Ao meu ver,  estava faltando no Brasil uma obra que fosse um marco completo como referência bibliográfica do pensamento de direita cujo conteúdo,  de maneira objetiva, estivesse ao alcance de todos. Deveras, esta lacuna, ao que me parece,  está devidamente preenchida pelo notável trabalho do jovem Lucas Berlanza Corrêa, presidente do Instituto Liberal. Lucas é autor de outros livros que cobrem temas do liberalismo clássico e em 2017, no momento de ebulição da nova direita, ele escreveu O Guia Bibliográfico da Nova Direita, 39 livros para compreender o fenômeno brasileiro, uma enciclopédia de insignes pensadores do conservadorismo, ao qual faremos breves considerações.

     O livro, de grande valor para os calouros nos estudos das ideias conservadoras, contém 39 referências do que há de melhor em termos de obras produzidas em defesas do conservadorismo.  A exposição das obras é brilhantemente comentadas por Lucas Berlanza que dá um toque de leveza ao esclarecer temas complexos que estruturam o pensamento conservador.  Logo no início da leitura, chama a atenção o fato do autor fazer exposição entre pensamento conservador e liberal, conceitos políticos  que vulgarmente são caracterizados por algumas pessoas como antagônicos.  Na verdade, o autor nos mostra que há uma certa sinergia, não obstante as diferenças entre as duas noções, em suas bases dogmáticas iniciais. Faz sentido, afinal, a obra é uma guia bibliográfica para a direita, ou seja, cabe no mesmo contexto tratar tanto das ideias conservadoras quanto liberais. Mas ao relacionar a lista o autor se preocupou em que houvesse uma certa harmonia na exposição visando mostrar que na verdade o conservadorismo não se afasta do liberalismo, pelo contrário há muitos pontos em comum. Contudo a obra afasta-se do libertarianismo de Rothbard. Neste contexto ele faz algumas reflexões interessantes. 

     Voltando-nos especificamente ao conteúdo do livro, o autor revisita monstros sagrados do conservadorismo e do liberalismo como Edmund Burke, Frederic Bastiat, Friedrich Hayek, Ludwig von Mises, Raymond Aron, Roger Scruton, Michael Oakeshott, Russell Kirk, e também traz no mesmo patamar de importância nomes brasileiros tal que demonstra o reconhecimento do autor por nossos ilustres expoentes do pensamento conservador como José Guilherme Merquior, Ubiratan Borges, Donald Stewart Jr, José Osvaldo Meira Penna, além de outros brasileiros do nosso tempo como Bruno Garschagen, Ricardo Vélez Rodríguez, Antônio Paim e, claro, não poderia ficar de fora no atual cenário brasileiro aquele que foi o nosso mais aguerrido conservador, o professor Olavo de Carvalho. Assim, com uma abrangência magnífica, o autor nos conduz às idéias Conservadoras antigas e modernas. No final, o autor leva-nos à reflexão dos porquês de não devermos ler somente obras de direita, mas também de esquerda como Werneck, Max, Rousseau, pois somente com embasamento teóricos de ambas vertentes é que podemos desarmar os argumentos da esquerda. 

     Todavia, diante do que aqui foi exposto, qual é o real valor para quem se inicia nos estudos de consagrados autores do conservadorismo? Como a leitura desses clássicos contribuirão para que seja criada uma forte consciência política a tal ponto de criar um aparelhamento ideológico contras os excessos da esquerda? O fato de ter num só cenário a plêiade dos maiores nomes da direita conservadora, de maneira nos permitir refletir sobre os pontos de convergência de suas ideias, dá ao leitor uma oportunidade de fazer um estudo profundo sobre as origens das ideias conservadoras e com isso capacitá-los para construção de argumentos que permitam defender a sua filosofia com conhecimento bem estruturado e devidamente embasado nas premissas conservadoras; que permita refutar as retóricas esquerdistas, mas não só isso, sobretudo que seja capaz de acabar com a hegemonia da esquerda que há mais de quarenta anos vem impondo as suas vontades.

O conservador se insurge contra soluções autoritárias; a diferença traz progresso e desenvolvimento, desde que produza seus conflitos dentro das regras do jogo.”

“A “nova direita” quer ser uma força social que ao menos se equipare às suas adversárias, como é razoável em qualquer país de democracia sadia.”

“Essa “direita” poderosa e onipresente, um mal absoluto a atrasar o Brasil, não passa de uma lenda, estrategicamente concebida e disseminada pelos esquerdistas para sustentar suas teses tresloucadas e situá- los sempre na posição de vítimas enfrentando o “sistema”.”

 

  Conclusão 

     Depois de décadas adormecida, a nova direita desperta cambaleante como quem acorda de ressaca após um “porre”. São incautos.  Quem não se lembra de alguém bem conhecido na política afirmar “companheiro, não existe essa coisa de esquerda e direita…” sim, aquela figurinha paz e amor. E assim, nós da direita, passamos nossos dias ressentidos e apáticos fazendo cara e bocas para a esquerda que se aparelhava a olhos nus, debaixo dos nossos narizes, enquanto seguíamos com as nossas vidinhas de classe média. Antes tarde do que nunca, consola saber disso. Despertamos, sim. Mas, e daí? Atualmente para a direita, sobretudo a conservadora, o horizonte parece nebuloso. Para piorar, a nova direita brasileira que ressuscitou com força de uma tempestade parece caminhar para brisa numa tarde de verão. Mas há solução. A direita precisa se unir, precisa se educar e se fortalecer na política, precisa construir instituições fortes capazes de fazer frentes sólidas às investidas esquerdistas. Precisamos de políticos, intelectuais, artistas, educadores e empresários de direita; conservadores, enfim. Em suma, precisamos montar tijolo a tijolo os alicerces que nos permitirá ser uma verdadeira oposição  à esquerda no Brasil. 

    Neste sentido demos alguns passos mais promissores nos últimos anos. Impulsionada por pesos do conservadorismo como o professor Olavo de Carvalho e pela onda Bolsonarista, a nova direita, representada pela metade do povo brasileiro, fortemente influenciada pelo profundo sentimento Deus, pátria e família, assim como movida pela expressão de campanha de Bolsonaro “Deus acima de tudo, Brasil acima todos” a direita conservadora saiu da toca. Em pouco mais de 4 anos jornais alternativo como JCO e pessoas destemidas e inteligentes como Rodrigo Constantino, Carla Zambelli, Nicolás Ferreira, Augusto Nunes, Gustavo Gayer, só para mencionar alguns, se juntaram ao anseio de milhões de brasileiros que, igualmente insatisfeitos com a corrupção e injustiças,  clamavam por mudanças.  Este fenômeno fez com que um Brasil conservador nos costumes, se revelasse conservador na política, ainda que de maneira incipiente. Depois de quase quatro décadas adormecida, a direita está de pé novamente. Mas, quem vai liderar essa onda? 

     Ver-se muita gente se dizendo conservadores, mas quantos conhecem a fundo a tradição do conservadorismo? quantos são capazes de discernir sobre os seus princípios e conhecer suas origens e seu legado? Uma coisa é certa: atualmente poucas pessoas que se dizem conservadoras vão além do slogan Deus, pátria e família.  Isso é importante, pois revela um início e é inquestionável pelos seus objetivos, porém insuficientes para construir argumentos que permitam moldar uma cosmovisão conservadora com uma filosofia para chamar de sua. Neste sentido, me parece que um passo importante é estudar as obras dos grandes personagens e defensores das ideias conservadoras. Porém começar é o problema. Para saber navegar nesses mares é preciso ter uma visão geral. Muitos autores já delinearam em seus livros noções sobre conservadorismo, seus mais importantes pensadores e origens. É por isso que a leitura do livro O Guia Bibliográfico da Nova Direita é um passo fundamental para que se tenha uma visão abrangente do pensamento conservador.