Em 1647, o filósofo jesuíta espanhol Baltasar Grancián compilou em seu livro A Arte da Prudência, vários aforismos que se tornaram um guia para quem deseja conquistar a difícil tarefa de se relacionar com outras pessoas.

Em uma época de gente mimada e ressentida todo o cuidado é pouco quando precisamos expor nossas idéias, exprimir opiniões, fazer críticas etc. Persuadir e convencer na arte da argumentação (ver A Arte de Argumentar), se não estiverem sustentada pela prudência, a maior de todas as virtudes segundo Edmund Burker, certamente levará ao fracasso em todos os aspectos da vida.

Eis alguns aforismo de Baltasar Grancián:

” Essas duas qualidades, sendo imortais, tornam o homem imortal. A pessoa é tanto quanto sabe, e o sábio tudo pode. Um homem sem conhecimentos é um mundo às escuras. E necessário ter olhos e mãos, ou seja, juízo e fortaleza. Sem valor, a sabedoria é estéril.”

 

” A pessoa perspicaz prefere os que precisam dela, não os que lhe agradecem. A esperança tem boa memória, mas o agradecimento vulgar é logo esquecido. É um erro confiar nele. Tem-se mais proveito da dependência do que da cortesia. Quem já matou a sede dá as costas imediatamente à fonte: acabada a dependência, acaba a correspondência e com ela a estima.”

 

“A primeira lição da experiência deve ser entreter, mas não satisfazer. Assim se conserva sempre a dependência dos demais. No entanto, não se deve chegar ao cúmulo de calar para que os outros errem, nem de tornar o ferimento alheio incurável em proveito próprio.”

 

” Não se nasce feito. Cada dia vamos nos aperfeiçoando no pessoal e no profissional, até chegar ao ponto mais alto, a plenitude de qualidades, à eminência. Isto se conhece no gosto refinado, na pureza da inteligência, na maturidade do julgamento, na retidão da vontade. Alguns nunca chegam a ser completos, sempre lhes falta alguma coisa. Outros demoram para chegar lá. O homem “acabado” sábio em atos e palavras é aceito, e inclusive desejado, no seleto grupo dos discretos.”

 

“Toda derrota é  odiosa e, se é sobre o chefe, ou é tola ou é fatal. A superioridade sempre Foi odiada, mais ainda pelos superiores. O sábio deve ocultar as vantagens mais comuns, assim como se disfarça a beleza com o desalinho. É possível encontrar quem aceite ser superado em sucesso e em caráter, mas ninguém quer ceder em inteligência, muito menos um superior. É este o maior dos atributos e por isso qualquer crime contra ele será de lesa-majestade. Quem é poderoso quer sê-lo no mais importante. Os chefes gostam de ser ajudados, mas não superados. Ao aconselha-los, é melhor que o aviso pareça uma lembrança de algo esquecido, em vez de ser luz do que não se alcançou. Os astros, com acerto, nos ensinam essa sutileza, pois ainda que sendo filhos brilhantes nunca competem com o brilho do sol.”

 

” O trato amigável deve ser uma escola de erudição, e a conversa, um ensinamento culto. Deve-se fazer com que seus amigos sejam também seus mestres, combinando o útil da aprendizagem com o gostoso da conversa. Deve-se alternar o prazer com a instrução. Os aplausos gratificam aqueles que falam, e os que ouvem são recompensados com o ensinamento.”

 

“Normalmente a própria conveniência nos leva a conversar com outras pessoas e assim enobrecemos. O homem prudente frequenta as casas dos homens eminentes, pois mais que palácios da vaidade sejam cenários de grandeza. Existem senhores com reputação de prudentes que são oráculos de grandeza por seu exemplo e modo de agir. Além disso, o grupo de seus acompanhantes é uma refinada academia de sensatez, tato e engenho.”

 

” A vida humana é uma luta contra a malícia do próprio homem: a sagacidade luta com estratagemas de má intenção. Nunca faz o que indica: despista, insinua-se com destreza e dissimulação e atua de maneira inesperada. sempre atenta para confundir. Mostra uma intenção para tranquilizar e muda imediatamente de posição, vencendo pela surpresa. Mas a inteligencia perspicaz se previne com a observação cuidadosa, se protege com cautela, entende sempre o contrário do que quer que se entenda e descobre instantaneamente qualquer jogo duplo. Deixa passar toda primeira intenção e fica à espera da segunda, e ainda da terceira. Quando a artimanha é descoberta, a simulação aumenta mais ainda e tenta enganar com a própria verdade. Muda de jogo para mudar a armadilha e transforma a verdade sincera em erro, baseando sua astúcia na inocência. Mas a advertência decifra a real intenção e descobre as trevas revestidas de luz.”