Bauman um dos mais notáveis pensadores da atualidade, estudioso dos aspectos sócias e políticos que envolvem a sociedade moderna, traz à tona um tema preocupante: a juventude e a educação. Este é o tema do livro Sobre Educação e Juventude, de autoria de Bauman. O sociólogo Zygmunt Bauman, discute com Riccardo Mazzeo, as preocupações com o futuro da juventude sobre educação e consumo, família e sociedade.
O sistema educacional ocidental atualmente aplicado à maioria das escolas em todo mundo, segue diretrizes políticas estabelecidas por intelectuais e governos interessados em construir um padrão educacional para a manipulação das cabeças da juventude. Com apoio de órgãos como OCDE e UNESCO (ver o livro de Pascal Bernardini “Maquiavel Pedagogo”) os então educadores seguem uma agenda estabelecida por estes organismos. O resultado é o estado caótico em que se encontra a educação escolar, sobretudo a educação básica ministrada pelas escolas públicas. Os jovens estão sendo paulatinamente transformados, através deste sistema nefasto, em instrumentos para consumir tudo o que pode, eleger cegamente seus governantes, desacreditar a família, a religião e a ordem social. Em suas reflexões sobre a educação que a juventude é submetida, Bauman clama pelo retorno do sistema de educação em que os valores seculares sejam considerados e colocados em pauta na discussão sobre o futuro dos jovens.
Os jovens querem mudar o mundo porque eles são bombardeados com idéias que os impelem a gritar por mudanças. Mas são gritos sem ecos. Se perdem na imensidão em que eles se encontram. Esses gritos quando reverberados, são incompreensíveis. Os jovens gritam, porém os gritos não são seus. Eles não não sabem porque gritam.
Essas idéias são frutos da imaginação “cósmica” de intelectuais da educação como Paulo Freire. Assim como este, outros em todo o mundo propagaram a “nova cartilha do saber” e se postaram como transformadores da humanidade. Bauman explica:
“Eu diria que hoje estamos todos lançados a uma condição perpetuamente “revolucionaria”. Tanto quanto posso apreender, em tais condições, o modelo de ensino de Mastrocola é uma receita para incapacitar, e não para habilitar os jovens a se juntar a companhia dos mais velhos. O único propósito invariável da educação era, e continuará a ser a preparação desses jovens para a vida segundo as realidades que tenderão a enfrentar. Para estar preparados, eles precisam da instrução: “conhecimento prático, concreto e imediatamente aplicável”, para usar a expressão de Tullio De Mauro. E, para ser “prático”, o ensino de qualidade precisa provocar e propagar a abertura, não a oclusão mental.”
“Somos instigados, forçados ou induzidos a comprar e gastar a gastar o que temos e o que não temos, mas que esperamos ganhar no futuro. A menos que isso passe por uma mudança radical, são mínimas as chances de dissidência efetiva e de libertação dos ditames do mercado. As possibilidades em contrário são esmagadoras.”
“Outra inestimável contribuição de Bathon. ainda intimamente relacionada ao nosso tema, é a distinção entre três níveis de educação. O nível mais baixo é a transferência de informação a ser memorizada. O segundo. a “deutcroaprendizagem”, visa ao domínio de uma “estrutura cognitiva” à qual a informação adquirida ou encontrada no futuro possa ser absorvida e incorporada. Mas há também um terceiro nível, que expressa a capacidade de desmontar e reorganizar a estrutura cognitiva anterior ou desembaraçar-se totalmente dela, sem um elemento substituto. Esse terceiro nível foi visto por Bateson como um fenômeno patológico, antieducativo…”
Existe solução? Provavelmente. Certamente ela passa por um reforma no sistema educacional em direção não ao novo, inusitado e estranho, mas em direção a encontrar no passados os valores que perdemos.
“Nada menos que uma “revolução cultural” pode funcionar. Embora os poderes do atual sistema educacional pareçam limitados, e ele próprio seja cada vez mais submetido ao jogo consumista, ainda tem poderes de transformação suficientes para ser considerado um dos fatores promissores para essa revolução.”
“Nem a televisão é nem os tabloides alteram o nosso formato; o que fazem é trazer à superfície, revelar e expor o que está “dentro” de nós, já pre-processado pela forma de vida que nos foi -não por escolha -destinada. A forma de vida em que a geração jovem de hoje nasceu, de modo que não conhece nenhuma outra, é uma sociedade de consumidores e uma cultura “agorista” inquieta e em perpétua mudança – que promove o culto da novidade e da contingência aleatória. Numa sociedade e numa cultura assim, nos sofremos com o suprimento excessivo de todas as coisas, tanto os objetos de desejo quanto os de conhecimento, e com a assombrosa velocidade dos novos objetos que chegam e dos antigos que se vão.”
“Lembre-se de que todos ou quase todos os heróis contemporâneos das histórias de ascensão social sujeitos que fizeram fortunas de bilhões de dólares a partir de uma única ideia feliz e de uma oportunidade auspiciosa, as encarnações atuais da ideia de uma vida de sucesso, de Steve Jobs, fundador da Apple, & lack Dorsey, inventor do Twitter, e David Karp, fundador do Tumblr -, todos, sem exceção, se evadiram do sistema educacional. (Karp bateu o recorde por não ter passado um único dia no colégio após abandonar o ensino médio no primeiro ano.) Damien Hirst, outra encarnação do sucesso instantâneo que leva a uma fortuna fabulosa, um ídolo da “Britart”, a variedade mais lucrativa da atual produção artística na Grã-Bretanha, confessa sua surpresa diante do que se pode conseguir com notas medíocres nas escolas de artes com um pouco de sorte e uma serra. Será que não completamos o circulo desde o mito do Patinho feio“, do engraxate que se torna milionário graças a um golpe de sorte combinado com grande dose de bom-senso, a uma versão “nova e aperfeiçoada” do mesmo mito, embora com o engraxate substituído por um compactador de mensagens? Em algum ponto desse movimento circular se perdeu a promessa de equiparar as oportunidades por meio de uma educação universal, capaz de promover uma vida feliz.”
“Os jovens da geração que agora está entrando ou se preparando para entrar no chamado “mercado de trabalho” foram preparados e adestrados para acreditar que sua tarefa na vida e ultrapassar e deixar para trás as histórias de sucesso de seus pais; e que essa tarefa (excluindo-se um golpe cruel do destino ou sua própria inadequação, eminentemente curável) está totalmente dentro de suas possibilidades. Não importa aonde os pais conseguiram chegar, eles chegarão mais longe. Pelo menos é assim que foram ensinados e doutrinados. Nada os preparou para a chegada do novo mundo inflexível, inóspito e pouco atraente, o mundo da degradação dos valores, da desvalorização dos méritos obtidos, das portas fechadas, da volatilidade dos empregos e da obstinação do desemprego; da transitoriedade das expectativas e da durabilidade das derrotas; um novo mundo de projetos natimortos e esperanças frustradas, e de oportunidades mais notáveis por sua ausência.”
“É difícil imaginar a miséria e a angústia de nossos netos quando despertarem para sua herança de um volume até então inimaginável de dívida nacional exigindo pagamento; ainda não estamos preparados para visualizá-lo, mesmo agora, quando, por cortesia de nosso próprio governo, nos foi oferecida a oportunidade de provar a primeira colherada da bebida amarga que eles, nossos netos, serão forçados a ingerir aos caldeirões. É difícil imaginar hoje o alcance total da devastação social e cultural que tende a se seguir à construção de uma versão monetária do muro de Berlim ou das muralhas da Palestina na entrada dos centros de distribuição do conhecimento. No entanto, precisamos e devemos imaginar em nome de nosso futuro comum.”
A educação não pode ser falada em sentido retórico, não pode ser deixada nas nuvens dos intelectuais, não pode ser um instrumento de mudança do mundo descrito numa agenda perversa. A educação tem o papel de fazer o jovem olhar para o passado e encontrar nele os valores que ele precisa preservar, e estabelece as diretrizes para o futuro dos seus descendentes em base familiares, religiosa e moral. Os jovens de hoje devem ser preparados para construir a sociedade do amanhã sob sólidas estruturas seculares. Os jovens devem apreender a preservar e respeitar a família, defender com honra e justiça a propriedade, amar a sua pátria, seguir uma vida reta baseada em princípios religiosos que preguem respeito às esses valores. Isto inicia-se na família e passa pela escola: a responsável por consolidar os valores familiares aos valores dos saberes científicos, linguísticos e filosóficos.
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