Quando a angústia chega sorrateira, a alma perde o vigor. O sentimento que volita o universo do filósofo André Conte-Sponville, encontra-se em seu livro: Bom Dia Angústia. Essa saudação à angustia, representa o sentimento de mergulho no precipício que causa a revolução em redemoinhos de medos, ressentimentos, amargura, dor e sofrimento; que nos faz sentir vazios e íntimos da morte cuja foice, angústia, nos aguarda.
“Navegar é preciso, viver não é preciso”, o aforismo do general romano Pompeu (70 a.C.), imortalizado nos versos do poeta português Fernando Pessoa, traduz com simplicidade a difícil empresa humana de viver diante dos desafios dos mares bravios da vida. A fonte da angústia!
Quando nos perdemos na profundidade da nossa alma, nas chamas ardentes que queimam sobre nossos restos mortais vivos destroçados por esse sentimento cruel, Sponville vê a angústia como uma parte inseparável do nosso ser. Viver é ter angústia.
“Certas pessoas parecem separadas da angústia apenas pela pobreza de sua imaginação, como se fosse por demais tolas ou por demais inteligentes para ter medo. Invejo-as às vezes, mas erroneamente. A angústia faz parte de nossa vida. Abre-nos para o real, para o futuro, para a indistinta possibilidade de tudo. Ter de libertar-se dela é o que ela própria nos indica suficientemente, pelo desconforto.”
“Fazem-me rir nossos pequenos gurus, que querem proteger-nos dela. Porque não nos curam, em vez dela, da morte? Porque não nos protegem, em vez dela, contra a vida? Não se trata de evitar, e sim de aceitar. Não de curar, e sim de atravessar.”
Navegamos em direção ao desconhecido. Vivemos, navegamos e nos afogamos em nossos medos e frustrações. Seria um medo imaginário como pensa Sponville? Se não o enfrentamos porque não existe- a angústia é a imaginação, o sonho ou o sonambulismo? Tateamos na escuridão. Vejamos o que diz Sponville.
“A angústia é um medo imaginário e necessário – sem objeto real, sem saída possível. É por isso que nos pega e nos corrói. Como se poderia vencer, quando não há nada para enfrentar?”
“[…] A angústia sempre acompanha os nossos sonhos, ou os precede […] Nada está adquirido nunca, nada está prometido nunca, senão a morte.”
O filosofar nos faz imune a angústia, assegura Sponville, mas à vida navega-se, não filosófa-se. Ondula-se para todos os lados, balanço, enjoo que faz mal para a alma, sem bem fazer, mas sofrer. A dor é grande, as incertezas, maiores, bem maiores. Não se vê terra, o tempo se afasta e não passa, as ondas chicoteiam os pensamentos, depressões no mar e precipita-se no abismo. Depressão e a alma sofre, encolhe-se. A angústia se mostra, se avoluma, toma forma e escraviza.
“Se o sábio é quem já não tem angústias, o filósofo talvez seja quem já não se angustia de tê-las. Precisamos de tão pouco para viver: como é possível que precisemos de tanto, ao que parece, para viver bem?”
Angústia, ansiedade, depressão: a alma não suporta e o corpo sucumbe sob os seus pesos. Somos marinheiros navegando em mares desconhecidos.
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