Introdução ao pensamento girardiano
A iniciação aos estudos da Teoria Mimética não é algo fácil. Por que, não é? Perguntará o caro leitor. Primeiro porque não é comum encontrar por aí, nem mesmo nas universidades, com o mínimo grau de clareza e simplicidade o que é a teoria mimética. Mesmo que você, caro leitor, faça muitas pesquisas na grande rede de computadores, o resultado encontrado será confuso e não trará nada que lhe satisfaça a curiosidade. Certamente não lhe dará uma ideia clara do significado da teoria mimética.
Eu, por exemplo, comecei a engatinhar sobre os caminhos da teoria mimética através da obra de Roger Scruton, “O Rosto de Deus”, que em breve resenharei neste presente portal. Através deste livro, de Roger Scruton, o pensamento girardiano começou a fazer algum sentido para mim. Posso lhe assegurar, caro leitor, que ainda me encontro ás margens desta que parece ser uma interessantíssima teoria sobre os aspectos axiológicos da formação do homem e da sociedade.
Com efeito, a minha introdução nesta área começou com uma leitura despretensiosa de uma obra do historiador norte-americano Richard J. Golsan, intitulada Mitos e Teoria Mimética. Nesta obra, Golsan introduz o leitor no universo do pensamento girardiano. Diante deste universo misterioso da teoria mimética, pergunta-se o que é o pensamento girardiano? Por que estudá-lo? Qual a relação que ele tem com o mundo hoje? Ao buscar respostas para estas questões, iniciei o processo de encantamento pelo pensamento de René Girard.
O desejo, chave para compreensão da teoria mimética
O pensamento girardiano foi formulado por René Noël Théophile Girard (1923-2015), conhecido por René Girard. O ilustre pensador francês conhecido como René Girard foi historiador, crítico literário, antropólogo, filósofo, teólogo, sociólogo, filólogo. Ele também foi professor de literatura comparada na Universidade de Stanford. Ou seja, estamos falando de uma pessoa com uma sólida formação em diversas áreas de conhecimento e autor de mais de 30 livros. Origina-se desta o fato de muitos se referirem a sua vasta obra como “biblioteca René Girard”. Referência que se traduz menos pela grandiosidade volumétrica dos seus escritos, e mais pela importância das suas teorias e ideias sobre a natureza do homem, religião e sociedade.
Para René Girard, o desejo humano é mimético, ou seja, que o desejo humano nasce da experiência com o outro. Neste sentido, não temos desejos próprios, mas copiados de alguém. Deste pensamento, René Girard deriva a compreensão de que todo o conflito tem origem dessa cópia do desejo do outro. René Girard acredita que os mitos criados como bodes expiatórios dos conflitos nascidos desta relação entre o “eu” e o “outro” dará origem a diversas culturas. Desta forma, assevera René Girard, a religião ganha o seu papel de alta relevância para o surgimento da cultura ocidental, pois denuncia, através da Bíblia, o que ele chama de “mecanismo do bode expiatório”. Estas são noções do pensamento girardiano que o livro Mito e Teoria Mimética expõe para o leitor.
Uma reflexão para a cosmovisão cristã
Neste sentido, o estudo da teoria mimética é para o cristão uma forma de compreensão de como os indivíduos se relacionam na formação da cultura e qual é o papel da religião neste processo. Desta forma, para o cristão culto, os estudos do pensamento girardiano propõe à reflexão sobre a cosmovisão cristã. René Girard defende que está no mimetismo a origem da violência que tem como corolário a transformação da sociedade humana através da religião.
Portanto, caro leitor, penetrar no mundo mental de René Girard é um grande desafio. Isto ocorre pela magnitude do seu pensamento e das suas teorias. Entretanto, o esforço vale a pena. Para quem deseja compreender a sociedade e sua relação com homem e Deus. Do mesmo modo, é uma preocupação que deve fazer parte das meditações dos cristãos que se dedicam aos estudos bíblicos. Certamente não convém ficar apenas na leitura de Mito e Teoria Mimética. É necessário penetrar ao máximo na obra de René Girard para buscar compreensão profunda do seu pensamento. Para o cristão é uma forma de revisitar os valores tradicionais da cristandade, fortalecendo-os em uma unidade indivisível.