Opúsculo sobre o Livre-Arbítrio, um folheto extraído do volume original que leva o mesmo nome, escrito em 1128 pelo monge agostiniano São Bernardo de Claraval. Este trabalho reúne algumas reflexões filosóficas sobre a liberdade, a vontade e o livre-arbítrio.

Claraval investiga a natureza humana e as escolhas entre o bem e o mal pela vontade de fazer, ou seja, em função da necessidade. O santo doutor – como Claraval é conhecido entre os teólogos – esclarece que Deus deu o livre-arbítrio para o homem bom e o mau e deixou sob a responsabilidade destes escolher entre seguir o caminho descrito por Jesus, ou se perderem no labirinto dos apetites e gozos terrenos.

Opúsculo sobre o Livre-Arbítrio é uma apologia à graça e à misericórdia. Claraval sustenta que o livre-arbítrio é condição apresentada por Deus para a salvação do homem, e a necessidade é a força que se opõe às escolhas que os homens fazem. Claraval afirma que onde há necessidade não há livre-arbítrio, pois este é fruto da liberdade dada por Deus em sua graça e misericórdia, enquanto aquele é fruto dos sentidos e dos prazeres mundanos.

“Deus é o autor da salvação, único responsável pelo livre-arbítrio: somente Ele pode dar-nos a salvação, e nos tornamos capazes de recebê-la pelo livre-arbítrio.”

São Bernardo de Claraval argumenta que a vontade é o movimento da razão, comandando os sentidos e os apetites. O homem movido por esta razão é levado através do livre-arbítrio à graça divina, deleitando-se na sua misericórdia. Mas o livre-arbítrio não responde a questão do sofrimento. Pelo menos, não no que se refere à causa e efeito.

O livre-arbítrio é um dos temas mais complexo da liturgia cristã. É também o objeto de intensos debates e inúmeros trabalhos entre os filósofos, intelectuais, políticos e doutores em sociologia e teologia. Deus está no cerne da questão quanto à origem e o significado deste paradoxo. Os argumentos de Claraval apoiam-se na fé, na graça e na misericórdia. São argumentos poderosos do ponto de vista teológico, porém deixam muitas dúvidas sobre a questão do destino e da predestinação na vida terrestre.

Deus nos deu o livre-arbítrio para escolhermos os caminhos que vão formar a nossa história. Entretanto, Deus na sua onisciência sabe quais escolhas faremos, quais erros cometeremos e o quanto sofreremos, pois está na Sua onisciência o destino de cada um de nós. Isto tem levantado polêmicas sobre o propósito de Deus nos dar a liberdade de escolher caminhos pré-determinados por Ele e chamar isto de livre-arbítrio. A conclusão óbvia desta questão é: podemos ser responsáveis pelos nossos atos se tudo está determinado, mesmo quando fazemos as nossas escolhas? Se os nossos destinos estiverem escritos no livro de Deus, qual é a nossa responsabilidade nas conseqüências das nossas escolhas?

Desde o início da Era Cristã, líderes religiosos, filósofos e teólogos buscam uma resposta para o paradoxo do livre-arbítrio. Neste âmbito continuaremos mergulhando nos mistérios de Deus sem jamais encontrar a resposta. Portanto, do ponto de vista religioso, as ideias e respostas sobre o livre-arbítrio deixam lacunas impreenchíveis.

Entretanto, se no sentido religioso a questão se enraíza sob a Divindade, podemos ao menos explorar os seus aspectos filosóficos e políticos. Pois deste depende apenas da natureza humana e a sua condição. Neste sentido, o livre-arbítrio sustenta-se sobre a responsabilidade moral com a verdade: verdadeiramente o caminho reto para a liberdade. Assim, somos os únicos responsáveis pelas nossas escolhas e as conseqüências que delas advêm.

As reflexões contidas em Opúsculo sobre o Livre-Arbítrio no que se refere a liberdade são base para o entendimento dos problemas políticos dos nossos tempos.

 

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