O Livro Negro do Comunismo revela em detalhes a contabilidade do maior genocídio de toda a história da humanidade cujos dividendos foram a morte de mais de 100 milhões de pessoas. Uma parcela considerável destas mortes recai sobre os ombros do ditador Mao Tse Tung, consequência direta do Grande Salto Adiante, seu programa de desenvolvimento econômico que pretendia posicionar a China entre as maiores potências ocidentais da época. Estima-se que mais de 45 milhões de chineses morreram de fome entre 1958 e 1962, período em que durou o referido programa, sendo 30 milhões o mínimo de mortes considerado pela maioria dos estudiosos do assunto. Este terrível momento da história da humanidade está minuciosamente descrito no livro A Grande Fome de Mao, escrito pelo historiador holandês Frank Dikötter (1961).
O livro A Grande Fome de Mao é a fotografia da capacidade que homens cegos pelo poder tem de levar o seu povo à desgraça. Em outras palavras, é a representação de como as ideologias podem conduzir a humanidade ao abismo. O totalitarismo sempre encontrará em seus anais a banalidade do mal como certa vez dissera Hannah Arendt. Para homens como Mao Tsé Tung qualquer meio é válido desde que os objetivos sejam alcançados. Em suas palavras, a fome era só um detalhe: “a revolução não é um banquete”. Destarte, o que são milhões de vidas humanas quando há o objetivo glorioso da revolução que levará todos ao paraíso? Para os comunistas, os fins justificarão os meios, sempre.
As consequências do Grande Salto Adiante
Ignorando completamente o subdesenvolvimento e a pobreza em que vivia a imensa maioria do povo Chinês, bem como os escassos recursos naturais e a ausência de desenvolvimento tecnológico, Mao esperava superar economicamente, em pouco mais de uma década, a poderosa Grã Bretanha e com isso mostrar para o mundo a superioridade do sistema econômico comunista, provando assim que o comunismo era a única alternativa possível como forma de governo capaz de realizar o sonho comunista. Com efeito, a meta uma vez alcançada, seria um ataque frontal e devastador ao capitalismo.
Evidentemente, Mao não dispunha de recursos financeiros e tecnológicos suficientes para pôr em prática o Grande Salto Adiante. Não obstante, para Mao este é um obstáculo facilmente transponível pois a mão de obra rude, analfabeta e “barata” estava disponível aos milhões. Por conseguinte, com uma área territorial vasta e climas diferenciados que propiciavam grandes o plantios de grãos somados aos sórdidos planos desinformação e promessas de tornar a China poderosa, Mao conduziu o povo chinês ao maior genocídio já registrado na história das civilizações.
No capítulo 3, Destruição de A Grande Fome de Mao, Frank Dikötter mostra os efeitos nefastos do Grande Salto Adiante. Como já fora aqui externado, o objetivo do grande plano era atingir números econômicos que colocassem a China de Mao à altura das grandes nações, sobretudo a Inglaterra. Deveras um esforço imenso que envolveria toda a força produtiva da China com consequências terríveis para o povo chinês. Desta maneira, o comércio, a indústria, a produção agrícola, assim como o inevitável dano causado à natureza atingiram números jamais imaginados, incluindo os custos de vidas humanas.
De fato, os milhões de mortes pela fome e o volume de assassinatos competiam com as milhares e milhares de toneladas de grãos produzidos. Há de se registrar que o número do desperdício nada deixa a desejar aos aqui apresentados, fruto da incompetência dos planejadores de Mao. Consequentemente, o gigantismo da produção agrícola e das obras de infraestrutura, assim como os milhões de chineses mortos foram a marca do Grande Salto Adiante.
Regimes totalitários não levam felicidades à milhões
Regimes totalitários não levam felicidades para milhões e sim a destruição de milhões de vidas. Regimes totalitários levam ao inferno na terra, posto que o livro é um relato inquestionável do que acontece quando o povo é submetido a tirania de ideologia assassina justificada em função da paz e do bem-estar, sob a proteção de abstração utópica de igualdade e justiça social.
Na China de Mao, o preço além da morte de milhões, foi a própria degradação do ser humano, levando uma parte da população, motivada pela fome, a ato abomináveis como o canibalismo (capítulo 36), assim como a perda de milhões de paupérrima habitações que frequentemente eram demolidas sob ordem do governo para a extrair das suas construções materiais para a agricultura e indústria. Tudo isso regado com violência, com muita violência, como mostra o texto abaixo extraído do capítulo 34, Violência, do referido livro:
O terror e a violência eram a base do regime. O terror, para ser eficaz, havia de ser arbitrário e impiedoso. Tinha que ser difundido o bastante para alcançar todo mundo, mas não precisava custar muitas vidas. Esse princípio era bem entendido. ‘Mate uma galinha para assustar o macaco’ era um dito tradicional. […] No entanto, durante o Grande Salto Adiante, algo de natureza completamente diferente aconteceu no campo. A violência tornou-se uma ferramenta rotineira de controle. Não era usada apenas ocasionalmente contra uns poucos para instilar medo em muitos, e sim dirigida, sistemática e habitualmente, contra quem parecesse vadiar, criar empecilhos ou protestar, sem falar em furtar ou roubar a maioria dos aldeões. Todo incentivo importante para o camponês trabalhar foi destruído: a terra pertencia ao Estado; o grão que ele produzia era adquirido a um preço que ficava com frequência abaixo do custo de produção; seu gado, ferramentas e utensílios não lhe pertenciam mais e, quase sempre, até sua casa era confiscada. O oficial local, por sua vez, enfrentava pressão sempre crescente para cumprir e tornar a cumprir em excesso o plano e chicoteava a força de trabalho em um impulso após o outro, sem descanso.
Mais que um relato jornalístico dos fatos, A Grande Fome de Mao é a constatação do mal que há por trás das ideologias socialistas quando em mãos de déspotas sanguinários disfarçados de cordeiros. O comunismo é um atestado cabal de onde o homem pode chegar quando se coloca no lugar de salvador da humanidade.