Ayn Rand tem uma história de vida repleta de controvérsias. Para alguns, uma grande filósofa e escritora, para outros apenas uma boa escritora que teve a sorte de escrever dois romances num país, os Estados Unidos, que se encontrava, na época, em pleno combate ao comunismo e tudo o que ele representava, na verdade um verdadeiro empreendimento contra o coletivismo. Com efeito, a vida de Ayn Rand se confunde com as dos personagens principais dos seus romances, A Nascente e A Revolta de Atlas. Do mesmo modo, ela era o exemplo vivo da sua própria filosofia, o objetivismo. Porém uma coisa é certa, ela foi uma das mais ferrenhas defensoras do individualismo e do livre mercado. Uma mente poderosa que se opôs, com toda a sua capacidade intelectual, ao coletivismo. Muitos já escreveram sobre a Ayn Rand, mas quanto mais a estudam mais conclui-se que ela foi, neste sentido, uma visionária. Como ela mesma afirmara, a sua filosofia estava à frente da sua época. Com uma personalidade tão forte e atitudes polêmicas que foi Ayn Rand? O que é o objetivismo? Em seu livro Ayn Rand e os Devaneios do Coletivismo, o professor e político Dennys Garcia Xavier, reúne nesta obra as respostas às perguntas aqui feitas.
O autor reuniu no livro as pesquisas e opiniões de vários estudiosos da vida e obra de Ayn Rand. O livro traz a história da vida de Ayn Rand desde o início da sua infância vivendo sob o regime stalinista já se mostrava escritora. Muda-se para os Estados Unidos onde tenta uma carreira em Hollywood como roteirista, tem suas dificuldades iniciais para fazer alavancar as suas obras, até que finalmente ela alcança fama e dinheiro com o lançamento dos seus dois mais importantes romances, A Nascente e A Revolta de Atlas que contém a essência da sua filosofia, o objetivismo. Além disso, os autores contam alguns detalhes do seu casamento com Nathaniel Branden, seu marido por toda a vida, bem como o triângulo amoroso entre eles dois e um jovem rapaz admirador e aluno de Ayn Rand. Mas, o mais importante é a visão da filosofia de Ayn Rand que os autores descrevem no livro. Para quem se interessa pela vida e obra de Ayn Rand com um aprofundamento na sua filosofia, Ayn Rand e os Devaneios do Coletivismo é uma excelente início de estudos.
Em suas duas mais importantes obras os heróis e heroínas randianos representam o ideal da moral objetivista. São personagens determinados, focados em seus objetivos que não se perdem em ideias e atividades coletivistas. A primeira vista são egoístas, mas uma análise mais aprofundada no perfil dos personagem e no desdobramento das suas história podemos constatar que o egoísmo a que se refere Ayn Rand não é exatamente a ausência de reconhecimento de que o outro importa, mas a certeza que um grande empreendimento humano planta frutos que todos vão poder colher e, portanto, não de se falar em egoísmo em si mesmo. Do mesmo modo os personagens parecem ser movidos por um profundo individualismo de tal maneira que não se vê o mínimo de humanidade de Dagny Taggart (vice-presidente de operações da Taggart Transcontinental ou em Hank Rearden, o criador do metal rearden, pois eles demonstram não se importar com mais nada além de si e seus propósitos, ou seja, o mesmo individualismo encontrado na filosofia de Ayn Rand. O objetivismo de randiano ensina que os homens e mulheres randianos não se prestam a sentimentalismo baratos e que estes são movido por uma consciência superior a tal ponto de não se compadecerem de pequenos sofrimentos alheios, até porque essas pessoas que encarnam o espírito randiano são uma fortaleza moral a tal ponto de não compreenderem porque os outros se mostram tão fracos diante do sofrimento causado pela fortes determinação em alcançar os seus objetivos que, pois esperam que a dor seja só uma alavanca que impulsiona na direção desses objetivos. Por isso, para o objetivismo não existe sofrimento, não existe dor, só determinação e uma mente focada em objetivos. Como ensina a sua filosofia, o objetivismo, que inclusive é fornecido algumas fontes de estudo no próprio livro da autora, a exemplo do As virtudes do Egoísmo, a Ayn Rand tinha verdadeiro horror pelo Estado interventor. Isso fica muito claro em A Nascente e A Revolta de Atlas. Os seus heróis passam a maior parte das suas vidas lutando contra a tirania dos governos, burocratas e tecnocratas que tentam se apoderar da propriedade intelectual dos seus heróis.
Ao final o que temos dentro do pensamento randiano é que há duas realidades: a objetiva abraçada pela filosofia de Ayn Rand e a subjetiva, aquela que dominada pela dissonância cognitiva distorce a realidade de acordo com as suas próprias visões do que eles acreditam que sejam a realidade naquele momento. Tudo aquilo que é fruto da criação da imaginação é Realidade Subjetiva que tem origem nas experiências humanas quando ao vivenciar o ambiente em que se encontram, extrai reflexões preconceituosas, não no sentido de discriminação em si, mas uma ideia pré concebida sob a qual cria-se uma realidade. Por outro lado, tomando como exemplo, uma pedra à nossa frente é uma Realidade Subjetiva. Independente da cultura, crenças e valores do indivíduo, pedra é pedra, pois mesmo quando é atribuída a ela, por questões culturais ou religiosas algum significado mítico, não passa de um aglomerado de material mineral, ou seja, é de total natureza orgânica. Essa é a sua natureza objetiva. Não se pode confundir as duas noções. Duas pessoas não podem ter ideias diferentes sobre a existência de uma pedra. Se um realista objetivista diz que uma pedra é uma pedra e um realista subjetivista diz que não é uma pedra e sim uma esponja, não há o que fazer a não ser convidar este último para desferir um belo chute com toda força na “esponja”. Em solidariedade ao seu Estado final após o chute, podemos consolá-lo com “ora, não foi nada, afinal não é dor o que você está sentindo, mas vibrações cósmicas orgásmicas”. Quando trazida para o entendimento mais concreto, podemos refletir sobre a extirpação de clitóris nas mulheres em algumas tribos africanas. Neste caso específico o resultado é curioso. É fato que tanto para os praticantes de tal costume quanto para aqueles que observam com horror não se pode negar que a realidade objetiva é que causa dor, sofrimento e mutila física e psicologicamente. Esses atributos são físicos e não subjetivos. Portanto, a dor e a mutilação são elementos de uma realidade objetiva que levam ao sofrimento físico e psicológico. Entretanto, quando visto pelo ponto de vista de uma realidade subjetiva, a dor e a deformação são superadas por crenças e valores culturais. Mas isso muda algo? Depende. Ainda assim, continuamos no universos de pontos de vista diferentes.
Evidente que são visões diferentes da realidade. Mas diante das reflexões até aqui feitas, podemos argumentar que há uma realidade imutável, aquela regida pela natureza, que pode ser comprovada pelos sentidos e experiências. Há, de outro modo, uma realidade flexível, mutável, criada pela imaginação diante dos valores culturais e religiosos de um povo. Sendo assim, a questão que nasce nesse sentido pode ser assim colocada: é possível convergir ambas para uma só realidade? Não parece que seja possível juntá-las em uma só realidade. Isto porque ambas vivem em universos diferentes e inconciliáveis embora elas se realizem na prática conjuntamente. Tudo isso está bem determinado nos fundamentos do objetivismo de Ayn Rand.