Identidade

Em um mundo cada vez mais afetado pela superficialidade das relações, pelo declínio dos valores clássicos, dominado pelo relativismo de tudo, que faz apologia aos amores superficiais, que se vê mais no espelho que Narcisio,  o indivíduo se autodigere e perde a sua identidade.

Zygmunt Bauman trouxe algumas evidências deste mundo em “Modernidade Liquida”, quando a ilusão e as dores da vida em sociedade criam no indivíduo, conflitos com sua própria identidade levando-o a não se reconhecer como pertencente a um projeto maior.

Em sua obra Identidade, Bauman desta vez analisa a identidade do indivíduo e sua fragilidade diante de um mundo em constante mudanças. Bauman alerta que a frugalidade das relações leva a construção de relacionamentos poucos sustentados por valores perpétuos.  O resultado disso é a falta de significado para tudo que o homem percebe em direção a manutenção deste enquanto indivíduo.

“No admirável mundo novo das oportunidades fugazes e das seguranças frágeis, as identidades ao estilo antigo, rígidas e inegociáveis, simplesmente não funcionam.”

“A ideia de um “mundo melhor, se é que surgiu, se encolheu diante da defesa de causas atuais relacionadas a grupos ou categorias. Ela permaneceu indiferente a outras privações e desvantagens e ficou muito longe de oferecer uma solução universal e abrangente para os problemas humanos.”

“Com o espectro de uma revolução proletária capitulando e dissipando se, os ressentimentos sociais estão órfãos. Perderam a base comum sobre a qual era possível negociar e desenvolver objetivos e estratégias comuns, Cada categoria em desvantagem está agora por sua própria conta, abandonada aos próprios recursos e à própria engenhosidade.”

“Mas a descoberta de que a identidade é um monte de problemas, e não uma campanha de tema único, é um aspecto que compartilho com um número muito maior de pessoas, praticamente com todos os homens e mulheres da nossa era “liquido-moderna”.

“No outro polo se abarrotam aqueles que tiveram negado o acesso à escolha da identidade, que não têm direito de manifestar as suas preferências e que no final se vêem oprimidos e identidades aplicadas e impostas por outros – identidades de que eles próprios se ressentem, mas não têm permissão de abandonar nem das quais conseguem se livrar. Identidades que estereotipam, humilham, desumanizam, estigmatizam…”

“Problemas localmente produzidos exigiam, e encontravam, uma solução global. Tais soluções não estão mais disponíveis: a expansão da economia capitalista finalmente se emparelhou com a amplitude global da dominação politica e militar do Ocidente, e assim a produção de “pessoas rejeitadas” se tornou um fenômeno mundial. No presente estágio planetário, o “problema do capitalismo a disfunção mais gritante e potencialmente explosiva da economia capitalista, está mudando da exploração para a exclusão.”

“Indivíduos enfrentando os desafios da vida e orientados a buscar soluções privadas para problemas socialmente produzidos não podem esperar muita ajuda do Estado cujos poderes restritos não prometem muito – e garantem menos ainda. Uma pessoa sensata não continuaria mais no Estado para prover tudo o que necessita em caso de desemprego, doença ou idade avançada, para assegurar serviços de saúde decentes ou uma educação adequada para as crianças. Acima de tudo, uma pessoa sensata não esperaria do Estado que protegesse os seus sujeitos dos golpes desferidos, de forma aparentemente aleatória, pelo jogo das forças globais, não controlado e mal compreendido.”

“A identidade nacional, permita-me acrescentar, nunca foi como as outras identidades. Diferentemente delas, que não exigiam adesão inequívoca e fidelidade exclusiva, a identidade nacional não reconhecia competidores, muito menos opositores. Cuidadosamente construída pelo Estado e suas forças (ou governos à sombra” ou “governos no exílio” no caso de nações aspirantes “nações in spe, apenas clamando por um Estado próprio), a identidade nacional objetivava o direito monopolista de traçar a fronteira entre “nós” e “eles”.

“[…] a naturalidade do pressuposto de que “pertencer-por-nascimento” significava, automática e inequivocamente, pertencer a uma nação foi uma convenção arduamente construída -a aparência de “naturalidade” era tudo, menos”natural”.”

“Tendo transferido a maior parte de suas tarefas intensivas em mão de obra e capital aos mercados globais, os Estados têm muito menos necessidade de suprimentos de fervor patriótico. Até mesmo o patriotismo, o ativo mais zelosamente preservado pelos Estados-nações modernos, foi transferido às forças do mercado e por elas remodelado para aumentar os lucros dos promotores do esporte, do show business, de festividades comemorativas e da industria da memorabilia.”

“As comunidades guarda-roupa são reunidas enquanto dura o espetáculo e prontamente desfeitas quando os espectadores apanham os seus casacos nos cabides. Suas vantagens em relação à “cosa genuína” são precisamente a curta duração de seu ciclo de vida e a precariedade do compromisso necessário para ingressar nelas e (embora por breve tempo) aproveitá-las.”

 

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