Ponerologia é a ciência da natureza do mal a serviço do poder político. Este termo e sua definição foram criados pelo psiquiatra polonês Andrew Lobaczewski. O seu livro Ponerologia, psicopatas no Poder reúne o resultado de um estudo do comportamento de homens e mulheres que ao estarem de posse do poder político revelam em si a face do mal em toda a sua dimensão.
O livro é fruto das experiências Lobaczewski de investigação e diagnósticos na área de psicoterapia com um grupo de cientistas que estudavam as desordens de personalidades em líderes totalitários. A esta predisposição para o mal que seduz certos indivíduos Lobaczewski chamou de Ponerologia. O autor precisou fugiu do Leste Europeu para Nova York a procura de um lugar seguro. Motivo da sua fuga? Sua obra revelava a caricatura dos psicopatas no poder, algo que incomodou muito às autoridades locais. O livro vem enriquecido com o prefácio do professor Olavo de Carvalho e do escritor Flavio Quintela que com competência ratificam o quanto é perigoso entregar o nosso destino nas mãos de quem tem distúrbios de personalidade e sede de poder.
A interessante obra é um mergulho na mente de líderes que se acham o eleito para cumprir a missão de reconstrução da humanidade. Seus atos, todos imbuídos de boas intenções, escondem a loucura por trás das mentes destas pessoas. Elas são dotadas de uma poderosa capacidade de seduzir as massas com as seus discursos fáceis e infectados por ideologias a tal ponto de se transmutarem em uma figura mitológica. Seus feitos são legitimados pela força do seu carisma, pelo poder da sua retórica e pela “pureza” dos seus ideais, a ponto de, sem se deixar envolver por sentimentos de amor ao próximo, acreditar que qualquer que seja o seu ato, os fins das suas ações sempre serão justificadas pelos seus objetivos e por isso não há sentimento de culpa.
Os ponerologistas não admitem serem julgados pelos homens pois acreditam que já estão absolvidos por uma abstração chamada Estado. Os livros da história da humanidade encontram-se repleto destas figuras emblemáticas. O século XX se mostrou uma fonte muito fértil de produção destes representantes da catástrofe humana: Vladimir Lenin, Josef Stalin, Adolf Hitler, Pol Pot, Fidel Castro, Hugo Chávez, Idi Amin, Nicolae Ceausescu e Augusto Pinochet, para citar os mais monstruosos.
O produto da simples existência desta comunidade do mal é a morte de milhões de pessoas e a condução de outros milhões a uma vida miserável em detrimentos das sua ideologia. A capacidade de oprimir e matar dessa instituição de psicopata é proporcional ao fascínio que estes personagens causam na intelligentsia. Lobaczewski sustenta que:
“Nós enfatizamos que, neste livro, estamos lidando com anormalidades de uma forma qualitativa e não estatística. Pessoas excepcionalmente inteligentes são estatisticamente anormais, mas elas podem ser membros perfeitamente normais de uma sociedade, do ponto de vista qualitativo. Nós estamos procurando por indivíduos que compõem um número estatisticamente pequeno, mas cuja qualidade desta diferença é tal que pode afetar, de forma negativa, centenas, milhares e até mesmo milhões de outros seres humanos.”
Avançaremos nesta anormalidade. No nosso tempo, a subida destes psicopatas aos mais altos cargos políticos não se faz de outro modo senão por duas formas possíveis: através de um golpe político/militar ou através dos pleitos eleitorais. Analisemos então a segunda forma que é o objetivo deste artigo.
Impera hoje em dia o sistema democrático de eleição para a escolha de quem vai governar uma nação. O processo pelo qual se sustenta a democracia representativa (não é o meu intuito fazer crítica a democracia) abre, desta forma, num pleito eleitoral o acesso a candidatura de figuras demagógicas e carismáticas, munidas de retóricas e simpatia, cujos objetivos, acreditam, se dará pelos meios legítimos da democracia mais o apoio popular, sendo este último uma obrigação do candidato conserva, uma vez alcançado os degraus do poder político. Destarte, posto que alcançados a posição política almejada, incubem-se de mostrar os seus verdadeiros objetivos e estes, por sua vez, não passam de realizações pessoais. O sonho do político é usurpar para si todo o poder que emana do povo. Aqui fica claro que, movido por um forte senso de justiça, equidade e bem-estar, a massa acaba colocando no poder um psicopata.
Para Lobaczewski este fenômeno é fruto da histeria que toma conta do povo, da sociedade, dos tecnocratas e burocratas quando sob o peso de um sistema corrupto de governo, escolhe errado aquele que melhor e mais rápido resolverá os seus problemas. Logo, tudo não passa de um jogo de interesse. Lobaczewski o denomina de Ciclo da Histeria. “Quando as comunidades perdem sua capacidade psicológica da razão e de análise moral os processos de geração do mal são intensificadas em todas as escalas sociais, sejam elas individuais ou macrossociais, até tudo se converter em épocas ruins”, destaca o autor. Este ciclo, ao fim da sua revolução, a favor do político psicopata, conduzirá cada vez mais ao empobrecimento da capacidade de julgamento geral, descambando para o senso comum alienado e, por conseguinte, o aumento do culto ao poder.
O retrato dos dias atuais
Estamos sempre imaginando personagens sob abstrações introduzidas em nossas mentes que substitui a nossa incapacidade de observar os fenômenos políticos e desta maneira sabermos escolher o caminho certo. Quando percebemos que o caos se instalou por culpa das nossas escolhas erradas, transferimos essas responsabilidades para um outro candidato que se propõe a tudo consertar, porém o fará ao seu modo. Por isso é da nossa responsabilidade escolher corretamente aquele sob o qual depositaremos todas as nossas esperanças de dias melhores, pois, ao não escolher corretamente que nos governará, dado a nossa miopia, nos colocamos sob o poder de fogo da demagogia, da ira dos corruptos, do totalitarismo dos “esclarecido” e do julgamento dos genocidas. A história tem nos mostrado as consequências das nossas escolhas erradas. Para concluir nos entregaremos às reflexões do autor ao argumentar que:
“A percepção da verdade sobre o ambiente real, especialmente um entendimento da personalidade humana e seus valores, deixa de ser uma virtude durante os chamados tempos “felizes”; os céticos ponderados são considerados intrometidos que não conseguem viver bem sozinhos. Isso, por sua vez, leva a um empobrecimento do conhecimento psicológico, da capacidade de diferenciar as propriedades da natureza e da personalidade humana, e da habilidade para moldar criativamente as mentes. O culto ao poder, então, suplanta aqueles valores mentais tão essenciais à manutenção da lei e da ordem por meios pacíficos.”
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