O livro Não Basta Não Ser Racista, Sejamos Antirracistas, foi escrito pela socióloga Robin Diangelo. Ela é uma ativista na luta contra o racismo e aborda na obra o delicado tema do racismo velado, um problema real. Para Robin Diangelo, ser branco gera uma série de respostas indutoras de estresse, ao reinstalar o conforto racial e manter o domínio em uma hierarquia racial benéfica para os brancos. A esse processo Robin Diangelo denomina Fragilidade Branca, uma confusa tentativa de culpar os brancos por todos os males que recaíram sobre os negros. A socióloga assegura que “embora seja acionada pelo desconforto e pela ansiedade, a fragilidade branca nasce da superioridade e do direito. Ela não é fraqueza per se. Na realidade, é um meio poderoso de controle racial branco e de proteção das vantagens brancas”.
A autora tem a seguinte posição sobre a sua obra: “Este livro está assumidamente arraigado na política de identidade. Sou branca e me dirijo a uma dinâmica branca comum. Escrevo principalmente para um público branco; quando uso os termos nós e nos, refiro-me à coletividade branca. Esse uso pode até abalar leitores brancos, porque rarissimamente somos convidados a pensar sobre nós ou sobre nossos semelhantes brancos em termos raciais”. Aqui, Robin Diangelo vê a pessoa branca como um único paciente que precisa de remédio.
Desta maneira, Robin Diangelo deixa claro em sua obra que todos os brancos são culpados pelo racismo. Ela afirma: “Este livro é para nós, para os progressistas brancos que tão frequentemente — a despeito de nossas intenções conscientes — dificultamos tanto a vida das pessoas de cor. Acredito que progressistas brancos são os que causam diariamente o maior prejuízo às pessoas de cor”. Então a ilustre autora joga todo o peso nas costas da esquerda americana e por tabela na esquerda em todo o mundo.
Segundo Robin Diangelo, o racismo nasce quando preconceitos coletivos recebem o apoio de autoridades legais e é submetido ao controle institucional. Desta maneira, na visão da autora, o indivíduo não é racista, mas é o Estado que transforma o indivíduo preconceituoso em racista. Curiosamente, toda a obra de Robin Diangelo parece ser direcionada para os indivíduos e não para as instituições e autoridades legais. Portanto, ao atribuir a causa do racismo a uma abstração, automaticamente, todos os indivíduos tornam-se culpados pelo racismo.
Para Robin Diangelo o racismo não é apenas do branco para o negro. Existe o racismo do negro para o branco. Mas neste caso, segundo a autora, não se pode chamar essas pessoas de racistas, pois elas carecem do poder institucional e social que transformem o seu preconceito e discriminação em racismo. Com efeito, Robin Diangelo reconhece a existência do racismo reverso, porém não vê sentido neste conceito, pois conforme as suas palavras, “o preconceito sempre se manifesta em ação porque a maneira segundo a qual vejo o mundo determina minhas ações nele. Todos têm preconceitos e todos discriminam. Diante desse dado de realidade, inserir o adjetivo “reverso” não faz o menor sentido”. Com isso ela procura justificar o injustificável e ignora o fato de que o preconceito e a discriminação são repreensíveis seja do branco para o negro ou do negro para o branco. Os negros que são preconceituosos e discriminam outros negros alerta a autora, são tão racistas quantos os brancos e ainda por cima beneficiam os brancos com a sua atitude racista. Nas palavras de Robin Diangelo: “Quando digo que só brancos podem ser racistas, estou afirmando: só os brancos têm poder institucional, social e privilégios sobre as pessoas de cor. Os negros não têm o mesmo poder e privilégio sobre os brancos”. Entretanto, ela faz uma observação importante: “Nesse contexto, a supremacia branca não se refere às pessoas brancas individualmente e a suas ações ou intenções individuais, mas a um sistema de dominação política, econômica e social abrangente”.
Em síntese, ser antirracista, na concepção da socióloga Robin Diangelo, é uma postura que exige do branco uma eterna retratação. Mas que isso, um branco para ser antirracista precisa fazer uma autocrítica publicamente e jamais se colocar em posição de discordância frente a atitudes e falas dos negros, ainda que nós não tenhamos razão, como uma forma de reconhecer que nunca nos foi dado as oportunidades que os brancos tiveram. Isso é um contrassenso.
É óbvio que o racismo existe. Ignorar questões raciais não elimina o problema como acreditam os defensores do chamado racismo daltônico, pois raça e racismo existem quer queiramos ou não. Do mesmo modo, o racismo aversivo não leva a um diálogo construtivo e nesta perspectiva concordamos com Robin Diangelo. Entretanto, é preciso viver a dinâmica real do racismo e somente os negros tem essa experiência. Então, a questão é saber o que nós negros queremos. Que sociedade queremos viver e com quem queremos compartilhar os nossos sonhos e realizações. Pergunta que precisa ser feita ao negro comum e não o militante. Neste sentido, as teorias identitárias pouco têm a oferecer.