1968 o Ano Que Não Terminou. Aqui Zuenir Ventura revela os sonhos e tragédias de uma época em que a classe média estudantil formada por intelectuais e artistas sob a influência marxista sonhava com um novo mundo e o fim de qualquer forma de opressão do povo, sobretudo na forma de ditadura militar. 1968 fora um dos anos mais tensos da história moderna do Brasil. Segundo Ventura, os intelectuais e estudantes de esquerda queriam uma revolução política e alcançaram uma revolução cultural.
“Vivia-se apenas o começo das mutações antropológicas que se iam tornar nítidas mais adiante: a ambiguidade sexual, os cabelos masculinos mais compridos, a confusão dos papéis, uma certa indiferenciação dos signos aparentes dos sexos, o declínio do macho.”
Do conflito entre a classe média jovem e a ditadura, das diferenças entre a utopia do mundo sem fronteiras e a burguesia, do marxismo ao capitalismo surge um movimento que nos deixou um legado cultural, principalmente na música: o tropicalismo. Caminhava – se é cantava – se e seguia – se a canção, cantava Vadré, que naquela época junto com as canções de Chico Buarque eram os hinos dos revolucionários e libertários.
Figura ilustres e muitos conhecidas como FHC, Tonia Carrero, Paulo Francis, Glauber Rocha, Ziraldo, Caetano, Gil, José Dirceu e tantos outros personagens midiáticos e da políticas estavam lá (e continuam hoje) entoando seu cântigo de guerra contra o sistema. Assim, frente a muitas porradas nos lombos dos manifestantes pelas polícias, fortaleciam – se os movimentos de esquerda no Brasil com o surgimento dos grupos de lutas armadas (MR-8, VAR, COLINA – aqui se insere Sra. Dilma Roussef) que foram perseguidos pelo AI-5 de Costa e Silva. Fora época de revolucionários como Lamarca, Marighella e outros que queriam tornar o Brasil o núcleo do Comunismo na América do Sul (e o pesadelo continua hoje sob a forma do PT, PSOL e PC do B). Era o momento das utopias onde o que importava eram os fins.
“Onipotente, generosa, megalômana, a cultura pré-64 alimentou a ilusão de que tudo dependia mais ou menos de sua ação: ela não só conscientizaria o povo como transformaria a sociedade, ajudando a acabar com as injustiças sociais… Essa ilusão terminou em 64; a inocência, em 68.”
O livro revela muito do que o Brasil é hoje. Vivemos no Brasil atual um momento diferente daquela época. Em 1968 o Brasil não estava dividido. Era a esquerda de estudantes, artistas e intelectuais contra um sistema sob o controle da elite burguesa e dos militares. A classe pobre tocava sua vida alheia a um movimento que não enchia a sua barriga, por isso não compreendia. Hoje o Brasil está dividido, mas o movimento é inverso: sob a forma de sindicatos e movimentos sociais a classe pobre tornou-se aliada dos ideais esquerdistas e ocupa os bancos das universidades junto a classe média de esquerda. Em 1968, nas universidades estavam a classe média reclamante de esquerda, hoje os governos de esquerda levaram a classe pobre às universidades, que impedida de pensar, sofre um sistemático processo de doutrinação ideológica. O resultado é a formação de duas correntes de pensamentos: nós e eles. Um curto caminho para o florescimento do ódio.
Assim o movimento que começou em 1964, ganhou peso em 1968 e não deu em nada ( a não ser no fim das tradições e bons costumes), mostra-se hoje apoiado pelos seus líderes do passado e nos dentes travados da juventude ideologicamente doutrinada de hoje. A história parece se repetir.
Zuenir Ventura (1931) é jornalista brasileiro e lançou 1968 O Ano que Não Terminou em 1988. Zuenir é inclusive um dos personagens do livro. Esta terceira edição foi lançada em 2013 pela editora Objetiva. Contém 309 páginas.
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