DO COMUNISMO

Existem muitos livros sobre o comunismo. Há livros bons e ruins. Certamente o livro Do Comunismo do filósofo romeno Vladimir Tismaneanu é um bom livro sobre o comunismo.

O livro é um reflexão sobre o radicalismo ideológico do comunismo descrito por um ex-comunista. Suas reflexões focam principalmente sobre o comunismo do leste europeu no auge do leninismo, na Romênia, Albânia, Bulgária e Polônia. A narração do autor é marcada por forte censo histórico-crítico que revela mais que uma opinião. É a constatação da pior de todas as experiências do século das ideologias radicais:
“Este livro nasceu como esforço de oferecer um tratamento teorético histórico-memorialístico da experiência comunista do século das ideologias radicais e dos campos de concentração.”
O projeto comunista não deu certo em nenhuma parte do mundo. Até hoje os remanescentes do comunismo como Cuba e Coréia do Norte alimentam os ideais comunistas à custa do sofrimento do seu povo. O comunismo já nasceu condenando o homem a perder a sua identidade e a vagar para sempre nas mitologias do novo homo communistarum. Tismaneanu esclarece:

“Três mitos desabaram juntamente com a queda dos regimes leninistas: a  infalibilidade, a invencibilidade e a irreversibilidade nos sistemas comunistas. O comunismo foi uma forma de ressentimento. Foi um fundamentalismo político moderno, um engajamento num projeto histórico absoluto.”

O regime comunista do alto da sua onipotência não foi capaz de perceber que não se pode salvar o náufrago secando o mar. O autor que já foi comunista, compreendeu a origem do mal ao refletir que a única forma da realização do sonho comunista seria através da destruição do indivíduo em prol de um mundo inalcançável.

“O comunismo é uma utopia coletivista – igualitária que exerceu uma fascinação para o militarismo, especialmente para os intelectuais revolucionários… Por que tantos homens caíram no comunismo? O segredo é: fraternidade, liberdade e igualdade… a época da razão culminou no universo congelado do terror racionalizado.”

“Há  duas direções na mensagem de O Manifesto do Partido Comunista que antecipam as elaborações futuras da teoria marxista. De um lado, é  a ênfase colocada no desenvolvimento autônomo, orgânico da consciência de classe. De outro lado, temos a glorificação e o culto da violência.”

O autor analisa o comunismo na Armênia, Albânia, Polônia e Bulgária sob o domínio ideológico stalinista. O leste europeu vivia um pesadelo:

“O Stalinismo representou a ideologia do partido  e da burocracia  de estado e marcou uma ruptura clara do conceito inicial de internacionalismo da revolução bolchevique. […] Em consequência, a URSS passava a ser a vanguarda do movimento internacional comunista e o centro dinâmico da política mundial. […] Ao mesmo tempo, Stalin deixou a marca da sua personalidade sobre a natureza do sistema: obcecado pela traição, pelas subversões e pelos inimigos, criou uma cultura política baseada na suspeição e no terror.”

O comunismo é um zumbi que acredita que a utopia não morreu. Que a luta do materialismo-histórico ainda vive nas mentes privilegiadas da esquerda caviar. No Brasil o Foro de São Paulo busca a ressurreição da besta que promete o paraíso para no final lança todos no inferno. Certamente o zumbi esconde a putrefação por baixo de uma nova pele. O autor revela que o comunismo está se adaptando às mudanças.

“Em dezembro de 1991, o império multinacional denominado URSS foi dissolvido. A ruínas do comunismo na Europa ofereceu espaço às mitologias políticas alternativas, fato que determinou a proliferação do que denomino os fantasmas da salvação: substitutos ideológicos cuja função principal é unificar o discurso público e oferecer aos cidadãos uma fonte de identidade fácil de reconhecer como parte de uma comunidade vagamente definida etnicamente ou politicamente.”

Esta é  a face do comunismo romeno que Vladimir nos mostra numa visão universalizada de quem nasceu no meio do comunismo, conheceu as suas entranhas e compreendeu o seu lado nefasto.

Do Comunismo (2007) foi lançado no Brasil em 2015 pela editora Vide Editorial e traduzido por Elpídio Mário Dantas Fonseca.