Como ler livros, de Mortimer J. Adler é um estudo para quem quer se aprofundar na arte de ler bem.

As estatísticas mostram que hábito de ler livros não faz parte do cotidiano da maioria das pessoas. Não importa o nível social e de esclarecimento que um indivíduo ou povo possua. Para a maioria “ler dá sono” como dissera certa personagem da política brasileira.

Se tratando do Brasil, a situação é alarmante. Segundo o jornal Estadão “44% da população não leem e 30% nunca compraram um livro”. Isso é assustador se considerarmos, ainda segundo o Estadão, que dentre 40% a maioria lê a bíblia com certa frequência, sendo este na maioria das vezes o único livro lido a vida toda depois dos anos escolares. Daí, explicado o baixo indicador de 1,5 livros lidos por ano no Brasil. Fonte: http://cultura.estadao.com.br/blogs/babel/44-da-populacao-brasileira-nao-le-e-30-nunca-comprou-um-livro-aponta-pesquisa-retratos-da-leitura/ de maio de 2016

Todavia, supondo que esta estatística fosse superada no Brasil, por exemplo, e o brasileiro passasse a ler o equivalente à Índia, considerado o país que mais lê no mundo com mais de 10 horas diárias de leitura segundo Marketing Research World ao publicar o Índice de Cultura Mundial em 2018, estaríamos subindo o podium dos campeões de leitura? Se for considerada apenas a questão quantitativa a resposta é sim, mas se for levado em conta a qualidade da leitura com alto índice de compreensão e retenção, então estamos longe das medalhas.

A qualidade da leitura é mais importante que a quantidade. O professor e filósofo brasileiro Olavo de Carvalho sustenta que o brasileiro ler muito mal, pois não compreende o que lê. É aqui que entra a importância de ler o livro de Mortimer J. Adler, “Como Ler Livros”.

Para Mortimer Adler a leitura tem que elevar o nível de maturidade intelectual.

“Este livro almeja não apenas leitores, mas todos aqueles que desejam se tornar leitores. Foi escrito especialmente para leitores de livros. No entanto, o público-alvo não são as pessoas que apenas desejam ler, mas as pessoas que desejam crescer intelectualmente enquanto leem.”

Neste sentido, devemos ler livros que nos façam refletir, que seja revelador, que seja desafiador, pois a mente precisa ser estimulada com pensamentos profundos e complexos para conseguir se expandir. Para Mortimer Adler a eficiência da leitura é proporcional ao esforço e a habilidade que o leitor aplica ao ato de ler. Esta é uma máxima de ouro de Mortimer Adler.

“Em geral, a regra é esta: quanto mais esforço, melhor – sobretudo em relação aos livros difíceis, isto é, aos livros que são capazes de elevar nossa mente de um estado de entendimento inferior para um estado de entendimento superior.”

Mortimer Adler estruturou o Como Ler Livros para ser um curso e um guia das melhores práticas de leitura em quatro níveis de leituras:

O primeiro nível, o elementar, é aquele que o indivíduo alcança com a formação no ensino básico e fundamental na sua formação escolar. Aqui Mortimer Adler analisa os diversos estágios do ensino fundamental e médio, e aponta as características e domínio que deve ter o aluno ao concluir estes anos escolares. Critica, sobretudo, o tempo que o aluno leva para dominar a leitura desde a educação infantil até o ensino médio, e alerta que infelizmente, no mundo muitos alunos chegam às universidades sem o mínimo de proficiência em leitura.

“Temos que ser mais que uma simples nação de alfabetizados funcionais. Devemos ser uma nação de leitores verdadeiramente competentes, no sentido amplo e profundo da palavra competente. O mundo do futuro não se satisfará com nada menos do que isso.”

O segundo nível, a leitura inspecional. Esta ocorre quando sistematicamente o leitor folhea o livro com o intuito de obter informações gerais e organizadas. Muito utilizada em pesquisa, as técnicas propostas por Mortimer Adler farão com que o leitor conheça, principalmente, o conteúdo do livro de forma clara e resumida. Isto permitirá que este decida ler o livro ou não, pois já tem uma visão geral do conteúdo e o conhecimento do assunto tratado no livro.

“A sondagem ou pré-leitura de um livro é sempre uma boa ideia – é uma prática necessária quando você não sabe se o livro merece uma leitura mais precisa e cuidadosa. Você saberá sondando-o.”

O terceiro nível é a leitura analítica. Este consiste em leitura crítica em que há uma profunda interação entre o leitor, a obra e o autor. Esta interação coloca o leitor e o autor como críticos da obra, uma vez que se cria um debate em torno dos assuntos contidos no livro. Aqui o leitor deve, antes de ler o livro com profundidade, ter feito uma leitura inspecional, conhecer bem o autor e o contexto histórico em que a obra foi produzida assim como o tema principal abordado. Ensina Mortimer Adler.

“A leitura não acaba no entendimento do livro. Ela tem de ser coroada por uma crítica, por um julgamento.”

Por fim, o quarto nível de leitura, a sintópica. Considerada a excelência em leitura.

A maior característica deste nível é a leitura comparada. Esta consiste num conjunto de técnicas que permite que o leitor se coloque acima da obra sem perder o respeito por ambos.  Todos os demais níveis devem ser dominados antes de o leitor iniciar os estudos deste nível. Exige-se muito do leitor, pois leitura comparada é a disciplina em que o leitor ler mais de um livro ao mesmo tempo e tem que buscar uma enorme quantidade de informações de outros livros lidos para então montar suas ideias e reflexões. O leitor passa a ser um investigador, e a obra e o autor o seu objeto de estudo e investigação.

“Ler bem, no sentido de ler ativamente, não é, portanto, apenas um bem em si mesmo nem é apenas um meio de progredir no trabalho ou na carreira. É algo que também serve para manter nossa mente viva, sempre crescendo.”

Após ler os preciosos ensinamentos de Mortimer Adler, não há como não voltar as atenções para o maior problema dos brasileiros: a educação.

Estamos em queda livre neste quesito. Se as autoridades e o indivíduo não tomarem medidas drásticas em relação à educação, continuaremos colocando-nos entre as piores posições nas estatísticas. Uma vergonha para o nosso povo.