Atualmente, fala-se muito em feminismos plurais. De acordo com a visão da escritora e filósofa feminista Djamila Ribeiro, ao organizar a coleção feminismo plurais, objetiva celebrar a diversidade em todas as suas formas. Na concepção de Djanira Ribeiro há várias vertentes do feminismo. Quando o movimento surgiu não se falava em pluralismo, mas em reivindicações pelo direito das mulheres. Por isso, conhecer a origem do feminismo é fundamental para evitar distorções e enviesamento das suas ortodoxias.

No Brasil, o feminismo teve consagrados nomes que diferente de hoje buscavam legitimar os direitos das mulheres. Nesta perspectiva, a leitura dos livros “O Voto Feminino no Brasil”, de autoria da historiadora Teresa Cristina de Novaes Marques e o livro “O Início do Feminismo no Brasil”, da coleção de Vozes do Feminismo, é  de suma importância para a compreensão do que é verdadeiramente o feminismo. 

O primeiro livro, O Voto Feminino no Brasil, mostra a história da evolução do movimento feminista desde a Revolução Francesa, exemplificando a luta determinada da francesa Olympe De Gouges ( 1755 —1799) e do mesmo período, apresenta a obra de Mary Wollstonecraf(1759—1797) ” A Reivindicação dos Direitos da Mulher e da Cidadã”. No Brasil, segundo Teresa Marques, foi Nísia Floresta(1810—1855) quem traduziu em 1832 a obra de Mary Wollstonecraft, e por este feito Nísia Floresta é considerada uma das pioneiras do feminismo no Brasil. O livro “O Voto Feminino no Brasil” cataloga de maneira concisa e bastante alucinativa o trabalho de outras pioneiras sufragistas como Josefina de Azevedo (1851), Bherta Lutz (1894—1976) e Olinda de Figueiredo Daltro (1860—1935) esta última considerada por alguns,  como a primeira feminista do Brasil.

Outras feministas como Almerinda de Farias Gama (1899—1999), primeira negra feminista letrada e Carlota Queiroz (1892—1982), todas com significativas contribuições na luta pelos direitos das mulheres. A supracitada obra faz justiça ao registrar o posicionamento de ilustres homens da época  entretanto, nesta obra, ficam registrados importantes nomes masculinos da época, destacando-se alguns como Joaquim Saldanha Marinho (1806—1895), Costa Machado (1829—1877), José Antônio Saraiva (1823—1895), José de Alencar (1829—1877), José Bonifácio (1763—1838) evidenciando assim o importante apoio masculino ao movimento feminista.

Já a segunda obra é toda devotada biografia de Leolinda Daltro, mulher, mãe e feminista que abriu mão de cuidar dos seus filhos para dedicar a sua vida à causa das mulheres. Todas essas mulheres retratadas nas duas obras são exemplos da verdadeira luta das mulheres pelos seus direitos. Sem vitimismo e sem alusões ao “patriarcado” e apoiadas nas suas épocas por muitas personalidades masculinas, essas mulheres conquistaram “os lugares de fala” que hoje, como destaca de Djamila Ribeiro, é ocupada por ausência de representatividades autênticas.

Revisitar essas vozes do passado é importante porque há um grande equívoco na real compreensão sobre o verdadeiro significado do que é o movimento feminista. Alguns movimentos igualitaristas, a exemplo do movimento LGB, se apossaram das ideias centrais do feminismo e fez destas, ao seu modo, a sua bandeira pela liberdade e igualdade de direito das “minorias”. Na verdade essa luta de reivindicação sempre existiu, pois onde havia uma ou mais mulheres reivindicando direitos e liberdades iguais aos dos homens, onde houvesse mulheres se opondo ao autoritarismo dos seus maridos, namorados e chefes, estava caracterizada a luta pelo Direito da mulher. Deveras, feminismo não é obrigatoriamente movimento homossexual.

A marcha histórica do feminismo é longa.  Pode-se afirmar que o movimento começou no século XVIII, nas figuras da inglesa Mary Wollstonecraft e da francesa Olympe De Gouvêa, fazendo destas as  pioneiras na reivindicação dos direitos das mulheres no. Na sociedade machista da sua época, ambas tiveram papeis marcantes e sacrificaram a tranquilidade das suas vidas ao se posicionarem contra a opressão, o preconceito e a submissão que viviam as mulheres. Certamente, antes delas houve mulheres que lutaram por seus direitos, mas a história delas ganharam tremenda relevância graças à Revolução Francesa. 

Entretanto, ao olhar para o feminismo moderno e o feminismo antigo uma questão vem à baila: o que é o feminismo? No passado, as duas primeiras onda do feminismo deixam claro pelo que as mulheres lutavam. Mas por que as feministas de hoje lutam? O que elas querem? O que elas reivindicam? Não há consenso entre as feministas modernas sobre pelos quais valores elas lutam. 

Há um fato curioso acerca do que venha ser a feminista e o que as define. Para o senso comum todas as feministas são lésbicas. Ledo engano: toda lésbica é feminista, mas a recíproca não é verdadeira. Vejamos como exemplo a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, autora do best seller “Hibisco Roxo”, é uma feminista que dedica toda a sua força intelectual para acabar com a opressão que vivem as mulheres, sobretudo no seu país de origem. Entretanto, ela é  casada e mãe  de vários filhos. 

Há ainda as que são lésbicas mas que discordam de muitos dogmas e ideologias do feminismo como a intelectual feminista Camille Paglia. Suas obras vão de encontro aos discursos feministas atuais. Nelas ficam evidentes que há uma nítida diferença entre o feminismo atual, o chamado feminismo da terceira geração, e o feminismo clássico que reivindicava igualdade entre os sexos. A escritora Christina Hoff Sommer declara que existem dois grupos de feministas: as feministas da equidade e as feministas de gênero.  O primeiro defende a igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres, o segundo nutre um profundo desprezo pela figura masculina e tem como objetivo acabar com a masculinidade. Com efeito, no Ocidente a fragilidade masculina é evidente e continua em declínio. Sem referencial, o homem moderno ocidental  vive no narcisismo e covardemente não reage à ditadura das feministas radicais.

Assim como as duas autoras supracitadas, muitas mulheres feministas têm se preocupado com as feições que o feminismo está adquirindo.  O que antes era a luta pelo direito das mulheres de trabalhar, votar, estudar, ser livre tornou-se arma de exterminação em massa da masculinidade, desconstrução de valores tão caros à formação da humanidade. Mulheres e homens se completam na sociedade. O feminismo deveria manter as suas tradições.