“Finalmente posso entregar nas mãos do leitor o pequeno livro, há muito prometido, sobre as narrativas da infância de Jesus. Nele, procurei interpretar, em diálogo com exegetas do passado e do presente, aquilo que Mateus e Lucas narram sobre a infância de Jesus, no início dos seus evangelhos”. Com estas notas o Bispo Joseph Ratzinger, na época Bento XVI (2005-2013), inicia em seu livro “Jesus de Nazaré, a Infância” um exame historicista da infância de Jesus. Para o cardeal Ratzinger, os textos bíblicos, em que Deus é o autor único e mais profundo, são “a questão da relação do passado com o presente faz parte, inevitavelmente, da própria interpretação. Com isso a seriedade da pesquisa histórica não diminui, mas aumenta”.
Nas palavras introdutórias do cardeal Ratzinger, “estou bem ciente de que esse diálogo, na ligação entre passado, presente e futuro, não poderá dar-se por completo e de que toda interpretação fica aquém da grandeza do texto bíblico” repousam a ideia da busca pela compreensão da história por trás dos textos bíblicos. É o eterno desejo do homem em buscar entendimento sobre os desígnios de Deus.
A infância de Jesus sempre foi envolvida no manto de mistérios e especulações. A própria Igreja Católica não parece ter uma ideia clara de quem foi Jesus na infância. Não explica, por exemplo, o grande hiato existente entre o nascimento de Jesus até os 33 anos quando começa o seu sacrifício pela humanidade. Então, o que a leitura desta obra do Bispo Ratzinger pretende? Há sempre muitas controvérsias quando altos membros da Igreja Católica, influenciados por ideias liberais, tentam esclarecer os mistérios da divindade.
O Bispo Ratzinger, nesta obra, parece buscar respostas refletindo sobre as narrativas de Matheus e Lucas no tocante à infância de Jesus. O Bispo analisa em seus textos se o que os autores escreveram é verdade. E o mais interessante, o que tem a ver conosco, com a nossa vida em um mundo muito diferente daquela época. Não me parece, que Ratzinger tenha respondido a estas perguntas, feitas por ele mesmo, nesta sua obra. Na realidade, ele não parece nem mesmo buscar a resposta para suas perguntas, mas lança-las, quase filosoficamente, aos escrutínios públicos. Talvez numa tentativa de abrir os porões do pensamento da Santa Igreja à nova ordem das coisas.
Para os fiéis, qual é a importância desta revelação, supondo que sejam possíveis respostas concretas? O que resgatamos para o fortalecimento da Igreja? Acho que em nada contribui. A história humana de Jesus Cristo, para mim, não é um fato importante que mereça estudos no sentido da Revelação. Sua missão, coloca-se acima de toda a matéria, de toda a história. Prefiro entender e aceitar que o mistério da vida de Jesus anterior a sua obra, pouca importância tem. É certo que este mistério faz parte do Mistério de Deus, e sendo um desígnio de Deus convém que desta forma seja tratada. Vamos cuidar das nossas almas e deixar a história para a história.
Isso não significa que a obra do Bispo Ratzinger não deva ser lida. Há muita seriedade em suas reflexões em busca da verdade, mas não me parece a Verdade, pois não é pela história que a alcançaremos, mas pelo caminho do coração, aquele de fato nos leva a Deus. A filosofia moral na história de Jesus Cristo é um legado para a nossa salvação. Portanto, não há passado, presente e futuro para a sabedoria de Deus, ela É e ponto final. Nosso Senhor Jesus Cristo é o portador das Boas Novas, aquele que veio nos preparar para o Reino de Deus. Devemos estar abertos apenas a isso. O resto é história e como tal não tem nenhuma expressão sobre as coisas da Fé.