O livro A Virtude do Egoísmo é uma coleção de ensaios escritos pela filósofa e escritora Ayn Rand, publicada originalmente em 1964. A obra contém reflexões da filosofia objetivista de Rand, que defende a razão, o individualismo e a liberdade como valores fundamentais para a plena realização do indivíduo. Nestes ensaios Rand argumenta que o egoísmo racional é a base moral para uma sociedade livre e próspera e que o coletivismo e o altruísmo são a sua antítese moral. Para Rand o coletivismo não é superior ao indivíduo, pelo contrário a insigne autora afirma que o trabalho produtivo vem da mente racional e, portanto, não é produto do coletivo, mas do indivíduo.
De acordo com a sua filosofia, o egoísmo não deve ser confundido com o altruísmo, que ela considera um conceito moralmente falho. Em vez disso, Rand defende que o indivíduo deve buscar a sua própria felicidade e realização pessoal, desde que não viole os direitos dos outros. Ela argumenta que a busca pela felicidade individual é a base do progresso humano. Isto porque ao pautar por uma vida voltada para seu eu, o indivíduo moralmente racional e produtivo é obrigado a conviver com os outros. Neste sentido, Rand postula que a atitude de cooperação voluntária com os outros indivíduos é a forma mais eficiente de alcançar objetivos em comum, pois é na realização de objetivos individuais que nascem as condições para que todos sejam felizes.
Para entender a filosofia de Ayn Rand é preciso conhecer alguns conceitos fundamentais da estruturação do pensamento randiano. Noções como valor, indivíduo, metafísica, egoísmo, moralidade e ética adquirem significados e sentidos diretos e objetivos. Rand define assim a moralidade e a ética,
“a moralidade é um código de valores que guia as escolhas e as ações do homem, escolhas e ações que determinam o propósito e o rumo de sua vida. A ética, como ciência, busca descobrir e definir esse código”.
Rand acredita que valor tem que ter um propósito objetivo e um aplicação bem direcionada, pois para ela,
“valor é aquilo pelo que alguém age para obter e/ou manter. Valor não é um conceito primário, pois pressupõe uma resposta à pergunta: de valor para quem e para quê? Pressupõe uma entidade capaz de agir para alcançar um objetivo frente a uma alternativa. Onde não há alternativas, não pode haver objetivos nem valores“.
Eis aqui o exato significado axiomático do objetivismo como algo que se volta para o indivíduo. Se o valor não tem um propósito a que servir, estamos falando da ausência de propósito em uma sociedade sem escolhas. Para Rand o conceito de valor no âmbito moral e ético se aplica unicamente à vida, ou seja, ao indivíduo, razão pela qual ela postula,
“é apenas o conceito de ‘vida’ que torna possível o conceito de ‘valor’. Só para um ser vivo as coisas podem ser boas ou más”.
Para Ayn Rand o conceito de valor está atrelado a vida. Para ela só existe valor porque existe vida (vale uma ressalva nesta asserção: a vida a que Ayn Rand se refere é a vida ativa produtiva). Ayn Rand não vê sentido em falar de valores éticos de uma pedra, mas faz todo o sentido pensar em termos humanos. Rand sustenta que é o conceito de vida que torna o valor possível.
É desse pensamento que Ayn Rand extrai a sua noção de bem e mal e consequentemente o que é a ética da perspectiva do objetivismo. Por essa razão Ayn Rand atrela valor a um objetivo. Seus personagens são guiados por objetivos e dos quais extraem a sua ética. Em seus romances os personagens são alimentados pela dor de um mundo que não os compreende mas que eles ignoram.
Agora, de que maneira um ser humano descobre o conceito de “valor”? Por quais meios ele toma consciência da questão do “bem e do mal” em sua forma mais simples? Mediante as sensações físicas de prazer ou dor.
Para Rand, nossas ações nascem das escolhas que fazemos para interagir com a realidade unicamente pelos nossos interesses e necessidades objetivas. O rumo e o propósito das nossas vidas são determinados justamente por essas escolhas. Esse código de valores é a moralidade da filosofia de Ayn Rand, é a ética objetivista. Porém, Ayn Rand acredita que como fins últimos para que se alcance uma civilização verdadeiramente sadia, é preciso desafiar a ética moderna que se opõe radicalmente a mente, a razão e a realidade, exatamente os elementos fundacionais da filosofia objetivista.
À primeira vista, as ideias objetivistas de Ayn Rand causam uma certa indignação, sobretudo, nos espíritos mais progressistas, ideias e valores que lhe são absolutamente estranhos. Entretanto, segundo Ayn Rand, o objetivismo não é uma coleção isolada de ideias egoístas que em detrimento ao indivíduo se ignora o sofrimento alheio. Aqui também se faz necessário entender o que significa sofrimento no objetivismo.
Toda a filosofia de Ayn Rand está inscrita nos seus romances. Ali os princípios da filosofia de Ayn Rand são a base moral para a construção dos seus personagens. A primeira vista, Hank Rearden, um dos principais protagonistas do romance A Revolta de Atlas, da própria autora, leva a crer que o objetivismo é uma doutrina moral baseada na total insensibilidade aos problemas alheios. O mesmo ocorre com Dagny Taggart, outra personagem aparentemente desprovida de qualquer sentimento altruísta, razão pela qual é perigoso fazer algum julgamento moral da obra sem o entendimento correto da filosofia do objetivismo. Após a compreensão dos seus personagens o leitor percebe que aquilo que o objetivismo ensina tem um significado importante para a construção de uma sociedade realmente livre. Boa leitura!
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