fundador é A Política de Aristóteles.”
Sobre estes cinco primeiros livros tratados em sua obra, Wiker explica porque as idéias desses grandes pensadores tem tanta importância para a continuidade do pensamento conservador. Um dos exemplos que representam, na visão de Wiker, esta continuidade é o pensamento de Chesterton:
“Para Chesterton devemos humildemente e com gratidão aceitar as coisas como nós as encontramos e aceitar os mistérios invés de tentar negá-lo com uma teoria totalmente, lúcida mais simplista.”
Assim, estão compreendidas nas ideias de Chesterton, os princípios fundamentais do conservadorismo. Wiker explica que para Voegelin, o homem possui valores morais que são extraídos de uma realidade transcendental e que a política é um meio de expressar a nossa relação com Deus. Desta forma, Voegelin coaduna com Chesterton que o espírito conservador está sustentado em Deus e na aceitação, por nós, da sua vontade.
“Nossa vida política deve representar nossa plena humanidade e reconhecer que o homem “se encontra aberto para a realidade transcendental”, que ele encontra “sua verdadeira natureza através da constatação de sua verdadeira relação com Deus.”
Segundo Wiker, em “A Abolição do Homem”, de Lewis, a soberba do homem diante do poder adquirido pelo domínio das tecnologias, será também a sua derrocada. Mas adverte que pode significar o fim do conservadorismo. Lewis sustenta que:
“A conquista da natureza pelo homem, se os sonhos de alguns planejadores científicos acontecem, significa o poder de algumas centenas de homens sobre bilhões e bilhões de homens… Cada novo poder ganho pelo homem é também um poder sobre o homem.”
As idéias conservadoras são princípios democráticos de direita, conforme nos mostra Wiker ao examinar “Reflexões Sobre a Revolução na França” de Edmund Burker, “Democracia na América” de Alexis de Tocqueville, “Os Documentos dos Federalistas” de Hamilton, Madison e John Jay e a sua oposição, “Os Antifederalistas”. Para Wiker estes são livros e documentos que melhor expressam a relação entre a democracia e conservadorismo no pensamento de direita ao se contrapor a uma “democracia de revolucionários”. Esta relação é sustentada pela ideia da esquerda de que o mal é o outro. Wiker explica que:
“Mais uma vez estamos diante das terríveis simplificações dos revolucionários. Eles olham para o mal somente em uma classe de homens (e não em si mesmos ou em sua própria classe); sua busca zelosa, mas míope para as falhas destas classe dá a eles a profunda impressão de que tenham encontrado a fonte do mal; são então facilmente convencidos de que a eliminação dessa classe traria a eliminação de todo o mal, e qualquer meio que traga a eliminação de todos os males é justificado em sua mente.”
Talvez o maior erro da esquerda seja acreditar que o passado precisa morrer em detrimento do novo. Os revolucionários acreditavam nisso (os progressistas de hoje continuam acreditando). Tocqueville acreditava que uma democracia forte precisava da história do seu povo. Nesta concepção Wiker explica em Tocqueville que:
“Se você quiser entender uma nação, você deve primeiro compreender os preconceitos, hábitos, paixões dominantes, tudo o que compõe o que é chamado de características nacional, tudo o que é encontrado nas primeiras experiências de um povo.”
Tocqueville chegou a este conclusão quando esteve nos Estados a Unidos. Contudo a própria democracia tem aspectos que quando levados à consciência política e sustentada pelo poder, torna-se tão perigosa quanto o mais brutal dos regimes governistas. Wiker destaca alguns pensamentos de Tocqueville que representam bem os riscos do que ele denomina de democracia extrema:
“Homens democratas podem se tornar meros consumidores que labutam durante toda uma semana, a fim de consumir entretenimentos triviais no fim de semana. A alma murcha em tais circunstâncias, mas também se rebela.”
“No entanto, os americanos muitas vezes tem suas vidas por um fio. Sua vontade resiste, mas muitas vezes sua razão cede, e a sua melancolia leva-os à insanidade.”
É comum a confusão que se fazem em torno do conservadorismo e do liberalismo em uma fusão que não explica nem um nem outro, principalmente na área econômica. Neste sentido, Wiker analisa dois livros em que o liberalismo econômico não conflita com as idéias conservadoras mas que não são as mesmas coisas: “O Estado Servil” de Hilaire Belloc e “O Caminho da Servidão” de Hayek, ambos defensores da separação total entre os sistemas econômicos e o Estado.
Dentre os livros elencados por Wiker alguns são curiosos por não serem explicitamente conservadores. “A Tempestade” de Shakespeare, “O Senhor do Anéis” de Tolkien, “A Bíblia de Jerusalém” e “A Revolta de Atlas de Ayn Rand” que neste caso, no tocante ao conservadorismo, Wiker afirma ser uma obras impostoras.
Wiker fez um bom trabalho neste livro como no seu anterior 10 Livros que Estragaram o Mundo. Contudo, este tem grande importância e talvez até mais que o anterior pois é um apelo para aqueles que se vêem como conservadores assumam as suas posições e comecem a defender os ideais conservadores.
Clovis Pacheco F.
“Toqueville chegou a este conclusão quando esteve nos Estados a Unidos Toqueville chegou a este conclusão quando esteve nos Estados a Unidos logo após a independência deste. Contudo a própria democracia tem aspectos que quando levados ao nível da consciência política e sustentada pelo poder torna-se tão perigosa quanto o mais brutal dos regimes governistas. Wiker destaca alguns pensamentos de Toqueville que representam bem os riscos do que ele denomina de democracia extrema:
. Contudo a própria democracia tem aspectos que quando levados ao nível da consciência política e sustentada pelo poder torna-se tão perigosa quanto o mais brutal dos regimes governistas. Wiker destaca alguns pensamentos de Toqueville que representam bem os riscos do que ele denomina de democracia extrema:”
Tocqueville chegou aos Estados Unidos por volta de 1820, e não “logo após a independência deste”. Já haviam se passado quase 50 anos da independência norte-americana. Era um momento de mudança política n o país, em que a camada social integrada pelos assim chamados “aristocratas da Virgínia” e mais seus aliados haviam sido substituídos por outro tipo de político, de que Andrew Jackson era o protótipo. E se lhes seguiram Martin Van Buren, James Polk, Zakhary Taylor e outros matadores de índios e personagens do infame episódio da secessão do Tejas e a posterior guerra imperialista contra o México. Pessoas “democráticas” quanto à sua origem, em si mesma, dentro de uma classe média ascendente, mas profundamente agressivas e belicosas, deflagradoras do famoso avanço para o Oeste e todas as tragédias que conhecemos.