Marianne em Preto e Branco
Milton Santos era jovem quando fez uma excursão acadêmica à Europa e pela África. Na época, cidadão do mundo, Milton Santos já era uma figura de destaque na Universidade de Estrasburgo na França. Escrevera vários artigos (1957-1958) que, extasiado e valendo-se dos seus talentos como jornalista e já doutor em geografia, descreve com certo lirismo as suas experiências nas viagens sobre a vida acadêmica em Estrasburgo e as excursões pela Europa e pela África como parte de suas pesquisas e estudos.
As pesquisas e reflexões feitas sobre a sociedade européia, sobretudo a bela França, e sobre os mistérios do continente africano, que deram origem aos artigos publicados no jornal A Tarde, Milton Santos nos presenteia em um livro intitulado Marianne em Preto e Branco, cujo significado é uma singela homenagem a França e a África.
“Marianne é o símbolo da França imortal, cuja a força é a do espírito que os nacionalismos africanos souberam absorver a despeito de suas velhas tradições enraizadas; uma demonstração de que as forças espirituais não têm fronteiras, desconhecem os ridículos preconceitos que separam os homens pobres dos ricos, pretos e brancos e amarelos, cristãos e muçulmanos, dominadores e dominados, democratas e socialistas e toda a gama de clãs que a humanidade inutilmente se divide.”
Autor de várias obras importantes como Por uma outra Globalização, Pensado o Espaço do Homem, e O Espaço do Cidadão, todas, reflexões sobre a relação do homem cidadão com a sociedade urbana, foi um dos mais importantes geógrafos e intelectuais brasileiros. Suas obras são conhecidas em todo o mundo.
Apesar de jovem, Milton demonstra em Marianne em Preto e Branco toda a sua força textual, sua visão do mundo e a preocupação com o espaço urbano. Homem de intensa vida acadêmica, mas não só limitada às teorias, Milton começa jornada em Marianne em Preto e Branco relatando com a alegria de quem é feliz por aquilo que faz, o cotidiano da Universidade de Estrasburgo. Adentra em seu interior para nos mostrar o quanto é belo e sério o mundo da academia.
De Estrasburgo parte Milton Santos para a sua jornada na Europa. Passando por cidades europeias, sobretudo as francesas, objeto do seu entusiasmado espírito, examina os aspectos não só geográficos, como a história, o mercado, a força das culturas locais, a política, sempre preocupado em inserir o homem e o espaço que este ocupa na sociedade como coletividade. Examina os problemas locais e as soluções adotadas como se quisesse nos mostrar o caminho que o Brasil deve trilhar para também resolver os seus problemas. O seu encanto com as culturas estão também representado nas belas fotos que enchem o livro de beleza ímpar.
Esta obra pode também ser compreendida como as memórias do jovem Milton Santos sobre o seus universal espaço urbano. É uma obra de valor histórico, um livro para conhecer Milton Santos. É também um brado contra o preconceito, contra o radicalismo. O brado por uma globalização mas humana.
“Observador atento, Milton Santos nos leva com a leitura do seu livro a percorrer regiões, cidades, costumes, culturas como se lá estivéssemos! Mas lá se vai mais de meio século dessas observações! Porém as sementes do que viria depois com a magistral e revolucionária obra de Milton já se apresentam.” Maria Adélia Aparecida de Souza.
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