Para a compreensão da crítica que o Monsenhor Marcel Lefebvre (1901-1995) faz ao liberalismo em seu livro “Do Liberalismo à Apostasia”, duas palavras dão o tom às suas críticas: apostasia e conciliar. Por isso faz-se necessário uma breve análise dos seus significados para que haja melhor compreensão do mal que há muito tempo vem se espalhando pelas raízes da Santa Igreja.

Segundo o site “Significado” ─ https://www.significados.com.br/apostasia/, apostasia é “a ação de renegar algo, normalmente relacionado com a renúncia de uma religião ou da fé religiosa”. Ainda de acordo o mesmo site, o verbo conciliar vem de concílio, que na tradição cristã católica significa “reunião convocada por líderes religiosos para tratar de temas relacionados com a Igreja”. Logo, o livro é uma crítica à Igreja católica atual que renuncia a verdadeira fé cristã em troca de uma fé sem Deus.

Esta negação da verdade cristã, começou com os concílios ─ ato em que a Igreja reunia seus fiéis em torno do Cristo Jesus, filho de Deus, para discutir os assuntos mais importantes sobre a Fé e a Verdade cristã, bem como levar o evangelho aos quatro cantos do mundo através dos ensinamentos deixados por Jesus Cristo, nosso Senhor. Foram vários concílios realizados pela Igreja Católica ao longo da sua história, sendo os mais conhecidos deles, o Concílio de Jerusalém (Atos 15), Concílio de Nicéia (325 A.D e 787 A.D) até o último, Concílio Vaticano (1869/1870 e 1962/1965). Este último, para Lefebvre fincou no coração da Igreja o punhal do relativismo.

 O livro “Do Liberalismo à Apostasia” trata, então, de revelar aquilo que o autor chama de “a tragédia conciliar” ─ uma série de diretrizes e ações que está destruindo, sistematicamente, a tradição da Igreja Católica: o liberalismo católico. “Com o liberalismo religioso, não há mais mártires nem missionários, mas apenas destruidores da religião reunidos em volta de uma falsa promessa de paz”, declara Lefebvre. Este posicionamento custou ao autor do livro a alcunha de herege, entretanto isso não freou o seu desejo de restauração.

Dom Marcel Lefebvre argumentava que a Igreja Católica aceitou em seu seio às doutrinas seculares desde o século XVII com o advento do Iluminismo, permitindo assim que ideias que brotaram do naturalismo infestaram a cosmovisão cristã de tal forma que não deixa dúvida que o propósito desta mudança é a própria destruição do cristianismo; mais ainda, é a desconstrução da história e da tradição da Igreja Católica com a inserção de bispos, cardeais e até mesmo Papas que estejam de acordo com a ideia de substituir a tradição da Igreja por uma igreja secular. Indignado, Lefebvre desferia duros golpes contra as ideologias liberais inseridas no seio da Igreja: “Roma parece afogada em uma cegueira completa; a Roma de sempre está reduzida ao silêncio, abafada pela outra Roma, a Roma liberal que a ocupa. As fontes da graça e da fé divina se esvaem e as veias da Igreja canalizam por todo o seu corpo o veneno mortal do naturalismo”.

Horrorizado, Lefebvre ver no Concílio do Vaticano o maior causador da tragédia conciliar, um apelo a apostasia, “o maior desastre deste e todos os séculos passados desde a fundação da Igreja”. Lefebvre, denuncia neste livro que ao reconciliar a Igreja com o liberalismo, bem colocado pelo Cardeal Ratzinger ao responder que: “O problema do Concílio [Concílio Vaticano] foi assimilar dois séculos de cultura liberal”, diz Ratzinger.

O catolicismo liberal, é para o autor, a grande traição de Roma que os cristãos católicos carregam sobre si. Os verdadeiros princípios da Igreja, não comungam com as distorções da Igreja liberal, sustentado pelo pluralismo e por uma pretensa liberdade sem freios. Tudo isso contribui para a tentativa de destronamento de Nosso Senhor Jesus Cristo para dar lugar a um novo deus secular, a saber: o estado único, uma entidade abstrata, mundana que nada tem da ordem cristã.

O que Lefebvre busca em seu livro é a reconstrução da cidade católica em Cristo, ou seja, o retorno das tradições e a manutenção da verdadeira cosmovisão cristã. Entretanto, a Igreja avança, agora com o Papa Francisco, na direção de se tornar a Igreja liberal do deus plural, aceitando coisas condenáveis pelo dogmatismo ortodoxo cristão. Cabe aos fiéis cobrarem dos integrantes da cura, aqueles que estão a serviço dos poderes mundanos, que não representam o Deus único e senhor de todos os homens, o retorno à verdadeira fé cristã. Cabe aos fiéis resgatar entre as cinzas em que se encontra a Igreja, os valores que entre erros e acertos foram o sustentáculo, o suporte para bilhões de almas (o seu papel mais sublime) desde a sua fundação em Cristo.

Restaurar a Igreja, é reerguê-la com suas bases limpas. Restauradas da camada de impurezas que sufocam a sua essência e põem vendas nos olhos dos seus fiéis. A Igreja, como uma instituição governada por homens, cometeu erros. Porém a reparação dos seus erros não deve curvar-se aos preceitos liberais e progressistas da nova igreja, muita menos dobrar-se a ciência. Pelo contrário, é trilhando hoje, melhor que antes, os caminhos traçados por Jesus Cristo na condução dos seus filhos a caminho do Reino de Deus que repararemos os erros cometidos.

A Igreja deve mostrar para as gerações os seus erros e conduzir essas mesmas gerações à verdadeira Igreja, aquela que foi fundada por Jesus Cristo, sob a cabeça de Pedro ─ “Tu és Pedro e sobre esta pedra eu irei construir minha Igreja; e as portas do inferno não irão derrotá-la (Mt 16,18) ”. São os fiéis que guardarão as portas da Igreja de Cristo contra a entrada de Satanás, ao combater as ideias liberais incrustadas em sua doutrina.

Assim, retornar às sagradas tradições da Santa Igreja deve ser a missão de cada cristão. É o que Jesus Cristo espera, e foi para isso que ele deu a sua vida. Não há erros em Cristo Jesus, só há salvação. A Igreja é a nossa casa, onde se acolhem aqueles que a procuram, dispostos que estão a se entregar à vontade de Deus.