Aquilo que é pensado como mito, será para sempre um mito. Viverá no imaginário e somente lá terá reconhecimentos e possibilidades. É um mundo imaginário, de faz de contas. Assim é o mito do comunismo. Assim vivem os que nele professam a sua fé na crença da perfectibilidade humana. Assim vivem e sonham os homens que querem reconstruir tudo, o mundo, o homem.
O comunismo e todas as suas descendência são mais que um mito, é uma ilusão. É necessário muitos esforços mentais e espirituais para tornar uma ilusão em realidade. O preço que se paga é alto. Invariavelmente o mito ilusionista do comunismo se torna um monstro disposto a convencer a todos de que tem a solução universal para resolver os problemas deste mundo.
O maior pecado do comunismo é a promessa. Ele prometeu um mundo perfeito, habitado por pessoas perfeitas. Um mundo de deuses sem os erros humanos. Um paraíso na terra. Se existe um paraíso após a morte, talvez as vítimas do comunismo o tenham conhecido, pois na terra elas apenas sentiram na pele o inferno contido na promessa comunista.
Mas, por assim dizer, se pode insinuar que as utopias têm lá sua graça: um pouco de imaginação e se tem um lugar espiritual perfeito. Serve para aplainar as estradas esburacadas das nossas jornadas. É um lugar de fuga temporária para repouso do espírito e tonificação da mente. Mas é só até aí. Uma pequena pausa entre o fim absoluto e o mundo real. Depois volta-se à realidade. A realidade comunista que se viu desde a Revolução Bolchevique foi de uma estrada pavimentada por milhões de mortes e a ditadura de uma elite mortal e nunca, jamais, a dos proletários como pregava Karl Marx.
Entretanto, a promessa do paraíso, do mundo perfeito, igualitário e livre só pode ser concebida num mundo mitológico. Onde o homem pode ser um deus e mudar o curso da história, redesenhar a natureza humana. A crença no comunismo é uma fé mitológica. Eis aí o perigo, porque mitos não morrem, se conformam no limbo entre a realidade e a fantasia. O comunismo é uma fantasia que se pensa realidade e se perpetua nas mentes de milhões que acreditam na religião comunista, o marxismo.
Com efeito, muitas nações tombaram sob o peso do comunismo. A Romênia foi uma delas e um dos últimos redutos do comunismo no século XX. Caiu, e a sua queda foi marcada pela morte do seu líder, Nicolae Ceausescu, e do regime tendo o povo como protagonista. O povo romeno se rebelou contra o regime e seu líder, destruindo ambos. Deveras seria daí que as reflexões mais poderosas sobre os males do comunismo brotaram neste grande país.
Lucian Boia foi, de certa forma, um filho bastardo da revolução comunista romena, como foram todos aqueles pensantes que nasceram na época da sua ascensão e contra ela se rebelaram. Tornou-se crítico do regime e um desmistificador do comunismo muito cedo. Para ele o comunismo nasce do sonho milenarista, por isso mitológico. Com razão, mostra que o marxismo que se diz científico nada mais é que uma mitologia que nem chega perto de ser uma ciência pela simples ausência de metodologias necessárias nas pesquisas científicas. Com o propósito de externar suas reflexões sobre as fábulas comunistas, o filósofo romeno Lucian Boia, escreveu uma interessante reflexão sobre o mito comunista intitulado “A Mitologia Científica do Comunismo”.
A referida obra explana em sete capítulos os pensamentos críticos de Boia acerca do comunismo e as suas falácias. A obra é “o estudo que precisávamos”, parafraseando a sua prefaciadora Bruna Tornay. De fato, milhares de livros e artigos já foram escritos contra e a favor do comunismo. Mas o que torna o livro de Lucian Boia interessante e de agregado valor, são as sutilezas e perspicácias do autor ao abordar temas já muito batidos. Escrever sobre, a favor ou contra, o comunismo não é uma tarefa difícil, mas fazê-lo com originalidade não é tão comum assim. Isso faz da “A Mitologia Científica do Comunismo” uma obra concluída, cuja mensagem se torna clara ao final da leitura: a de que o comunismo nasceu num momento histórico em que a alma do homem estava muito suscetível às influências do capeta. Ela veio através do comunismo, uma religião, cujo livros sagrados, “O Manifesto do Partido Comunista” e “O Capital” do seu messias Karl Marx, prometeu o paraíso na terra, porém esqueceu de avisar aos seus defensores que antes teriam que viver o inferno na terra. Assim se fez o mito comunista, cujas desastrosas consequências custaram a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. O pior é que em pleno século XXI o mito do comunismo continua firme, ainda que muitos o professam veladamente, esquivam-se às questões que mostram que o comunismo não está morto como querem acreditar.
Analisemos as principais ideias do livro “A Mitologia Científica do Comunismo” de Lucian Boia em que começa com uma investigação dos seus fundadores e as principais ideias que fundamentam o comunismo, assim como mostra a tentativa por trás da suas teorias de reinventar a história, na busca de uma nova sociedade e de um novo homem. Mesmo que para isso seja necessário lutar contra a natureza, redesenhando-a à luz da utopia comunista.
Claro que figuras como Karl Marx e Engels não poderiam ficar de fora da sua análise e é por eles que o autor puxa a toada, pois conhecer as origens do comunismo e sua descendência é de vital importância para entender o hipnótico movimento que se diz mundial, quiçá universal. A primeira questão importante é saber o quanto de originalidade contém a ideia do Comunismo. De cara já se vê que as ideias comunistas carecem de originalidade. Como se vê na leitura da obra de Boia, ela surgiu bem antes da Revolução Industrial, período mais ou menos a que se atribui o início do comunismo.
Na supracitada obra parece que houve um “comunismo antes do comunismo”. Fica evidente ao lê-la que é assentado sobre a ideia do milenarismo que Lucian Boia reflete sobre os fundadores do comunismo e deste brota as suas sementes. Para Boia, “o sonho milenarista com seus episódios revolucionários do final da Idade Média e do início da modernidade, prefigura manifestamente os grandes traços da ideologia comunista”. Ou seja, não há originalidade nos princípios comunista, visto que como exemplifica o renomado autor, houve um comunismo primitivo muito antes do próprio “comunismo primitivo”. O que ambos, milenarismo e comunismo, têm em comum são princípios que se pretendem a transformação radical do mundo e da espécie humana. Como veremos mais adiante os comunistas, liderados por personagens como Stalin, levaram a ideia às raias da loucura. De Charles Fourier a Karl Marx, Deus cai e, mais que colocar o homem no centro do universo (antropocentrismo), como se pensou na Renascença e se fortaleceu no iluminismo, a fé comunista pretende transformar o homem no próprio Deus.
A dialética do materialismo histórico perpetrada por Marx busca na concepção de Boia é uma tentativa de reinventar a história. Nisso se funda todo o idealismo por trás da teoria materialista de Karl Marx. Para Marx a história de todas as sociedades é a história das lutas classes, e é apenas isso que significa o seu materialismo histórico. Ele é a negação total da história em si com suas tradições e culturas em detrimento a uma só história, a do conflito de classes, proletariado contra capitalistas. Determinismo e simplificação é a marca deste pensamento.
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