Em sua terceira obra, 21 Lições para o Século 21, o jovem historiador israelita Noah Yuval Harari prevê que a vida das pessoas será controlada por algoritmos capazes de analisar bilhões de dados sobre nossos hábitos, crenças, preferências, visões ideológicas, propor caminhos e alternativas para as nossas escolhas. Eles serão capazes de saber mais sobre nós do que nós mesmos. Não se trata de ficção ou algo que ocorrerá daqui a centenas de anos, mas de situações que se encontram no cotidiano sem que percebamos que não estamos tomando as nossas decisões por conta própria. Os algoritmos, segundo Harari, estão em toda parte nos influenciando e criando regras das quais não podemos abrir mão se quisermos viver num mundo conectado, e não isolado como um ermitão. Inteligência Artificial, Biotecnologia e Big Data e uma rede de internet com velocidade cada vez maior conduzirão a humanidade a um mundo realmente novo, fantástico e, ao mesmo tempo, assustador, na medida que estaremos sempre assombrados pela possibilidade de um dia ser dominados por máquinas como no filme O Exterminador do Futuro. Essas são as previsões que encontramos em “21 Lições para o Século 21”.
Harari argumenta que os algoritmos já estão no controle há muito tempo, no celular, no computador, no carro, em toda parte, auxiliando-nos nas nossas escolhas, nos observando e aprendendo sobre nossos hábitos e preferências. Os algoritmos sabem antes de nós do que gostamos e podem descobrir em nosso íntimo o que nem o mais hábil psicólogo é capaz de realizar. Tudo isso com o nosso consentimento. Harari assinala que “quando estiver Navegando na internet, assistindo a vídeos no YouTube ou lendo mensagens nas suas redes sociais, os algoritmos vão discretamente monitorá-lo, analisá-lo e dizer à Coca-Cola que, se ela quiser lhe vender alguma bebida, melhor seria usar o anúncio com o rapaz sem camisa e não o da garota sem camisa”. Isso se deve sobretudo aos avanços da biotecnologia e da Inteligência Artificial que devido aos avanços viveremos mais e melhor, supõe Harari. Em seu outro famoso livro, Homo Deus, ele escreveu que as doenças serão tratadas antes mesmo do menor sinal da sua manifestação. Assim sendo, a fome, doenças, pobreza não serão mais problemas, uma vez que se ainda existe fome no mundo, por exemplo, é muito mais por uma questão de política do que a ausência de recursos naturais e tecnologia na produção de alimentos em escala global. A nova era promete ser um tempo de fartura alimentar, controle de todas as doenças, e senão o fim da pobreza pelo menos a sua drástica redução, explica Harari.
Harari estima que até o ano de 2050 já estaremos vivendo esta nova era. Essa impressionante revolução causará notáveis mudanças no comportamento humano que refletirá na forma como fazemos negócios, nos relacionamos uns com ou outros, assim como modificará os nossos comportamentos diante das nossas necessidades mais básicas, capaz até em certa medida de inverter até a pirâmide de Abraham Maslow. Harari adverte que apesar de toda a maravilha que estas invenções representam para a humanidade, teremos sérios problemas de adaptação uma vez que implicará em mudanças de culturas e crenças. Neste sentido o futuro da humanidade parece ser assustador, tendo em vista que mudanças culturais quase sempre culminam em catástrofes sociais. Harari explica que à medida que avançarmos para um mundo de altíssima tecnologia, a capacidade humana não acompanhará na mesma velocidade e eficiência. O resultado disso, alerta Harari, será que devido ao fato da AI substituir o ser humano em quase todas as funções que ele exerce quanto indivíduo na sociedade, o trabalho humano será dispensável para um número de afazeres profissionais cada vez maiores. Força física em nada contribuirá neste Admirável Mundo Novo, fazendo um trocadilho com a obra de Aldous Huxley. Apenas poucas áreas, na maioria das vezes relacionadas a área de TI, precisará das habilidades humanas. As consequências disso será o desemprego de bilhões de pessoas, prever Harari. Para ele não haverá políticas públicas que sejam capazes de prover o sustento de tanta gente que supostamente não terá utilidade alguma (estaria aí a origem da preocupação das autoridades mundiais com o crescimento populacional e as teorias sobre os mais drásticos métodos para freá-lo?).
Num cenário mais otimista, Harari explica que mesmo os mais especializados nas poucas áreas em que o homem poderá atuar, dificilmente estaremos em condições de atender as velozes demandas de uma sociedade tão fugaz. Se não quisermos procurar alguma caverna para viver, teremos que ser especialistas em múltiplas áreas do conhecimento humano e teremos que ter uma tremenda capacidade de mudar de profissão, pois, elas não durarão mais que uma década, argumenta Harari. Outras profissões surgirão, esclarece, mas quase sempre seremos substituídos por um algoritmo que fará o trabalho humano muito melhor e mais rápido. Penso que, após refletir sobre o conteúdo de “21 Lições para o Século 21”, talvez a única profissão que esteja livre do controle da AI seja a de filósofo, pois, alguns atributos como imaginação, emoção estão muito longe do alcance da Inteligência Artificial.
Recentemente assisti o filme Passageiros que narra a história de um grupo de pessoas que faz uma viagem interestelar que duraria 120 anos. Durante todo esse tempo os passageiros dormem em suas cápsulas de hibernação. Ocorre que depois de alguns poucos anos de viagem o sistema que mantinham todos em estado de hibernação entra em pane e acorda um passageiro mais de 100 anos antes. Após entender a sua condição o passageiro entra em desespero e tenta a todo custo voltar a cápsula de hibernação, pois, o futuro que o aguardava era terrível: morrer sozinho com um sistema de AI que tudo provia, menos a ausência de outro ser humano com quem pudesse tornar o destino que o aguardava menos amargo. Desesperado, ele escolhe uma passageira e a retira da hibernação, mas não conta para ela a verdade até que ela descobre que foi ele o causador da desgraça dela. No final o filme mostra que se eles não tivessem saído da hibernação antes do tempo previsto todos os passageiros e tripulação da nave morreriam devido à falha do sistema. O filme nos revela muito desse mundo sombrio proposto pela AI. No final, os dois resolvem viver juntos fora da cápsula, envelhecem e morrem enquanto a nave continua em direção ao seu destino. Entretanto, eles deixam um jardim cultivado não por AI, mas por mãos humanas para o fim da jornada daqueles passageiros. Não podemos entregar nossas vidas em sua totalidade às tecnologias. Elas existem para nos proporcionar conforto, prosperidade e paz, na medida em que ela pode fazê-lo sob o nosso total controle. Ao deixar as máquinas no total controle das vidas poderá ter consequências desastrosas para a humanidade.