Zizek é um filósofo materialista comunista e controverso. Mas é uma personalidade ousado e em alguns pontos apaixonante.

No livro Violência, Zizek faz uma análise profunda das origens da violência, não a violência urbana, caracterizada pelos assaltos, crimes de traficantes e homicídios, mas a violência das grandes manifestações públicas. Zizek revela a violência por trás das cortinas do poder que manipula as massas, como a Revolta dos jovens dos subúrbios na França em 2005 analisada no livro.

Por exemplo, na visão de Slavoj Zizek, Hitler não foi violento: foi cruel, mas não violento no sentido de manifestação das massas sobre um controle oculto, muito mais perigosa e nociva.

Para mostrar sua visão da violência, a que ele se refere no livro, chega a comparar Adolf Hitler com Mahatman Gandhi fazendo a intrigante afirmativa de que Gandhi foi mais violento que Hitler. Na visão do autor, não significa que Hitler não deve ser repudiado por seus terríveis atos criminosos e nem justifica a atitude antissemita deste, pois posto que foi violento no sentido do horror para alcançar seus objetivos, mas que Gandhi, sem levantar um dedo contra seus opositores e com a campanha de não violência contra o domínio Inglês causou um levante popular muito mais perigoso e que desta forma forneceu as condições para a violência que fala Zizek.

Considerado antissemita por alguns críticos, Zizek argui sobre os judeus e faz uma declaração um tanto polemica: “o judeu esta para o antissemita assim como o antissemita esta para o judeu” e completa: “nada mais seria que uma forma truncada de apresentar o lugar-comum de que, na mente de cada nazista que odeia judeus, deve haver também um judeu ficcional para nazista odiar.”

Zizek é realmente complexo e nos leva a condená-lo por seus pensamento se não for feito uma análise profunda destes.

Para explicar seus pensamentos Zizek, faz uma comparação curiosa ao parafrasear Berttold Brecht: este teria perguntado “O que é um assalto a um banco comparado a fundação de um banco” e Zizek diz “o que são as explosões devastadoras e violentas de uma guarda vermelha empenhado na revolução cultural comparadas com a verdadeira Revolução cultural, que é a dissolução permanente de todas as formas de vida ditada pela reprodução capitalista?.”
É isso mesmo que nos leva pensar ao ler Zizek: ele é comunista, não um comunista marxista-lenista, mas revestido do comunismo perdido no tempo e no espaço.
Os pensamentos de Zizek sobre a tal violência ficam claro em…

“Se há uma tese unificadora nas reflexões que se seguem, é a de que existe um paradoxo semelhante no que diz respeito a violência. Os sinais mais evidentes de violência que nos vem a mente são atos de crime e terror, confrontos civis, conflitos internacionais. Mas devemos aprender a dar um passo para trás, a desembaraçar-nos do engodo fascinante desta violência “subjetiva” diretamente visível, exercida por um agente claramente identificável. Precisamos ser capazes de perceber os contornos dos cenários que engendram essas explosões. O passo para trás nos permite identificar uma violência que subjaz aos nossos próprios esforços que visam combater a violência e promover a tolerância.”

e define dois tipos de violências…

“A questão e que as violências subjetivas e objetivas não podem ser percebidas do mesmo ponto de vista: a violência subjetiva e experimentada enquanto tal contra o pano de fundo de um grau zero de não violência.”

e é enfático em declarar…

“Em vez de confrontar diretamente a violência, este livro propõe seis visões marginais sobre ela. Há razões para mirarmos obliquamente a violência. A premissa subjacente de que parto e a de que há algo intrinsecamente mistificador numa consideração direta: a alta potencia do horror diante dos atos violentos e a empatia com as vitimas funcionam inexoravelmente como um engodo que nos impede de pensar. “

e se mantém polêmico ao se referir assim ao holocausto.

“O mesmo se pode dizer, evidentemente, da chamada não fiabilidade das descrições verbais dos sobreviventes do Holocausto: uma testemunha capaz de descrever claramente sua experiência em um campo de concentração desqualificaria a si mesmo em virtude de sua clareza. A única abordagem adequada do tema de que trata este livro, portanto, será aquela que nos permita elaborar variações sobre a violência mantidas a uma distancia respeitosa em relação as vitimas.”

Outros textos do livro:

“Há mais nessa terceira via do que um cinismo barato. Antes, ela lembra uma piada soviética sobre Lenin muito conhecida. Sob o socialismo, o conselho que Lenin dava aos jovens, sua resposta a questão sobre o que deveriam fazer, era: “Estudar, estudar e estudar”. Estas palavras foram repetidas infinitas vezes e ate pintadas nas paredes das escolas. O que nos leva a piada: perguntam a Marx, Engels e Lenin o que prefeririam ter — uma esposa ou uma amante? Como seria de se esperar, Marx, bastante conservador no que dizia respeito a esfera privada, responde: “Uma esposa!”, enquanto Engels, um autentico bon vivant, opta por uma amante. Para surpresa geral, a resposta de Lenin e: “Gostaria ter as duas!”. Por que? Haveria nele um traço de jouisseur decadente, escondida por trás de sua austera imagem de revolucionário? De maneira alguma – e Lenin explica: “Assim eu poderia dizer a minha mulher que vou ter com minha amante, e a minha amante que preciso ver minha mulher…”. “E ai iria pra onde, então?”, “Para um lugar isolado, onde pudesse estudar, estudar e estudar.”
“Não foi exatamente isso o que Lenin fez depois da catástrofe de 1914? Retirou-se para um lugar isolado na Suíça, onde “estudou, estudou e estudou” a logica de Hegel. E é isso que devemos fazer hoje, quando nos vemos bombardeados pelas imagens midiáticas da violência. precisamos estudar, estudar e estudar suas contas.”

Zizek