O socialismo como sistema de governo prima pelo gigantismo do Estado. Para os socialistas o Estado deve ser uma engrenagem gigantesca, não necessariamente eficiente, altamente interventor e planificado em todas as áreas em que atua. A sua espinha dorsal é a burocracia. Todo o grande Estado precisa de excessivo processos operacionais, um imenso volume de pessoas para fazer a mesma operação de um e, papel e carimbos. Toneladas de documentos, milhares de departamentos, setores, divisões, seções, unidades e sabe mais o quê. Tudo isso tem um nome: burocracia. 

        Com efeito, todos os cidadãos e cidadãs têm verdadeiro horror à burocracia porque simplesmente foi, é ou será sua vítima. Infelizmente a burocracia ao atingir diretamente o cidadão fere de morte toda a sociedade, pois o que se vê é a nação se arrastar sob o peso da obesidade do governo levando ao atraso em todos os seguimentos da sociedade e custos altíssimos para manter a máquina estatal funcionando. A burocracia causa um imenso atraso no desenvolvimento econômico e social em qualquer lugar que ela se instale. Entrementes, é notório que a burocracia quando usada com fins políticos o estrago que ela causa a sociedade é algo incalculável, pois o seu uso passa a ser o de aparelhamento político do Estado. Regimes totalitários como o de Stalin mantinha o gigantismo do Estado a fim de manter a população e toda a estrutura da sociedade sob o seu total controle. Neste contexto, os pensadores da liberdade tais como os integrantes da Escola Austríaca de Economia acreditavam que a burocracia, mais que um inchaço no corpo do Estado, era um instrumento de poder.

       Destarte, o economista austríaco Ludwig von Mises (1886-1973) foi um dos maiores críticos da burocracia. Em 1944, década da grande Segunda Guerra Mundial, com efeito, período do império da burocracia, sobretudo na Europa, Mises escreveu um pequeno tratado intitulado Burocracia. Nesta obra, Mises vai ao cerne da questão e expõe as falhas dos sistemas burocráticos; compara a eficiência o setor privado no tocante a produção e gestão de bens em relação aos resultados sofríveis do setor público, sobretudo quando o assunto é política econômica; dar evidências de que os resultados do planejamento central estatal, longe de resolver os problemas da sociedade é o seu maior causador; crítica a não compreensão do cálculo econômico por parte do poder público; derruba as falácias esquerdista que sustentam que o sistema de governo socialistas  traz mais resultado positivo para o bem-estar geral das pessoas que os sistemas capitalistas e sua ânsia por lucros. Portanto, ao escrever Burocracia Mises propõe uma reflexão sobre o quanto pesa no bolso e na vida do indivíduo viver sob regimes burocratas.

        Mises argumenta que há um total desconhecimento do que significa realmente o termo “burocracia”. Para a maioria é qualquer tarefa cujo fluxo é feito de forma mais longa e envolvendo muitas pessoas quando poderia ser menor e com menos pessoas. Mises entende que se quisermos entender o que o termo burocracia significa, precisamos entender o próprio termo, dissecando o, principalmente, compreendendo qual a relação que ele tem com os fins lucrativos no esquema de uma sociedade socialista. Mises argumenta que para conhecermos os méritos e deméritos da burocracia basta colocar as suas operações com fins lucrativos na sociedade capitalista. Logo se verá que os lucros são reduzidos ou até mesmo inexistentes quando visto da ótica do lucro. Mises aponta, deste modo, que “gestão burocrática é o método aplicado na condução de questões administrativas e cujo resultado não tem qualquer valor monetário no mercado“. Por isso ele afirma que a burocracia não é mais que uma consequência de coisas e mudanças mais profundas e que não basta reduzir os processos e pessoas para então achar que o problema foi resolvido. O inchaço das instituições públicas com a criação de novos departamentos e agências associada à intervenção desenfreada do Estado na coisa particular com um nível hierárquico de pessoas e funções impensável no setor privado é que contém os germe dos excessos da burocracia. Por isso que Mises adverte:

Os críticos da burocracia caem no erro de atacar apenas um sintoma e não coração do mal

Donde Mises conclui:

Temos aí o resultado do novo sistema de governo que tanto mais restringe a liberdade individual quanto mais tarefas vai te levando ao governo. O culpado não é o burocrata é o sistema político.

Sendo que:

A tendência à rigidez burocrática não é algo inerente à evolução dos negócios, é um resultado das políticas construídas para roubar a motivação do lucro, o papel que lhe cabe no esquema da organização econômica da sociedade.

 Portanto:

Nossa tarefa é, por meio da investigação intelectual, descobrir quais são as características peculiares da gestão burocrática enquanto distinta da gestão comercial, pois não se pode medir os objetivos da administração pública em termos de dinheiro e nem avaliar o estado atual por meio de métodos contábeis. 

        Quanto menos burocracia melhor, temos observado e vivenciado ao longo das décadas após a publicação desta obra de Mises. Mas não caiamos no equívoco de achar que Mises é contra a burocracia.  Não é. Ele foi um burocrata nato, pois trabalhou para o Estado a maior parte da sua vida. O que ele faz nesta obra é nos convida para a reflexão sobre os excesso da burocracia como elemento complicador, em diversas áreas da gestão pública, da fluência das coisas públicas, sobretudo aquela direcionada para pensar e resolver os problemas econômicos, esta última, ideia que Mises se opõe.

       Esperar que um dia os serviços públicos tenham a mesma eficiência encontrada nos setores privados é também um erro, dado que como Mises expõe nesta obra, a burocracia é um mal necessário inerente à condição de governo estatal. Entretanto, devemos cobrar das pessoas governantes mais eficiência no uso dos recursos públicos e meios para melhor prestar serviços à população sem que torne vida dela um martírio com tantos impostos e regulamentação, controles etc.