O Manifesto do Altruísmo, livro de Phillippe Kourilsky, é uma reflexão sobre o liberalismo altruísta ou altruidade, como denominou o autor. Kourilsky discorre sobre o conceito de altruidade como uma filosofia para entendimento dos males dos tempos modernos: a pobreza, a desigualdade e o cerceamento da liberdade altruísta, são os principais elementos da sua tese. “O homem nasce livre e, em todo lugar, está entre grades”, ao parafrasear Rousseau, Kourilsky demonstra alinhamento com as ideias deste.
As estatísticas da pobreza e da desigualdade em todo o mundo são os fatores chaves que precisam de uma nova arma. Então se pergunta: por que não conseguimos resolver estes problemas coletivamente? O instrumento para isto é o altruísmo? Kourilsky acredita que sim.
“A minha tese é que realmente existe uma falha de ordem moral na ideia de liberdade, porque a liberdade é muitas vezes entendida como um direito sem qualquer dever individual associado.”
“As soluções que sugiro se baseiam na única proposta que constitui o aspecto central deste manifesto: precisamos optar pelo altruísmo.”
“[…]se a liberdade é um direito fundamental do homem, está associada a um dever: o do altruísmo; ou seja, o altruísmo é um dever de liberdade.”
Para desenvolver a sua tese sobre o altruísmo, Kourilsky examina alguns aspectos que permeiam as relações sociais e afetivas entre as pessoas como fraternidade, generosidade e liberdade.
Ser generoso não é o suficiente. Para o autor, Bill Gate foi generoso sem ser altruísta, pois não existiu na atitude do magnata dos computadores, a intensão pura de fazer o bem sem esperar retorno algum. O indivíduo verdadeiramente generoso, é movido por sentimentos nobres e por pureza de espírito. O autor enfatiza:
“Por ser um ato sentimental, a generosidade se refere ao elo humano, à empatia, simpatia, compaixão e, numa certa medida, à fraternidade. Seja racional ou afetiva, a generosidade é distinta da altruidade, já que essa não pertence à categoria dos deveres estritamente racionais.”
Para apoiar a sua ideia sobre uma sociedade altruista, Kourilsky reflete sobre os laços fraternos entre alguns grupos de indivíduos que são importantes para a compreensão das diferenças entre altruidade e fraternidade.
“No sentido amplo, podemos compreender fraternidade como ideia moral fundada tanto no sentimento quanto na razão, para, informalmente, reforçar as relações humanas e sociais dos indivíduos de um mesmo grupo.”
O autor considera o liberalismo, carregado de vícios perigosos e longe dos olhos das maiorias, um problema político e sociais da nossa era. Há uma busca pela liberdade individual contida na disciplina do liberal, mas que existem ainda aspectos que a distancia do liberalismo social (ou coletivo).
“É, portanto, na ausência de um reconhecido dever de altruidade que se deve buscar a origem das disfunções observadas nos sistemas políticos que enfatizam a liberdade do ser humano. Aqui se encontra o vício oculto do liberalismo contemporâneo e a decorrente quebra da justiça social.”
“Os defeitos de nosso sistema financeiro ilustram vícios gerais de nosso sistema econômico, e os vícios de nossos sistema econômico, refletem os problemas de base na nossa sociedade.”
Para se alcançar os objetivos altruístas, o autor propõe uma mudança em nossos comportamentos sociais que visam sempre ao individualismo e convida-nos à coletividade dos relacionamentos, ideias e objetivos.
“A premissa indispensável para mantermos o controle dos fenômenos é cada um fazer uma autoavaliação. A confrontação posterior aos pontos de vista individuais (que não precisam ser comuns, coerentes ou compatíveis) e a compreensão de sua complexidade coletiva salienta, em seguida, a ação política, no melhor sentido da palavra.”
O Manifesto do Altruísmo, embora seja uma obra de caráter socialista, a tese de Kourilsky, versa naturalmente sobre algo que deve ser independente das nossas convicções políticas. Quando Auguste Comte conceituo o altruísmo, o definiu como a ação de ajudar ao próximo desinteressadamente. Jesus Cristo nos ensinou o mesmo, daí o forte sentimento religioso da caridade.
Neste sentido, o altruísmo deve ser praticado, mas com o coração, deixando de lado os conotativos políticos que deturpam a bela ideia contida nesta filosofia. Sejamos todos altruístas, mas sejamos princialmente justos, honrados e nobres. A pureza de coração não está em apenas dar, mas como Jesus ensinou em suas belas palavras: “Tu, porém, quando deres uma esmola ou ajuda, não deixes tua mão esquerda saber o que faz a direita” (Matheus 6.3).
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