A proposta de integração dos quatro discursos de Aristóteles

Aristóteles em Nova Perspectiva, obra do professor e filósofo Olavo de Carvalho, é um extraordinário estudo introdutório sobre os quatro discursos do filósofo grego Aristóteles (385 a.C.-323 a.C.), a saber: a poética, a retórica, a dialética e a lógica. Os estudos organizados neste pequeno tratado aristotélico pretende, segundo Olavo de Carvalho, responder às duas questões na perspectiva lógica de Aristóteles: primeiro, existe uma unidade na lógica dos discursos? Se existe, como esta pode contribuir para a construção de um saber interdisciplinar? Assim, diante destas questões, Olavo de Carvalho buscará o elo que entrelaça os quatro discursos. Ele acredita que a compreensão dos quatro discursos como uma unidade interdisciplinar é fundamental para a compreensão dos estudos da História da Filosofia, bem como, se fundamentar como meios para a concepção de uma cultura global e integrada, de uma educação global e integrada, nas quais se depositam hoje as melhores esperanças da humanidade. Olavo de Carvalho está convencido de que a filosofia de Aristóteles, quando analisadas nos horizontes dos quatro discursos, fundadas em princípios comuns, formam uma ciência única. 

Neste sentido, Olavo de Carvalho propõe a construção de uma Teoria dos Quatro Discursos que contenha as prerrogativas valorativas do discurso em si: O discurso humano é uma potência única, que se atualiza de quatro maneiras diversas: a poética, a retórica, a dialética e a lógica, declara Olavo de Carvalho. O objetivo é criar uma base de ideias a partir de semânticas ou significados que permitam interações entre as diversas disciplinas em discussões elegantes e altamente inteligentes. Olavo de Carvalho espera que, enfim, a investigação dos quatro discursos na busca pela unidade seja capaz de fornecer um poderoso instrumento de argumentação. Ele observa que: “as quatro ciências do discurso tratam de quatro maneiras pelas quais o homem pode, pela palavra, influenciar a mente de outro homem”.

A busca pelo elo perdido

Olavo de Carvalho sustenta que, para que haja alguma aceitabilidade o discurso precisa de um mínimo de credibilidade. Olavo explica que existem níveis de credibilidades para cada um dos discursos. Por exemplo: de acordo as reflexões do professor, o discurso retórico procura estabelecer a crença no verdadeiro e que transmita credibilidade. Ele argumenta que: “o discurso retórico tem por objetivo o verossímil e por meta a produção de uma crença firme que supõe, para além da presunção imaginativa, a anuência da vontade.

Para Olavo de Carvalho, os quatro discursos apoiam-se sobre quatro conceitos-chave. Para ele as reflexões sobre estes conceitos conduzem a conclusões óbvias de que eles são inseparáveis na arte do diálogo, portanto, tornam-se necessários como instrumentos para a interação humana no falar e no ouvir. Ele sustenta que: “o homem discursa para abrir a imaginação à imensidade do possível, para tomar alguma resolução prática, para examinar criticamente a base das crenças que fundamentam suas resoluções, ou para explorar as consequências e prolongamentos de juízo já admitidos como absolutamente verdadeiros, construindo com eles o edifício do saber científico”.

No capítulo “A Tipologia Universal dos Discursos” o professor Olavo de Carvalho ensina breve lições sobre a estrutura do discurso. Este seria algo como a aplicação prática da teoria dos quatro discursos. Ele explica que: Todo discurso é movimento, é transcurso uma proposição a outra. Tem termo inicial e um termo final: premissas e conclusão, com o desenvolvimento no meio. À unidade formal de discurso depende da sua unidade de propósito, isto é, da disposição das várias partes em vista da conclusão desejada.

Em síntese, a busca do professor Olavo de Carvalho por uma teoria sobre os quatro discursos revela que estes se conectam e se complementam na arte do pensar e falar. Não há, por assim dizer, diálogos criativos que não contenham os ingredientes que os deem forma e sabor como: imaginação e emoção, razão e realidade, o verossímil e a sofisma, articulando tudo num todo ao serviço da inteligência na construção do conhecimento para a evolução do homo sapiens. A ausência de exploração destes ingredientes na comunicação moderna, deixa a arte do falar muito pobre, por conseguinte, redunda em pobreza de conhecimento substancial, bem como, é um corolário indicativo de fraqueza de espírito do logo.

Hoje, seja no ensino médio ou superior, praticamente, as disciplinas do bem falar como retórica foram abolidas das grades curriculares. A consequência desta decisão irresponsável reflete diretamente na capacidade comunicativa, sobretudo dos mais jovens. A dificuldade de interpretação textual da maioria das pessoas, qualquer que seja a camada social a que elas pertencem, de fazer fluir o pensamento através da linguagem oral, denota a incrível ausência de estudo e compreensão daquilo que os gregos da antiguidade, tanto prezava: a arte de discursar, ou a arte do bem falar. Para que os cidadãos e cidadãs tenham capacidade de interagir na costura do tecido social é necessário que a capacidade imaginativa esteja plenamente associada às habilidades linguísticas que derivam de um largo estudo dos discursos. Neste sentido o conteúdo didático presente no ensino médio e universitário deixam a desejar. 


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