Em A Mente Naufragada, o espírito reacionário difere e muito do conservador. Mas é irmão gêmeo da esquerda revolucionária e a sua cartilha de libertação e “justiça social”. Nesta obra, Mark Lilla explica que não podemos confundir o reacionário com o conservador e o revolucionário. Partindo da análise das ideias de três pensadores do século XX – Franz Rosenzweig, Eric Voegelin e Leo Strauss -, Lilla investiga a mente reacionária.
Lilla argumenta que o reacionário é aquele que reage, no sentido de se opor às ideias, em geral as dos revolucionários. Neste sentido, não se trata da pessoas autoritárias e ultrapassadas e sim, daqueles que procuram trazer o passado para nele viver sem transformações. Assim, Lilla sustenta que o reacionário vive no passado, diferente do conservador que tem o passado como uma referência para agir no presente e refletir sobre o futuro, sustentado sobre os fortes pilares da tradição. Entrementes, o revolucionário odeia o passado, tem o presente como um mirante que utiliza para planejar um futuro utópico, compreensível apenas nas distorções das suas mentes profanas.
A nostalgia faz do reacionário um figura moderna no sentido de que resgata numa estranha linguagem a crença de um passado imutável. Para Lilla, a mente do reacionário está naufragada, pois, olha para os destroços de um passado que lhe parece ameaçado e luta para salva-lo ipsis litteris. O reacionário não sabe conviver com as mudanças.
“O reacionário, imune às mentiras modernas, vê o passado em todo o seu esplendor, e também se sente exaltado. Sente-se em mais forte posição que o adversário por se julgar guardião do que de fato aconteceu, e não profeta do que poderia ser.”
No século XX, os pensadores políticos se voltaram à nostalgia política como expressão das suas dificuldades em compreender um mundo em constante mudanças. Dessa forma, Lilla destaca em seus ensaios a nostalgia política-filosófica de três pensadores do século XX: Franz Rosenzweig, Eric Voegelin e Leo Strauss. Na sequência, os aspectos de movimentos que tiveram profundo impacto nestas transformações cujos heterogêneos atores – Lutero, Walmart, Mao Tse Tung e São Paulo – tão díspare quanto as suas histórias, mas comum em suas ortodoxias.
“E os reacionários da nossa época descobriram que a nostalgia pode ser uma forte motivação política, talvez mais poderosa até que a esperança. As esperanças podem ser desiludidas. A nostalgia é irrefutável.”
Com A Mente Naufragada, Lilla pretende corrigir um desequilíbrio que há entre a ótica política, econômica e universal, e a visão individualista desta como uma questão da psicologia do homem e não das coisas. Este cenário é nebuloso. Vejamos:
Franz Rosenzweig mergulha na nostalgia como forma de resgate da filosofia judaica adormecida no que Lilla chama de uma volta aos idéias transcendentais. Esse sentimento parece permear as idéias de Eric Voegelin e Leo Strauss. Lilla acredita que todos os aspectos políticos dentro das dinâmicas sociais são oposição ao transcendente de rebelião gnóstica.
No capítulo “De Mao a São Paulo”, Lilla apresenta em Alain Badiou, sob a interpretação de Taubes, a Carta aos Romanos de São Paulo. Badiou muda de Mao para São Paulo, porque segundo Lilla, este na concepção socialista, representa uma nova vertente no pensamento revolucionário. Lilla explica que Badiou via reacionarismo na ética judaica e que este servia ao um novo messianismo sob a filosofia Paulina.
“Entretanto, como uma longa e desmoralizada linhagem de teólogos cristãos, Badiou sustenta que o legalismo e a particularidade étnica judaicos se tornaram agressivamente contrarrevolucionários depois da morte de Cristo. A verdadeira “fidelidade” ao “evento” judaico exige a aceitação do novo e mais universal evento cristão. Aqui, a leitura de São Paulo em Badiou e Taubes é divergente, para dizer o minimo. Para Taubes, Paulo universalizou a promessa messiânica inicialmente oferecida aos hebreus, não a aboliu. Graças a ele, somos todos filhos do Sinai. Para Badiou, o universalismo militante de Paulo nos dá um antegosto do que Kant, numa frase lamentável, chamou certa vez de “eutanásia do judaísmo”.“
A Mente Reacionária é um reflexo da esquerda. É o paralelo da mente esquerdista. Uma foi formado pelo outro numa fatalidade temporal e universal. São forças antagônicas, que não viverão sem a outra, pois fazem parte do mesmo universo e se nutrem da mesma energia. Uma reação: como explica Lilla no início deste livro.
Lilla ainda no referido capítulo adverte com certo grau de profecia que em meio às revoluções do século XX falta a revolução política. Mas não se sabe como esta se dará:
“Houve uma revolução cultural bem-sucedida, feminismo, direitos dos homossexuais, declínio da autoridade parental que até começou a se disseminar fora do Ocidente. Mas não houve nenhuma revolução política nem há qualquer perspectiva de que venha a ocorrer agora. Que objetivo teria ela? Quem poderia conduzi-la? Que aconteceria depois? Ninguém tem respostas para essas perguntas e praticamente ninguém mais pensa em fazê-las. O que se encontra hoje na esquerda (quase exclusivamente acadêmica) é apenas uma forma paradoxal de nostalgia histórica, uma nostalgia do “futuro”.“
A figura reacionário tem ressurgido sem o temor de ser tachado de fascista no mundo atônito e sem saber como reagir ao terrorismo islâmico, que quer o resgate de um passado glorioso. Os adventos terrorista que caíram sobre a França e parte da Europa, serviram de palco para o fortalecimento da direita em todo o mundo, pois o globalismo, salvo nas questões econômicas, e o multiculturalismo mostram-se mais causadores de problemas que solução. No século XXI, o reacionarismo reassume o seu papel e a sua parte no destino do mundo. Novos atores estão surgindo como evidência Mark Lilla:
“Os novos reacionários perceberam a oportunidade e agora encontram um público que sente bater o coração de gratidão ao ler seus livros, além da sensação de se libertar da impressão de não ser compreendido. Foi para dois desses escritores em particular que dezenas de milhares de leitores franceses se voltaram para tentar entender os dramáticos acontecimentos de janeiro de 2015.”