Vivemos tempos difíceis, onde as asas da liberdade estão ameaçadas de se fecharem sobre o Brasil. O sol que outrora brilhara fulgurosamente sobre nós não passa em nossos dias de crepúsculos que pairam sobre a nossa amada pátria.
Com essa reflexão solene, porém melancólica, constato uma escuridão que avança sobre os filhos deste solo gentil. O mais importante valor da humanidade, a liberdade, encontra-se desprezado em nossa terra como jamais foi visto na história do nosso povo.
Divagando nessas conjecturas, resolvi revisitar um clássico sobre a liberdade. Em epígrafe, a obra do renomeado pensador francês Benjamin Constant, “A Liberdade dos Antigos comparada à liberdade dos Modernos”, que apresenta uma palestra proferida por ele em 1819.
Tal obra, versa em termos comparativos a distinção entre a liberdade dos antigos, caracterizada pela participação direta do povo na vida pública, e a liberdade dos modernos que se configura pela garantia dos direitos individuais.
Segundo Benjamin Constant, excetuando-se Atena, na antiguidade grega e romana o valor do indivíduo residia na sua unidade formadora da comunidade que detinha o poder de julgar e decidir os assuntos do Estado.
Não obstante, na modernidade, argumenta o ilustre pensador, a liberdade é o fundamento da democracia, concedendo ao indivíduo o poder de exigir do Estado, por meio do contrato social, a liberdade de expressão, direito a propriedade, direito de cultos e de associações.
A palestra do renomado autor, que mergulha profundamente sobre a temática da liberdade, nos leva a questionar como estamos perdendo um bem tão essencial, a ponto de ecoar dúvidas em outras nações sobre que tipo de democracia cultivamos no Brasil.
Por que nos permitimos ser escravizados por aqueles a quem concedemos poder por meio do escrutínio? Por que consentimos que nossos governantes nos espoliem enquanto observamos passivamente a perda da nossa liberdade? Quando aprenderemos a não trocar a nossa liberdade pela submissão à vontade daquele a quem confiamos a responsabilidade de zelar por nossos interesses?
Eles existem porque assim o permitimos. Eles têm poder porque nós o concedemos. Eles governam porque os elegemos. Então, por que nos curvamos aos seus caprichos? Aqueles que dão têm o poder de retirar, e nós detemos esse poder.
Portanto, unamo-nos contra aqueles que nos oprimem. Rebelamo-nos contra os ditames dos que governam para os seus próprios interesses, ignorando aqueles que os colocaram no poder através do voto. A passividade não nos levará a lugar algum. Divisão, menos ainda. Só eles se beneficiam da nossa inercia. Enquanto nos digladiamos, eles se fortalecem.
Ao renunciar a nossa liberdade, de nossos direitos, ao nos calarmos diante daqueles que tentam silenciar nosso grito por liberdade, entregamos as nossas vidas aos abutres insaciáveis que se alimentam de nossos corpos carcomidos pela ganância e sede de poder dos nossos opressores.
Ensina-nos o consagrado autor que sendo a liberdade o maior bem do indivíduo convém dedicarmos uma boa parcela do nosso tempo na busca da sua ampla compreensão para que embasado na sabedoria dela extraída tenhamos suas asas abertas sobre nós. Só podemos conquistar a liberdade individual se tivermos liberdade política. Eis as sábias palavras do ilustre pensador:
“A liberdade individual, repito-o; eis aí a verdadeira liberdade moderna. A liberdade política é a garantia da primeira; por consequência, a liberdade política é indispensável. Mas exigir dos povos de nosso tempo que sacrifiquem, como os de outrora, a totalidade de sua liberdade individual em prol da liberdade política é o meio mais seguro de separá-lo da primeira de modo que, tão logo isso seja feito, a segunda também não tardaria a ser-lhes arrebatada.”
Portanto, tenhamos a plena consciência do nosso papel como cidadão e façamos valer por meio do voto a nossa vontade, pois como nos alerta Constant:
“O sistema representativo é uma procuração dada a um certo número de homens pela massa do povo que quer que seus interesses sejam defendidos e que, entretanto, não têm tempo de defendê-los por sua própria parte.”
Mas, se não entendemos os mecanismos criados por aqueles que concedemos a honra de defender os nossos interesses, seremos ludibriados.
“O perigo da liberdade antiga era que, atentos unicamente a assegurar-se de sua parte no poder social, os homens não fizessem bom negócio dos direitos e dos gozos individuais.”
“O perigo da liberdade moderna é que, absorvidos no gozo de nosso independência privada, e na busca dos nossos interesses particulares, renunciemos demasiado facilmente ao nosso direito de participar do poder político.”
Parafraseando Platão, “quem não gosta de política, está condenado a viver à sombra do seu império”.
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