Nazistas entre nós

   Depois da queda do império de Hitler, alguns dos tentáculos do louco comandante foram julgados e condenados no teatro montado em Nuremberg para redimir a culpa de uma Europa omissa e complacente ao horror nazista. A verdade é  que poucos oficiais nazistas foram condenados. Muitos buscaram refúgios nos Estados Unidos,  Europa e na America do Sul onde não só puderam construir um novo lar como ganharam nova cidadania.

   É sobre a trajetória dos oficiais de Hitler que o historiador Marcos Guterman retrata em seu livro Nazista entre nós. O livro é  um estudo revelador sobre como viveram os monstros do nazismo depois da derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

   Em Nazistas entre nós, Guterman revela a história pós guerra de gente como Klaus Barbie, o “açougueiro de Lion”, cuja habilidade em torturas e o conhecimento sobre o Terceiro Riech eram do interesse dos Estados Unidos na guerra fria contra os soviéticos e que por isso foi muito bem recebido pelo anfitrião. Guterman revela a história do pacato cidadão Josef Menguele o “anjo da morte” que terminou seus dias no Brasil assombrado apenas pela sua própria consciência. 

   Chama a atenção revelação como a bem sucedida estratégia do “bom nazista” Albert Speer, conforme ironiza Guterman, que posou de vítima e convenceu o mundo que ele foi forçado a participar do massacre e que nada tinha a ver com a ideologia hitlerista. Speer conquistou as autoridades européias e americanas palestrando como o bom cristão arrependido. Melhor exemplo da redenção humana não há.

   Guterman deixa claro que tão monstruoso quanto os crimes cometidos pelos oficias,  é a constatação de que o mundo sabia das atrocidades cometidas pelos nazistas nos campos de concentração e mesmo assim receberam os oficias de Hitler como cidadãos pacatos e permitiram que levassem uma vida normal. Portanto os judeus foram vitimados duas vezes: uma pela morte de milhões de judeus, e outra pela dor dos que sobreviveram ao holocausto e viram os seus algozes que destruíram suas vidas, lares e famílias serem absolvidos dos seus crimes e levarem uma vida normal como se nada tivesse acontecido.

“[…] Mas o genocídio dos judeus e o massacre de outras minorias não teriam sido possíveis sem a participação de uma parte considerável da sociedade europeia e, principalmente, alemã, seja na forma de colaboração direta, seja por omissão. Responsabilizar apenas Hitler e seus sequazes mais conhecidos foi a forma que o mundo encontrou para superar sua própria responsabilidade naquela imensa tragédia) E seguir adiante, nesse caso, significava passar uma borracha nesse período, criando uma narrativa conveniente a narrativa da épica luta do mundo livre contra o monstro totalitário ª, enquanto os Estados Unidos, as ditaduras latino-americanas e a própria Alemanha faziam uso extensivo dos bons serviços dos remanescentes do regime nazista, devidamente “perdoados” graças a uma combinação de leniência, interesses estratégicos na Guerra Fria e dificuldade para lidar com crimes de tão inaudita violência.” Guterman  (2016)

A leitura de Nazistas entre nós ajuda a não esquecer que por trás de um horror há sempre um horror maior.

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