Sobre ideias políticas no iluminismo e inspiradas na Revolução Francesa há muitos livros de autores consagrados. Todavia, qualquer aprofundamento na leitura a respeito, sem passar pelas obras de Isaiah Berlin sobre o romantismo (ver As Raízes do Romantismo) e suas ideias políticas, principalmente, mergulhar em Ideias Políticas na Era Romântica, poderá deixar o leitor com a impressão que algo mais precisa ser dito.
Isto posto, porque ler Ideias Políticas na Era Romântica de Isaiah Berlin? Não seria mais algumas variações de temas exaustivamente explorado pelos mais variados pensadores e estudiosos? Joshua L. Cherniss, que fez a introdução no livro, responde bem a esta questão ao descrever o pensamento de Berlin como um crítico e pensador sobre a historia das ideias políticas.
“Aqui encontramos as primeiras manifestações de sua conceituação da liberdade, sua análise da filosofia da história e crítica do determinismo, e seus textos sobre o iluminismo e seus variados críticos e sucessores – românticos, reacionários, historicistas e socialistas.”
O livro nasceu a partir das palestras proferidas por Isaiah Berlin na conferência Mary Flexner na primavera de 1952. Nas palestras, ideias de pensadores como Joseph de Maistre, J. J. Rousseau, Immanuel Kant, Claude-Adrien Helvéticos, Holbach, J. G. Fichte, J. S. Mill, J. G. Von Herder e G. W. F. Hegel e suas investigações políticas são os alvos de Berlin em que foram apresentados vários aspectos que envolvem a política como liberalismo, ética, historia e liberdade individual.
Qual era o objetivo das palestras de Berlin? Mas uma vez, o prefaciante da obra Joshua L. Cherniss esclarece muito bem o propósito de Berlin:
“Ideias políticas na era romântica não é uma soma da carreira de Berlin como historiador intelectual e teórico político […] Entretanto PIRA ocupa um lugar central na vida intelectual de Berlim que apropriadamente revela muito sobre o desenvolvimento e a natureza de seu pensamento e carreira […] Por essa razão é um documento importante para aqueles que desejam compreender sua obra e aprender com sua leitura.
Cherniss explica que vale a pena estudar Berlin porque ela era um membro de pensadores que representavam e influenciavam uma geração de intelectuais que viveram politicamente a era dos extremos, muito bem retratada pelo historiador Eric Hobsbawn em seu livro A Era dos Extremos:
“Assim, o que via como a luta ideológica central do seu tempo em que ele escrevia, aquele entre o comunismo e a democracia liberal, era um conflito menos entre o iluminismo e seus críticos do que entre diferentes dimensões e implicações dentro do iluminismo e nos seus sucessores e que buscavam a reagir à aqueles tempos turbulentos.”
Berlin explica que esta obra analisa as ideias contra ou a favor daquilo que ele chama de a maior sublevação dos tempos modernos: a grande Revolução Francesa. As teorias políticas dos iluministas definiram e propagaram os pensamentos políticos da civilização ocidental até os nossos dias. Foram as ideias desses construtores de ideologias que para um lado ou para o outro (direita/esquerda) nos conduziram ao pior século da história da humanidade, a saber, o século XX.
Berlin procura dentro desse universo compreender uma forma insurgente de pensamento político-cultural que anula o passado e procura reconstruir a sociedade e tudo que há nela a partir de novos horizontes revolucionários. Este é o caminho para refletir sobre tempos tão difíceis com seus fenômenos complexos. O pensamento romântico foi um evento de profunda mudança em todo o mundo ocidental.
Berlin inicia as suas reflexões intrigado com uma questão: há um problema nuclear na política. O problema da obediência e o porquê o homem obedece ao homem na construção de uma ordem social e política. Neste sentido Berlin inferiu que essa é a questão central na história das idéias e a fundamentação da filosofia política.
“A questão central da filosofia política é a pergunta: por que haveria o homem de obedecer a outro homem ou grupo de homens? – ou (o quê última análise dá no mesmo) Porque um homem ou um grupo de homens haveria de interferir na vida de outros homens?”
Ao responder, Berlin nos leva a refletir que obedecemos por que há um interesse, uma troca entre dois lados, o povo e o estado, em direção a uma ordem política, social e econômica. O homem, parte do povo, busca nisso a sua felicidade e está disposto a obedecer em todas as suas amplitudes. Essa obediência assegura ao homem o direito por lutar pela riqueza e pelo poder. Nasce dai a ordem social.
Toda obra, ao final e a cabo, gira em torno da temática a obediência às idéias políticas que nos transformaram.
Conforme vimos nesta captura isolada de alguns pensamentos de Berlin, a leitura de ideias Políticas na Era Romântica, nos leva ao universo intelectual do autor e nos coloca frente a diversas problemáticas políticas e sociais. Toda a filosofia da histórias das idéias de Berlin, põe-nos diante de uma mente inquieta com o futuro da humanidade, não no sentido de transformar este futuro para um novo mundo, mas compreendê-lo e buscar o equilíbrio, sobretudo, para que a história do século XX não seja reinterpretada no século XXI como o fim da história.
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