Em seu segundo livro, 12 Regras para a Vida, o psiquiatra conservador canadense Jordan B. Peterson propõe doze recomendações para se alcançar uma vida com menos sofrimento. São regras simples em seu enunciado, mas que se aplicadas com cuidado, viver pode ter um sentido mais significativo. O livro não se destina a autoajuda, pelo contrário, sugere alternativas para uma vida que faça sentido em meio a um mundo tão conturbado. As regras propostas por Peterson dão uma direção, apontam onde dói e, se não elimina o sofrimento, ajuda a compreender que a origem das dores e angústias humanos residem dentro de cada um de nós, expressadas na forma como nos relacionamos com outras pessoas e das expectativas que temos da realidade mesma. Não é uma cartilha com orientações do que fazer para alcançar a felicidade, mas um meio que pode levar à reflexão sobre o que somos e, acima de tudo, nos conduzir a compreender que somos os únicos responsáveis pelas nossas angústias e desgraças.
A vida é simples e devemos ter comportamentos sustentados pela temperança e resiliência para que, diante dela, possamos compreendê-la e, assim, construir uma vida com Sentido e Fé, erguidos sobre rochas, resistentes às intempéries. O único lugar no universo em que há um caos, no sentido literal, é no íntimo de cada um. Falta-nos a coragem necessária para explorar este interior, vencer os seus abismos e levar a luz onde há trevas. Certamente, não é possível sairmos do fosso na nossa alma sozinhos. Precisamos de uma mão que nos puxe e outra que nos mostre a saída. Estas mãos estão o tempo todo conosco e atende por um nome, Deus. Vamos conhecer brevemente algumas das 12 regras para vida.
Seja firme em suas decisões, tenha atitude, reconheça o seu potencial e não tenha medo de arriscar. Quem vai à batalha com medo da derrota já a perdeu, ensina Jordan. Seja uma pessoa de costas eretas e ombros para trás, eis o capítulo. Evite as atitudes terroristas. Isto é uma questão de hierarquia de dominância. Aqui Jordan aconselha as pessoas que carregam aquele ar de eterno derrotado, fazem-se de coitados e vítimas. São covardes, que na ausência de força interior, se entregam sem lutar ou então assumem a perda da batalha já na primeira derrota. Ele aconselha a essas pessoas a liberarem serotonina através da atitude proativa. Pessoas com baixos níveis de serotonina, segundo Jordan, se mantêm em posições inferiores na sociedade. Para ser vencedor é necessário ter uma postura de vencedor. Os vencedores são as pessoas que atraem as melhores oportunidades simplesmente porque elas existem para pessoas de alta capacidade de sobreviver em ambientes hostis. Pessoas com essa postura têm potencial para ser uma fonte de inspiração e de oportunidade.
“Hierarquia de dominância é um sistema mestre de controle ajustando nossas percepções, valores, emoções, pensamentos e ações. Ele afeta poderosamente cada aspecto do nosso Ser, tanto consciente quanto inconsciente“. (Peterson, 14)
Jesus Cristo ensinou que não se deve fazer a outrem aquilo que não quer para si. Em outras palavras, fomos ensinados por Cristo a cuidar do próximo. Em sua mensagem de amor ao próximo Jesus Cristo nos evoca para largar tudo e segui-lo. Largar significa o desapego às coisas materiais e aos vícios. A princípio parece que quando Jordan Peterson, na segunda regra, aconselha que as pessoas cuidem de si mesmo como cuidaria de alguém sob a sua responsabilidade pode parecer que prega o egoísmo. Mas, veja que as mensagens têm os mesmos propósitos. Peterson assevera que para se tornar uma pessoa positiva e vencedora é necessário se cuidar como se tivesse cuidando de alguém sob a sua responsabilidade. A ideia por trás desse pensamento é simples: como amar o próximo se não se amar primeiro? Somente a compreensão da própria vida permitirá a valorização da vida do outro. O sofrimento da alma vem muitas vezes da falta de conhecimento de si. Jordan nos diz que “apenas o homem infligirá o sofrimento para fim de sofrimento“. Não conseguimos amar uma pessoa com profundidade e pureza porque nos achamos incapazes de reconhecer os nossos fracassos e aceitá-los como um caminho para a nossa salvação. Nos envergonhamos das nossas imperfeições e nos refugiamos nos ressentimentos quando deveríamos superá-las.
“Você precisa saber quem é para que entenda suas armas e fortaleça a si mesmo em respeito às suas limitações. Você precisa saber aonde está indo para que limite a extensão do caos em sua vida, reestruture a ordem e traga a força divina da Esperança para o mundo.” (Peterson, 64)
Aqui o autor apresenta a regra de ouro para a felicidade. Nada é mais nocivo para a felicidade que nos relacionarmos com pessoas negativas, invejosas e fracassadas. Você deve, recomenda Jordan Peterson, nutrir amizade que lhe engrandeça como ser humano, que seja amigo de pessoas que queiram o melhor para você. Pessoas ruins atraem coisas ruins. Afaste-se de pessoas invejosas, preguiçosas, mesquinhas, maldosas e despeitadas. Elas só querem que você seja uma pessoa fracassada igual a ela. Procure se juntar a quem lhe tem algo de elevado para oferecer, que lhe respeita, que lhe quer bem e que sabe lhe dizer as verdades que você precisa ouvir. Este é o primeiro passo para quem quer ser uma pessoa de bem com a vida e de sucesso.
“Mas o próprio Cristo, você pode objetar, fez amizade com os coletores de impostos e com as prostitutas. Como eu ousaria julgar os motivos daqueles que estão tentando ajudar? Porém, Cristo era o arquétipo do homem perfeito. E você é você. Como você sabe que suas tentativas de puxar alguém para cima não o levarão — ou você — mais para baixo?” (Peterson, 79)
Como corolário nasce a quarta regra de Jordan Peterson. Compare a si mesmo com quem você foi ontem, não com quem outra pessoa é hoje. Há uma crença profundamente enraizada nas mentes das pessoas de que devemos ignorar o passado e olhar para frente e, sobretudo, nos compararmos com as pessoas que nos rodeiam. O autor ensina que este não é o caminho adequado para se construir um espírito forte. Quando analisamos quem fomos ontem, tiramos as lições que nos mostram nossos erros e acertos, assim como, o que fizemos de bom e a quem machucamos. Das reflexões nascidas desta viagem ao nosso passado, medimos nossas ações e temos melhores formas de reconhecer nossas fraquezas e buscar, se não eliminar o mal, tentar conter o seu avanço. A cada reflexão sobre nossos erros passados, crescemos. A melhor forma de crescer é ser autocrítico. Compare-se sempre a si próprio, orienta Jordan Peterson, e procure identificar os pontos da sua vida que são reflexos de um passado que está a sua disposição para fazer as mudanças necessárias no presente da sua vida.
“Ouse ser perigoso. Ouse ser verdadeiro. Ouse articular a si mesmo e expressar o que realmente justificaria sua vida. Ser feliz ao realizar a jornada pode ser muito melhor do que chegar ao destino com sucesso”. (Peterson, 93)
“Peça e receberás. Bata e a porta será aberta. Se pedir com vontade e bater, como se quisesse entrar, pode ser que lhe seja oferecida a chance de melhorar a sua vida um pouco; muito; completamente”. (Peterson, 114)
Não deixe que seus filhos façam algo que faça você deixar de gostar dele. A incapacidade dos pais de mostrar para a criança quem está no comando e a quem elas devem obedecer dão origem a crianças egocêntricas e mimadas. Os pais atuais, principalmente os mais jovens, não sabem impor limites para os seus filhos. A permissividade dos pais, aliada às leis que tiram a autoridade dos pais sobre a educação dos filhos e a transfere para Estado, destroem a estrutura familiar e inverte os papéis da relação pais e filhos. Por conta disso, os pais estão “criando” adultos incapazes de enfrentar a vida, formando pessoas ressentidas com alta incapacidade de se relacionar com os outros. São adultos infantis e mimados que não estão preparados para a vida. Consequentemente, são adultos que não respeitam autoridade, são vaidosos e egoístas. Enfim, os pais modernos têm dificuldades de impor limites para as suas crianças porque eles próprios não conseguem impor limite a si próprio.
“Pais que se recusam a assumir a responsabilidade pela disciplina de seus filhos acham que podem simplesmente optar por evitar o conflito necessário para uma criação adequada de uma criança. Eles evitam ser os vilões (em curto prazo). Mas de forma alguma isso resgata ou protege seus filhos contra o medo e a dor. É exatamente o contrário: o mundo social mais amplo, crítico e indiferente infligirá conflitos e punições muito maiores do que os provocados por um pai consciente. Você pode disciplinar seu filho ou delegar essa responsabilidade ao mundo cruel e indiferente — e a decisão pela segunda opção nunca deve ser confundida com amor.” (Peterson, 138)
Atualmente, todos nós não só queremos um mundo melhor como somos capazes de mudá-lo. Quase todo mundo conhece uma fórmula para a salvação da humanidade, tanto quanto estão dispostas a irem à luta em direção ao tão sonhado mundo melhor. Mas, como podemos querer mudar o mundo se não somos capazes de mudar uma vírgula no que somos e como vemos a vida? Queremos revoluções. Há elementos dentro de nós implorando por uma reforma. Entretanto, esperamos que as mudanças ocorram nos outros, não em nós. Temos dificuldade em olhar para dentro de nós e dizer “preciso pôr ordem nesse caos“. É neste sentido que Jordan Peterson nos orienta em sua sexta regra que devemos deixar sua casa em perfeita ordem antes de criticar o mundo e querer transformá-lo. Arrumar o seu interior primeiro e depois, quem sabe, você continue querendo mudar o mundo.
“Não culpe o capitalismo, a esquerda radical ou a iniquidade de seus inimigos. Não reorganize o estado até que você tenha ordenado sua própria experiência. Tenha um pouco de humildade. Se você não pode levar paz para sua casa, como ousa tentar governar uma cidade?” (Peterson, 165)
Mas é difícil conhecer a si próprio quando vive uma vida sem sentido. O problema, segundo Jordan, é que falta nas pessoas o profundo senso de significado. Se não encontramos um significado para a vida passamos a ter dela uma percepção niilista e a modelamos conforme as nossas conveniências. Na sétima regra Jordan Peterson pede que se busque o que é significativo, não o que é conveniente. Quase sempre, os caminhos daqueles que trilham uma vida repleta de significado são difíceis. Mas há grandes recompensas para quem chega ao fim da jornada. Na luta entre o bem e o mal o bem não prevalecerá se não houver objetivos superiores pelos quais vale a pena lutar. Deus guarda aquele que tem a Sua Verdade como regra de vidas. Para estes, Deus reservou recompensas futuras que estão no Seu Reino. Por outro lado, viver segundo os ditames da conveniência é abraçar um mundo só seu em que Deus não faz parte dele. Neste mundo, manda o mal que domina todas as vontades humanas.
Por fim, em tempos difíceis como estes, impulsionado por uma pandemia, agravada por um terrível crise econômica, potencializado por graves conflitos de visão política e social, nos perguntamos: o que está acontecendo com o mundo, com as pessoas? Por que tanta angústia, ressentimento? A humanidade, que tanto avanço tem registrado na ciência e tecnologia, parece regredir no que tange a sua própria humanidade. As pessoas parecem que estão mais arrogantes, hipócritas, narcisistas, e principalmente, mimadas. A covardia cresce na falta de valores que lhes honre a condição de pessoas. Todos vivemos numa redoma, apesar de nos colocarmos contra o individualismo. Por qual motivo nós nos escondemos por trás de edifícios fictícios da nossa imaginação? Qual a origem das nossas fragilidades de caráter e egoísmo? Estas são questões cuja resposta não se encontram senão dentro de cada um de nós.
“Se o mundo que você está vendo não é o que quer, está na hora de examinar seus valores. Está na hora de se livrar de suas pressuposições atuais. É hora de abrir mão. Pode até ser hora de sacrificar aquilo que mais ama para poder se tornar quem você puder se tornar em vez de ficar sendo quem é”. (Peterson, 179)
Como podemos querer uma vida de significado se bebemos o cálice doce da mentira? Quem mente para si e para o outro, mente primeiro para Deus. Portanto, busque dar significado a sua vida trilhando o caminho da retidão, da Verdade. Este é o único caminho que nos leva para os braços de Deus. Impressiona como fugimos de nós mesmos. O futuro não parece delinear novas linhas de progresso interior humano. Certamente haverá mais conquistas científicas e tecnológicas, mas continuaremos sendo o que somos há séculos: nada. Um vazio interior terrível. Continuaremos numa busca frenética por entendimento sobre quem somos e para onde vamos, mas olhando para fora, para o infinito, nunca para dentro. Talvez este seja o nosso maior erro.
O caminho para Deus, para uma vida digna e honrada é construído pelas virtudes. Jesus Cristo nos ensinou e deu exemplo de que o Reino de Deus pertence aos humildes. Eis aqui, então um dos maiores desafios que tantas almas tem quebrado: ser verdadeiramente humilde de coração e de espírito e não nas aparências.
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