Não é estupidez afirmar que vivemos a era da estupidez, por mais paradoxal que pareça. Também é factual que em algum momento das nossas vidas tenhamos cometido algum tipo de estupidez. Isso faz parte da vida, dos erros e acertos inerentes à evolução humana. Às vezes ser estúpido pode ser uma questão de sobrevivência. O problema é quando a estupidez ultrapassa os limites do racional, beirando mesmo a barbárie.
Um observador muito atento logo percebe que as ideias e comportamentos que permeiam as sociedades modernas, sobretudo as ocidentais, têm levado a humanidade ao abismo moral. Não obstante, o fundamentalismo religioso, a proliferação das ideologias, a ascensão do totalitarismo, bem como as abordagens das teorias críticas, do pós-modernismo, do pós-colonialismo e do identitarismo são algumas vertentes do pensamento político e social modernos que não deixam outra alternativa que não seja ver a humanidade como a besta que imprime ataques devorando o próprio corpo. Em outras palavras, estamos no século em que a estupidez humana alcançou patamares absurdos. De fato, é impossível imaginar que esta situação não pode piorar. Assim, chegamos ao fundo do poço. Mas a origem da estupidez não se localiza nas instituições. Estas não são estúpidas, mas geridas pelos estúpidos. Portanto, a estupidez tem origem direta e incontestavelmente na figura do indivíduo.
Para refletir sobre os porquês de termos chegado a este ponto de extrema estupidez, a leitura do livro “As Leis Fundamentais da Estupidez Humana” é de suma importância. De autoria do historiador Carlo Maria Cipolla (1922–2000), o livro aborda a estupidez como um comportamento nocivo com graves consequências para os indivíduos. Mas é mais que isso, uma vez que diz muito sobre as ideias políticas da sua época que envolveram o mundo em duas grandes guerras. Diz, sobretudo, da capacidade das pessoas de trazerem desgraças para si e para os outros.
Na primeira lei da estupidez, Cipolla argumenta que o número de pessoas estúpidas é muito maior do que imaginamos. De fato, na atualidade, por exemplo, a estupidez nos meios políticos, artísticos, entre os intelectuais e pessoas ricas e influentes chega a ser uma aberração. Infelizmente a estupidez desce para as camadas menos favorecidas que somada à pobreza e a ignorância dá legitimidade às camadas superiores.
“Todo mundo subestima, sempre e inevitavelmente, o número de indivíduos estúpidos em circulação.”
A estupidez pode ser disfarçada por títulos, discursos obscuros e posição social. Para Cipolla, a pessoa estúpida vive entre nós e independente de quem ela seja. Esta é a segunda lei da estupidez.
“A probabilidade de determinada pessoa ser estúpida independe de qualquer outra característica dessa pessoa.”
Cipolla observa que “a terceira lei fundamental pressupõe, embora não declare isso explicitamente, que os seres humanos classificam-se em quatro categorias básicas: o inteligente, o vulnerável, o bandido e o estúpido”. Desta asseveração Cipolla conclui que das quatros categorias a estupidez é prejudicial, inclusive, para a pessoa estúpida. Entretanto a estupidez tem direta relação com as outras três categorias.
“Uma pessoa estúpida é uma pessoa que provoca perdas para outra pessoa ou um grupo de pessoas enquanto não obtém nenhum ganho para si mesma, e possivelmente incorre em perdas.”
Há uma intrínseca relação, uma espécie de atração entre as pessoas estúpidas. Pessoas estúpidas atraem pessoas estúpidas criando uma rede de estupidez. Quantas pessoas apoiam pessoas estúpidas e as suas ideias absurdas? Muitas, ousamos afirmar. É o que nos mostra Cipolla.
“Pessoas não estúpidas sempre subestimam o poder de causar danos dos indivíduos estúpidos. Em particular, pessoas não estúpidas se esquecem constantemente de que em todo momento e lugar, e sob qualquer circunstância, lidar e/ou se associar com pessoas estúpidas resulta infalivelmente em um erro altamente custoso.”
Por fim, Cipolla afirma na sua quinta lei da estupidez que “uma pessoa estúpida é o tipo mais perigoso de pessoa.” De fato, a estupidez de Hitler causou a morte de milhões de pessoas, incluindo 6 milhões de judeus; a estupidez de Stalin e Mao deu cabo da vida de mais de 70 milhões de seus concidadãos, só para citar os mais assustadores. Nós, simples mortais, também somos estúpidos. A nossa estupidez está claramente retratada no nosso cenário nacional quando elegemos demagogos para nos governar. Então meus compatriotas, somos sim politicamente estúpidos, cidadãos estúpidos.
As ideias estúpidas são armas de destruição em massa que quando postas em mão de pessoas estúpidas matam milhões de indivíduos, destroem valores e afunda as civilizações em era de morte e barbárie.
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