Todos os indivíduos compartilham, em certa medida, uma propensão filosófica, manifestada pelo questionamento inquisitivo quando confrontados com a ausência de respostas definitivas. O filósofo, longe de silenciar diante dos enigmas que permeiam o mundo, abstém-se de desvendá-los, atribuindo tal incumbência à esfera científica. Em contraste, sua inquirição diante de um mistério reside na busca pela compreensão do porquê de sua existência.
Karl Jasper, renomado filósofo do existencialismo alemão, amplamente reconhecido por sua prolífica produção filosófica, especialmente em sua obra significativa intitulada “Caminhos para a Sabedoria”, oferece uma perspicaz explanação sobre a disciplina filosófica. Esta obra, considerada introdutória à vida filosófica, apresenta de maneira eloquente o pensamento filosófico, delineando suas origens, correntes e desenvolvimentos. No cerne desse trabalho, Jasper proporciona uma valiosa contribuição à compreensão dos fundamentos e postulados da filosofia.
De acordo com Jasper, o filósofo é movido por uma intensa curiosidade: “Filosofia significa: estar a caminho. Suas perguntas são mais essenciais do que suas respostas, e cada resposta se transforma em uma nova pergunta”.
O autor postula que a essência filosófica reside no assombro, impulsionando o indivíduo em direção ao conhecimento. Nos dizeres de Jasper, “espantar- se impulsiona para o conhecimento. Ao espantar-me, tenho consciência de meu não conhecimento. Busco o conhecimento, mas apenas pelo conhecimento em si, e não para uma utilidade comum qualquer. Depois do espanto e da dúvida, trazer à consciência essas situações limítrofes é a origem mais profunda da Filosofia“.
Nota-se que na concepção de Jasper sobre a relação do filósofo com Deus, emana a ideia de que a curiosidade, que caracteriza o pensar filosófico, não leva o filósofo ao conhecimento absoluto sobre si. Filosofar é uma maneira do homem se conhecer como uma criação de Deus: “É só no olhar para Deus que o homem cresce, em vez de esvaziar- se sem represamento, desembocando na nulidade do mero acontecer da vida”.
“Falar sobre o que é a Filosofia e sobre qual o seu valor é algo controverso. Dela esperamos esclarecimentos extraordinários, ou então a deixamos de lado, indiferentes, como pensamento sem objeto. Olhamos para ela com timidez, como o esforço importante de pessoas incomuns, ou então a desprezamos como elucubrações supérfluas de sonhadores. Consideramos a Filosofia como algo que diz respeito a todos e que, por isso, no fundo, deveria ser simples e compreensível, ou então a julgamos tão difícil que seria inútil nos ocuparmos dela. Aquilo que surge sob o nome de Filosofia, de fato, fornece exemplos de avaliações tão díspares”.
“A Filosofia é o que concentra, aquilo que faz a pessoa ser ela mesma, na medida em que faz parte da realidade”.
“Os três motivos eficazes– o espanto e o conhecimento, a dúvida e a certeza, o estar perdido e o tornar- se Si mesmo [Selbstwerden]– não esgotam o que nos move no filosofar presente”.
“É só na comunicação que se atinge o propósito da Filosofia, em que afinal se fundamenta o sentido de todos os propósitos: a percepção interior do Ser, a iluminação do amor, o aperfeiçoamento da quietude”.
“Se uma vida no mundo, mesmo sob a suposta condução de Deus, tentou o melhor e, no entanto, fracassou, permanece esta única realidade imensa: Deus é”.
“Nós, humanos, nunca somos suficientemente nós mesmos. Sempre insistimos em superarmos a nós mesmos e crescemos mesmo com a profundidade de nossa consciência de Deus, pela qual ao mesmo tempo nos tornamos transparentes para nós mesmos em nossa nulidade”.
“Conhecendo os limites do conhecimento, confiamos com clareza ainda maior na liderança, que encontramos para a nossa liberdade por meio da própria liberdade, quando relacionada a Deus”.
“Entendemos melhor aquilo que experimentamos no presente através do espelho da história”.
“É só no olhar para Deus que o homem cresce, em vez de esvaziar- se sem represamento, desembocando na nulidade do mero acontecer da vida”.
“Se a nossa vida não quiser se perder em distrações, ela precisa se encontrar em uma determinada ordem. No cotidiano, ela precisa do suporte de um Englobante, ganhar coesão na construção de trabalho, realização e momentos culminantes, e aprofundar- se na repetição. Então, a vida será perpassada ainda no trabalho de um fazer sempre igual por uma atmosfera que sabe estar atrelada a um sentido”.
“Filosofar é escolher o despertar da fonte original, encontrar o caminho de volta para nós mesmos, em busca do auxílio que vem da própria interioridade”.
“E levar uma vida filosófica significa também encarar com seriedade nossa experiência humana, de felicidade e tristeza, de sucesso e fracasso, de obscuridade e confusão”.
“O que as religiões executam no culto e na oração tem um análogo filosófico no aprofundamento expresso, na introspecção em si para o próprio Ser”.
“Por isso, a Filosofia exige o seguinte: buscar a comunicação constantemente, ousá- la sem barreiras, entregar- se à minha birrenta autoafirmação que sempre se insinua em disfarces sempre diferentes, viver na esperança de que me serei dado novamente de presente de modo imponderável a partir da entrega”.
“Por isso, preciso permanecer em dúvida constantemente, não posso me tornar seguro, nem me segurar em um ponto supostamente firme dentro de mim, que me ilumine de forma confiável e me julgue de forma verdadeira. Essa certeza de si é a maneira mais sedutora da autoafirmação inverídica”.
“Se o filosofar for aprender a morrer, então esse saber morrer é justamente a condição para a vida correta. Aprender a viver e saber morrer são a mesma coisa”.